CAPÍTULO CINCO

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Ao adentrar na sala, meu velho e bom avô estava aos papos com a cozinheira que o servia. O velho se achava um garotão, e graças a ele tive o resto de amor que minha mãe levou com ela.

- Olhe só, eu vi Verônica sair daqui! - meu avo não gostava da mesma, ele a achava estranha, reclamava de suas atitudes com os serviçais. - Porque não arranja uma mulher... Como posso dizer... melhor de caráter?

O abracei e logo sentamos a mesa.

- Vovô, não pode julgar as pessoas assim! - levei uma gafada à boca. - Imagine se Verônica fosse minha esposa?

- Oh, Deus, não me fale uma coisa dessas. - revirou os olhos. - Não suportaria a ver tratando suas cozinheiras mal!

Ele realmente gosta das pessoas daqui, não as trato mal. E são todas pessoas humildes, porém, que servem a máfia. Não podem morar em outro lugar por conta do trato que assinam após conseguir o emprego. Suas famílias vivem no cuidado da máfia. E há casos de traição dos serviçais nas famílias. O resultado nunca é bom. Assim como foi no meu!

- Me diga. Como está indo a empresa? - perguntou animado.

- O de sempre, dinheiro e mais dinheiro. Fechei um acordo com o trafico de fora, na Índia. - o encarei. - Fiquei sabendo que a Máfia italiana sofreu um roubo.

- Sim, foi horrível, lamentável! - falou. - Foram famílias ricas como as nossas. Eles fizeram um grande desvio sabe, e pelo o que eu sei, algumas pessoas daqui estavam envolvidas. Os italianos são bem discretos e perigosos... Deve ter sido difícil para ele descobrir quem era a família.

- Que estranho, eles eram daqui? - indaguei curioso. - O que eles faziam aqui?

Meu avo empurrou o prato mostrando que acabara e logo limpou a boca.

- Parece que tem algo precioso da Máfia Italiana aqui! - ele disse. - Isso é só o que eu sei!

- Aqui no Brasil? - franzi o cenho. - Que coisa!

- É, e o pessoal que estava aqui sumiu. - disse. - Eles conseguiram escapar deixando tudo para trais. Há boatos de que existe uma pessoa que possa encontrar tal coisa, e são coisas ligadas a Máfia Italiana, coisas que podem destruir eles.

- Certificando-me, temos contratos ou algo do tipo com eles? - já escaldado perguntei.

- Não, não temos. Que eu saiba não temos mais. Apenas o de acordo de paz. Não existe nenhum outro envolvimento com eles. - assegurou. - Pode ficar calmo, somos cuidadosos Hector. Se algo acontecer com eles, tenho certeza de que darão um jeito nisso. Ah, e aconselho que fique bem longe deles, somos do mesmo ramo, perigosos e tudo mais. Porém, caso eles se aproximem para algo, afasta-se. Eles são traiçoeiros. Quase igual à Yakuza.

- Relaxe meu velho, eu posso ser muito pior que eles. - sorri ladino. - Você sabe disso.

-É, disso eu não posso duvidar! - ele riu.

Conversamos a noite toda, fiz questão dele dormir aqui, mas o velho quis ir embora, e ainda se despediu dos serviçais. Tomei um banho demorado, e novamente, meus pensamentos foram diretos na morena. Fiquei tentado a contar ao meu avo sobre ela, mas sei que ele ia fazer um alarde para conhecer a mulher que mexeu comigo. Com certeza tentaria nos juntar e tudo mais. Não teria coragem de levar Melinda comigo para esse mundo obscuro. Mentiria para ela, até chegar um dia de que a mesma não me perdoaria por isso. Eu a perderia sem ao menos ter ela comigo.

)(


- Avisei que viria! - meus olhos pegavam fogo de raiva. - Por que diabo insistiu nessa merda Lucca?

O garoto, não muito mais novo que eu, estava preso a uma corda em um gancho grande. A cada bordoada minha era um eco pelo galpão. Nesses momentos, eu me esquecia de quem era, do que era, ou do que podia fazer. Transformava-me, como na ultima vez em que dizimei um grupo inteiro. Há quatro anos atrás.

Diego estava perdido, e pedia a Deus que não matasse a sua linda mulher. Ele trabalhava para meu pai, e foi acusado de traição, nada foi discutido no conselho. Se não fosse pela sua falta de consideração e fidelidade conosco, ele ainda estaria aqui. Diego Marcone implorava, nos primeiros momentos, disse que não fez nada. E implorou mais ainda quando mirei minha arma em sua mulher ajoelhada a minha frente, amarrada com as mãos para trais. Um dos homens do meu pai a estuprou em sua frente, não pude fazer nada, não pude impedir. Não gostava desse ato, ainda existia um pouco de humanidade em mim, pouco, mas existia. Eu não era monstruoso a esse ponto. Para terminar seu sofrimento e proteger minha família, eu matei todos que era ligado a ele. E que tenho certeza, era ligado com toda merda que ele fazia.

Essa foi a ultima vez que fiz isso. Sem pena, nem piedade.

- Vamos lá Lucca! - ele cuspiu sangue, o rosto todo deformado. - Me diga, onde está o resto da carga que disse para trazer?

- Filho da puta! - ele gritou. - Sabe... de uma coisa Hector?

- Ainda está nas condições de falar? - soquei sua barriga fazendo o mesmo cuspir novamente. - Continue desgraçado!

- Pode... Pode me matar, eu, eu não tenho ninguém, seu... Querido pai fez questão de tirar... todos de mim. - as historias sobre meu pai eram as piores. Não me submetia ter orgulho de toda a porcaria que ele fez. - Pelo menos... Fiz um estrago na merda da tua carga. Toda no rio Amazonas, seu... Otário! E eu... Eu fiz pouco!

A raiva me tomou novamente. Soquei seu rosto, como se não fosse o bastante, quebrei seus braços.

- Luiz. - ergui minha mão, ele sabia o que eu queria.

Sentir o frio do objeto tocar a palma da minha mão, me dando mais poder. Poder que só o homem tem quando esta com algo fatal sobre seu domínio.

- Pagara com a tua vida seu filho da puta! - mirei em sua testa. - Algo mais a dizer?

Ele riu entre as dores.

- Quando perder algo... Precioso, co... com certeza enfrentará até, até o diabo para se vingar! - a bala atravessou o espaço entre seus olhos.

Se ele soubesse que até hoje tenho vontade de acabar com meu tormento por conta de perder alguém, ele não diria isso.

Voltei para casa naquela noite, bêbado, e acabado. Mas algo estava estranho. O cheiro de rosas estava em todo lugar. Eu estava tão mal, que só cheguei e me joguei na cama. Só que parecia que tinha uma mão me ajudando, me empurrando. Tânia com certeza me viu chegando e me ajudou a subir.

Abri meus olhos tentando me acostumar com a luz que vinha da grande janela. Quando consegui, rapidamente me pus sentando estudando o quarto. Tudo muito claro, flores para todo o canto, cheiro de rosas e incenso. Esfreguei os olhos, e logo uma dor de cabeça me atingiu. Estava tentando lembrar como fui parar nesse quarto. Olhei para minhas roupas e dei falta da camisa e calça que estava ontem à noite, eu estava só de... Cueca? O que aconteceu comigo?

A porta de madeira, onde havia flores e cordões estranhos pendurados foi aberta. Revelando a dona dos olhos cor de Marte.

Mas que porra...? Era um sonho?











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DA COR DE MARTEOnde histórias criam vida. Descubra agora