2. Em casa

480 44 5
                                    

Pedro voltou para sua casa, perguntando-se se o lobinho teria voltado mesmo para casa ou se teria se jogado na frente do caminhão. Depois da bronca que levou da hiena, provavelmente não tentaria nada por hoje. Assim ele esperava.

Em frente ao portão de sua casa, ele apertou o botão do aparelho que ficava fixado na aba solar da cabine, fazendo com que o portão erguesse e ele pudesse adentrar na garagem com a caminhonete. Pressionou o botão novamente e o portão abaixou-se.

Saindo da caminhonete, foi direto para o tanque da varada, onde tirou os sapatos e os lavou antes de entrar em casa. Deixou os sapatos atrás da geladeira para secarem assim que o motor esquentasse o metal que ficava atrás do eletrodoméstico.

O seu namorado ainda não havia chegado. Ele chegaria em breve.

Pedro encaminhou-se para o banheiro, tirando suas roupas no processo até estar completamente despido. Segurou todas as roupas que despiu até chegar ao banheiro, onde as jogou no cesto de roupas sujas. A água estava fria, ótima para o clima quente do dia.

Enquanto a água caía sobre o seu corpo, encharcando todo o seu pelo, ele refletiu sobre o menino que deu carona hoje. Será que o lobinho estaria refletindo sobre suas ações? O menino não sabia, ou talvez não quisesse aceitar, que o que estava querendo não ia acabar com seu sofrimento. O pensamento inicial é a atração, ao mesmo tempo em que há uma negação da palavra. No começo, ninguém aceita que está pensando em fazer o ato. Apenas sente atração por ele. Depois, o pensamento de alívio ao faze-lo vai preenchendo a mente com falsas promessas, seduzindo-a, até que pensar no ato já se torna mais aceitável e o próximo passo é o de executa-lo. E todos os objetos assustadores se tornam sedutores e o ato já parece mais palpável. Por onde seguir? O ato faz uma promessa vazia, seduzindo com a mentira do alívio, iludindo com o conforto que isso pode trazer depois. Mas não há um depois, pensou Pedro. Ele tinha suas próprias crenças e definições acerca do pós-vida. Contudo, o ato é como pular do abismo acreditando que há um colchão ou um rio de água te esperando no fundo. O que há no fundo é um série de pedras pontiagudas esperando para lhe despedaçar assim que seu corpo as atingisse. Era isso que falava para seus pacientes — ou quem quer que fosse vir a ser seu paciente.

Ouviu a porta abrir e os passos pesados de seu amor entrarem na sala. Ouviu a voz dele informando-o que entrou em casa e depois seguindo para a cozinha para verificar o que precisaria ser feito no jantar. Mas ainda estava um pouco cedo para o jantar.

A hiena se questionou se não havia passado tempo demais no chuveiro. Era hora de girar a manivela na parede e cessar a saída de água do chuveiro logo acima de sua cabeça.

Pegou a toalha que estava pendurada atrás da porta, dentro do banheiro, e retirou o excesso de água em seu pelo. Refletindo se o lobinho havia escutado o que dissera. Os preconceitos do menino poderiam ser quebrados posteriormente. O que necessitava de mais atenção por agora era a sua tristeza excessiva que se transformou em um estado depressivo guiando para o ato de forma inconsciente e que nem ele mesmo sabia. Mas Pedro sabia, havia estudado isso quando cursou psicologia.

Como era seu amor que estava em casa, então não havia problema em ficar nu. Pelo menos até entrar no quarto e vestir seu short de ficar em casa. Adorava usar aquele short e não precisar usar cueca. Era gostoso sentir o membro balançando dentro do short. Mais gostoso ainda estar com seu amor em casa e realizar o outro ato com ele. Gostava de senti-lo. De sentir o corpo dele pressionado ao seu, de sentir aquele peito, aquela barriga, aquela boca... e todas essas sensações deliciosas só podem ser sentidas quando se está vivo.

Vestiu o short enquanto seu amor entrou no banheiro para tomar banho. Ainda não estava com fome, mas assim que sentisse o cheiro de comida sua barriga iria roncar. Pegou um pacote de bolacha de água e sal do armário e comeu algumas apenas para ter o que mastigar e distrair a barriga. Mas sua mente voltou ao lobinho. Não era seu dever cuidar dele. Não tinha obrigação nenhuma, contudo, depois de ter parado o carro e dado carona ao rapaz, parecia errado não falar nada a ele. Tinha que incentiva-lo a continuar vivo, mesmo que só conseguisse falar isso uma ou duas vezes a ele.

O que fazer com essa tal LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora