4. Um dia ruim

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Em breve Pedro chegaria e iria questionar quem era o jovem sentado no sofá tomando chá. A jovem hiena listrada, que já não se pode ser considerada tão jovem assim, com seus trinta e dois anos de idade, trabalhava no setor de administração de uma indústria que ficava localizada no bairro de Caio. Será que o lobinho sabia disso? Provavelmente não.

Caio tomou o chá devagar, contudo, tomou um copo atrás do outro até que a garrafa ficasse vazia. Jojo ficou sentado ao lado do lobinho, observando-o. O que faria com ele? Temia que a polícia batesse em sua porta e suspeitasse de sequestro. Não! Não chegaria a tanto, pensou.

— O que aconteceu, rapaz? — questionou o panda vermelho. — Precisa falar comigo se quiser que eu ajude. Caso contrário... — precisaria ele mesmo chamar a polícia para levar o lobinho de volta para casa.

Caio olhou para Jojo com seus olhos fundos. As olheiras do choro deixando os olhos mais destacados.

— Eu não... — as palavras mal conseguiam sair de sua boca. Era difícil, muito difícil. Ele não queria falar, mas precisava.

— Uma palavrinha de cada vez, tudo bem? — Jojo pegou a garrafa vazia de chá e tornou para a cozinha. Retornou minutos depois com a garrafa cheia de novo. — Aqui, beba mais — despejou um pouco mais de chá na xícara que o lobinho segurava.

Caio soprava a xícara, a abaixava por um momento e depois tornava a sopra-la, como num rito, até que o líquido estivesse morno e pudesse ser bebido. Mesmo depois de alguns copos de chá, ele ainda não havia criado coragem para falar uma palavra sequer. Tinha medo de que o panda vermelho chamasse a polícia e fosse levado de volta pra casa.

— Por favor... não... — não conseguia completar uma frase.

— Não o quê? — Jojo tinha ideia do que o lobinho queria, mas precisava que o mesmo expressasse isso com mais clareza para não haver entendimentos subjetivos. Não iria tomar uma atitude que não tivesse certeza.

— Casa... eu não...

— Quer voltar para casa? — Jojo sabia que o lobinho não queria, contudo, precisava de uma resposta concreta. Contradições acontecem quando meias palavras são ditas e isso era perigoso. Para tanto, perguntas simples para ter respostas simples, ao mesmo tempo, claras.

— Não! — exclamou. — Não! — o lobinho balançava a cabeça em negação e moveu mais rápido.

— Está bem, está bem — falou antes que a situação saísse do controle e precisasse exercer a força para conter o lobinho de novo. — Eu só não quero problemas em minha casa, está bem? — explicou o panda vermelho.

Jojo queria estar sem camisa, deixar o corpo nu sentir o ar, mas não sentia-se confortável com um lobinho em sua casa. E também, a situação não estava muito favorável para isso. O lobo era bem jovem, com idade para ser filho do panda vermelho, mesmo que já estivesse batendo na porta dos vinte anos.

O panda vermelho divagou por tempo demais em seus pensamentos e, quando voltou para o momento, percebeu que o lobo o estava abraçando. A xícara que o lobo segurava estava agora sobre a cadeira. Jojo o abraço de volta, acalentando-o. Se Pedro visse a cena, saberia que não se trata de uma traição, afinal, eles se amavam mutuamente e eram incapazes de sentir ciúmes um do outro. Até porque não havia por quem mais eles pudessem se interessar a não ser um no outro.

Sentiu que o lobinho não tinha forças. Estava cansado. Os olhos se fecharam e a respiração ficou regular, lenta. Jojo pegou-o no colo e o levou para a cama, deitando-o sobre ela. Ligou o ventilador para refrescar o ambiente enquanto o lobinho estivesse descansando.

A essa hora, Jojo estaria saindo da aula com as provas dos alunos em sua pasta... Provas! Aproveitaria esse momento de calmaria para corrigir as provas dos alunos. Não levaria muito tempo. Depois de um tempo como professor, já se sabe mais ou menos qual a resposta que o aluno aplicou nas questões, não havendo necessidade de ler o texto completo, e assim podendo dar a nota.

O que fazer com essa tal LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora