Retorno

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Carmen

- Quantas saudades, meu filho! Sentiu falta da mamãe? – Isabel pegou o menino no colo e ele se agarrou em seu pescoço, o amor dos dois continuava imenso e forte e meu coração sorriu com aquela cena, mas a verdade é que eu estava completamente aflita, só conseguia pensar em qual seria a sua reação.

Senti Lucília me encarar e nos cumprimentamos brevemente com um aceno, mas no fundo eu sabia que ela tinha muito a me dizer, mas não sei se queria ouvir.

Marta me sorriu aquele seu sorriso enigmático de sempre e me dei conta de quanta falta senti dela. De tudo aqui, na verdade, o ar puro, as pessoas, a tranquilidade, a Baronesa, nosso filho... Mas, principalmente, eu senti falta da felicidade, ela sempre foi presente aqui e era um sentimento que há meses eu desconhecia.

Olhei para a interação de Isabel e Rafael outra vez, ele brincava com a gola da camisa da mãe e balbuciava palavrinhas incompreensíveis. Eu me apaixonava por cada traço dele enquanto estava distraído.

- Olha quem a mamãe trouxe de volta para a casa... – Isabel se aproximou com ele e eu senti um frio na barriga, como se eu não soubesse mais o que fazer e de fato não sabia, mas o que eu mais temia era exatamente o que aconteceria a seguir.

- Rafael, diga oi para tua mãe... – Isabel tentou me entregar o bebê, mas ele se agarrou a ela e me olhou quase com medo. – Toma, pegue ele no colo, Carmen.

Eu sentia que era uma má ideia, mas a vontade de tê-lo em meus braços foi maior que o medo ou a sensação de que ele me rejeitaria, mas infelizmente foi exatamente o que aconteceu. Obviamente meu filho não fazia ideia de quem eu era.

Ele me olhou com os olhinhos assustados e cheios de lágrimas e logo chorou enquanto esperneava e pedia, aos berros, pela mãe.

- Rafael, pare de chorar... – Ele parecia quase em desespero e eu senti que choraria junto. Só queria abraçar e pedir perdão para ele por tudo que fiz, mas acho que já era tarde demais... – Fale um pouco com ele, meu amor.

- Hijo mío, soy tu madre... – Tentei dizer enquanto acariciava seu rosto e aqueles cachos tão perfeitos, mas ele chorava em desespero e eu simplesmente não sabia mais o que fazer.

- Isabel, não seria melhor tirá-lo do colo dela? – Lucília se aproximou cautelosa, não me desrespeitou, nem provocou nada, apenas se preocupou com a criança e ela estava coberta de razão... outra vez.

- Ela tem razão, Isabel. – Disse tentando disfarçar o nó em minha garganta. Deixei um beijo em sua testinha. – Melhor pegá-lo.

Entreguei Rafael para ela e o menino imediatamente se calou e deitou em seu ombro me olhando assustado e choroso. Olhar para aquela criança e ver o medo em seus olhos, talvez tenha sido uma das piores coisas que já aconteceram na minha vida e nessa hora eu senti que nunca deveria ter voltado e causado mais sofrimento.

Sorri triste e sem jeito para Isabel, deixei um carinho nas costas de Rafael e sai daquela varanda sem conseguir controlar o meu choro, era demais.

Corri para o quarto de Isabel e me tranquei nele. A dor que eu sentia dentro de mim era a mesma que senti todo aquele tempo na Inglaterra e naquele navio. Eu só queria desaparecer.

No fundo eu sabia que aquilo era normal, que ele era um bebê, que não se lembrava de mim, mas se acostumaria com o tempo. Mas é claro que esse pensamento era o último que eu, de fato, acreditava naquele momento.

- Carmen, abra a porta... – Isabel batia nervosa.

- ¡Déjame en paz!

Gritei chorando e minha vontade era de dizer que tudo aquilo era culpa dela, que devia ter me deixado bem longe daqui, mas, na verdade, a única pessoa que eu culpava era Otávio. Foi ele quem me deixou nesse inferno.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora