Hermanito

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CARMEN

Isabel chegou na minha casa em um daqueles dias em que eu pensava em desistir.

Durante meses eu imaginei que ela seria a minha salvação, que Rafael e Isabel me fariam sentir vontade de viver de novo, de ser feliz, me fariam sentir amada e com aquela sensação gostosa de que eu era capaz. Um sentimento que eu desconhecia há tempos.

Mas, ao contrário de tudo que imaginei, lá estava eu, novamente, encolhida em meu corpo, com a manta de Rafael em meus braços, Isabel tentando se aproximar de mim e aquela terrível sensação de tristeza dentro do meu peito me possuindo de uma maneira assustadora. Era como uma praga, me devorava.

Durante semanas, desde que a Baronesa chegou, eu me senti mais disposta e me arrisco a dizer que no dia em que fomos à ópera e ela me amou daquele maneira tão única, eu quase me senti viva. Mas hoje... nessa madrugada gelada do dia 16 de outubro de 1871, eu me sentia morta de novo.

Meu filho completou um ano às 5:38 da manhã e eu não estava lá e afastei Isabel dele. Rafael estava sem a mãe no seu primeiro ano de vida e era culpa minha. Assim como todas as outras coisas que fiz à ele e que nunca me perdoaria.

- Usted não deveria estar aqui, teu lugar é ao lado dele. – Disse chorando.

- Sim, Carmen. E ao teu lado também, por isso vim até aqui te buscar... – Ela me agarrou mais e eu me encolhi em seus braços. – Ir até o médico é um grande passo, querida. O melhor presente que podemos dar ao nosso pequeno.

- Yo estoy com medo. – Sussurrei contra seu peito.

- Não tenha, meu amor. – Beijou meus cabelos e me puxou mais para os seus braços, como se quisesse me curar de todo aquele sofrimento. – Vai ficar tudo bem...

Adormeci com o sol nascendo, foi quando finalmente consegui relaxar em seus braços e deixar o sono me levar.

- Amor... – Ouvi seu chamado em meu ouvido. – Carmen...

Ignorei, hoje era um daqueles dias que eu queria passar aqui, exatamente onde estava, encolhida nas cobertas.

- Sei que está acordada. – Beijou minha bochecha lentamente. – O dia está preguiçoso, o frio me dá vontade de deitar ao teu lado e passar a manhã inteira assim... Eu realmente não queria te acordar.

- Então deite aqui... – Resmunguei desanimada.

- Carmen... – Respondeu me repreendendo. – Vamos nos atrasar.

- Eu não quiero ir, Isabel...

- Tu me prometeu que daria esse passo por ele. – Desviei o olhar. – Hoje é um dia tão importante para nós...

Olhei para seus olhos negros e concordei sentindo que choraria outra vez. Ela tentou me beijar, mas virei o rosto e Isabel se contentou em deixar um beijo em minha testa.

- Te espero lá embaixo. – Apenas concordei e assim que ela saiu do quarto levantei com muito custo daquela cama.

Sinto, dentro de mim, que todo o progresso que tivemos nas semanas que passaram, foram perdidos em um único dia. Aqui, dentro da carruagem, a caminho deste tal médico eu me sentia vazia de novo.

A presença de Isabel me sufocava, eu a queria exatamente onde estava, mas preferia que estivesse longe e por fim, eu a deixava distante mesmo estando ao alcance da minha mão.

Fui em silêncio e perdida nesse sentimento até o médico, no fundo eu sabia que isso acabaria mal, mas cedi, tudo que queria era ficar bem e por eles eu tentaria.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora