CAPÍTULO VINTE SEIS.

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Todos deixavam o cemitério, chorosos, magoados, incrédulos. Eu apenas observava tudo deixando o buraco que crescia cada vez mais em meu peito me engolir. Meu avô não tinha culpa das escolhas que eu fazia. Ele não merecia esse fim.

– Não imaginei que iriam tão longe assim. – Raphael disse encarando o tumulo a nossa frente, seus olhos vermelhos exilavam raiva. – Nós podíamos ter feito mais com aquele desgraçado.

Eu não conseguia dizer uma palavra se quer. Agora eu só tinha Raphael, tínhamos só um ao outro. Tentar digerir tudo que estava acontecendo era tão difícil e doloroso que eu não conseguia fazer nada. Deixei tudo nas mãos de Raphael.

E ele como sempre, executando tudo com agilidade.

Antes de sairmos do cemitério estranhei algo, os Perluz não estavam presentes. Nem a safada da Verônica, é claro, ela não ousaria. A família de Wendell prestou-me pêsames, eles realmente não sabiam o quanto o filho era ambicioso e mal intencionado.

Eu caminhava de volta para o carro ignorando o restante das pessoas que falavam comigo. Só queria ficar sozinho.

– Sinto muito por tudo isso meu caro. – o sotaque do homem me fez olha-lo, barba por fazer, cabelos grisalhos e uma bengala em mãos. Agora, estudando bem seu rosto a semelhança denunciava, Melinda tinha todos os traços do pai. Exceto os olhos castanhos escuros.

Eu não dizia nada, apenas o encarava, poderia descontar todo o meu ódio nesse maldito. O maldito que deixou Melinda passar o que passou. Mas não era uma grande ideia, seria suicídio, o inicio de uma guerra.

– Agradeço. – respondi a ele.

– Somos aliados em algumas ações. – ele prosseguiu. – Caso esteja precisando...

– Eu não estou. – fechei os olhos por breves segundos. – Agradeço novamente.

– Entendo. – seus olhos me estudaram. – Seu avô foi um grande homem. Vejo que o neto está indo para o mesmo caminho.

– Você acha? – indaguei dando um passo a sua frente, mas Raphael interviu pondo-se ao meu lado.

– Marco. – ele acenou. – Agradeço a consideração.

Marco me fitou novamente, acenou para Raphael e saiu junto aos seus capangas.

– Cacete!! – meu primo respirou fundo encarando-me logo em seguida. – Por um momento achei que iria fazer algo com ele.

– Continuo achando que devo fazer alguma coisa. – resmunguei, observando Marco entrar em seu carro.

– Qual é a porra do seu problema? – ele perguntou. – Tá querendo perder a merda da cabeça por causa de quê? Só que porque ele largou sua garota por ai?

– Já é motivo suficiente! – falei me retirando.

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– Inacreditável! – Raphael disse ao meu lado. – Não é que eles realmente eram um bando de filhos da puta.

– É, acho que essa merda toda subiu pra cabeça, obsessão dos infernos. – caminhei em direção ao grupo ajoelhado a minha frente. – Muito bem...

Os olhos da mulher loira encheram-se de lagrimas. Desespero cobria sua expressão.

– Dei muito tempo a vocês para me dizerem onde ela está. – rodeei as três pessoas que tremiam sobre minha presença. – Já se passaram dois meses e ainda estão de enrolação? Não sei se posso esperar mais.

– Eu te peço, por favor, Capo, nos der mais um a chance, não temos nada a haver com o que aquela vadia fez. – a mulher gritou, ela chorava descontroladamente. –

– Não fale assim da nossa filha. – o homem gritou e voltou a me encarar, frio e desafiador. – Mesmo que eu soubesse onde está Veronica, não diria nada a você, seu desgraçado.

Sorri para ele e fui a sua direção.

– Parece que você me culpa pelas merdas que sua adorável filha fez. – me abaixei a sua frente. – Fique tranquilo, eu não tenho culpa se ela adorava sentar no meu pau.

Puxei a arma do meu cos ficando de pé, sorri novamente para ele atirando no meio de seus olhos.

– Perdeu a grande chance de ficar calado Renato Perluz. – encarei o braço direito da família de Verônica que estava ajoelhado ao lado da mãe dela. – E então... Decidiram se vão abrir o bico?

Ela o encarou e começou a gritar. Revirei os olhos para sua cena desnecessária atirando logo em seguida no seu peito. Mais um corpo tombado.

– E ai, a bola da vez fica contigo. – me aproximei do homem que mantinha os olhos fixados para o nada. Ele provavelmente está esperando o mesmo destino. – Podemos fazer um acordo...

– Não falarei nada. – disse ríspido. – Fui treinado para aceitar qualquer coisa, apenas faça.

– É mesmo? – acenei para Raphael que trazia um envelope em mãos. – Vamos ver aqui, quem é esse mesmo?

Tirei as fotos de dentro do envelope mostrando a ele seu filho correndo pelo gramado. O menino realmente parecia com ele.

– Soube que fez ótimas fotos da minha mulher. – eu andava de um lado para o outro, analisando as fotos. – Aliais, parabéns pelo filho, é um garoto muito inteligente.

Ele mexeu-se incomodado, olhos carregados de fúria.

– Meu filho não! – gritou. – Eu digo tudo o que quiser só o deixe em paz.

– Ah, agora estamos conversando. – me aproximei dele. – Me diga tudo, te dou minha palavra que será bem recompensado.

Sorri para ele.

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 Saindo do carro caminhei a passos lentos até a entrada da loja. O antiquário estava aberto como todas as vezes que passei aqui, eu não saia do carro apenas observava se ela estaria regando as rosas, mas nunca a via. Jenny disse que Melinda não falava mais com ela, que não a viu depois do ocorrido. Dexter sumiu da empresa, seus pais dizem que ele saiu de férias. Sei que fugiu, ele tem muito para me explicar. Assim que entrei Luiz estava no balcão, fazendo anotações em um pequeno caderno.

– O que faz aqui? – perguntei surpreso e muito puto.

Ele não se surpreendeu, apenas revirou os olhos e veio ao meu encontro cruzando os braços.

– Que merda é essa? Onde ela está? – caminhei furiosamente para entrada dos fundos.

– Melinda não mora mais aqui. – petrifiquei no mesmo instante. A frase se repetia como um alarme irritante em minha cabeça. – Ela se foi tem quase um mês.

– Não! – sussurrei me virando para ele. – Filho da puta, que tipo de pegadinha é essa?

Ele ergueu os ombros e voltou para o balcão passando por mim. De lá tirou um envelope vermelho e me entregou.

– Imaginei que iria aparecer, ela deixou isso aqui. – ele pigarreou. – Se quiser subir e ver com seus próprios olhos...

Corri para o andar de cima, convencendo a mim mesmo de que era apenas um pesadelo, que eu ia acordar pegar o carro e ir atrás dela, que Melinda estava lá, a minha espera. Mas quando cheguei à cozinha e vi tudo vazio, um choque de realidade me atingiu com pesar. Corri todos os cômodos que estavam vazios, nem seu cheiro habitava mais aquele lugar; tudo que falava dela havia sumido, assim como ela.

Melinda se foi. 













Deixem sua estrelinha, né bbs?!✨

DA COR DE MARTEOnde histórias criam vida. Descubra agora