Roda dos Enjeitados

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Isabel

Desde a fuga de Rafael muitas coisas pioraram. Meu filho estava bem e seguro em nossa casa, mas meu casamento parecia ir ladeira abaixo. Carmen não me perdoou, eu sei que no fundo ainda me culpava por tudo que aconteceu.

Depois que voltei da capital, nossas conversas foram rasas e somente quando necessário. Ela e Rafael foram passar alguns dias com Sofia e Santiago, segundo ela, precisava de um tempo longe para pensar.

E suas palavras não saiam da minha cabeça.

"-Quando volver, pasaré un tiempo em Vassouras.

-No será para siempre, pero ficarei lá até que usted decida sobre nosotras."

Soquei a mesa do escritório pela décima vez. Aquilo tudo era um grande absurdo. Eu amava Carmen e meu filho com toda a minha alma e não suportaria viver sem nenhum dos dois.

Já faziam três dias que eles partiram para Espelhos D'água e eu não tive um segundo de paz. Pensei em tudo que ela me disse, sobre meu excesso de trabalho, nas responsabilidades que só aumentavam, no fato de estar soterrada de trabalho e esquecer do que era mais importante: Minha família.

"- Usted está distante de nós. Só pensa nessas fazendas y fábricas. O que aconteceu com aquela mujer que prometeu largar tudo para viver comigo em Londres?"

Ela tinha razão, eu tinha me perdido.

Peguei um dos papéis em cima da minha mesa, li tudo com atenção. Tinham cinco documentos de vendas à minha frente, todos endereçados ao Barão Gusmão Maia. Peguei a pena novamente e comecei uma nova carta, essa, foi destinada ao Imperador. Escutei batidas na porta e escondi os documentos na gaveta.

- Entra. – Respondi.

Lucília entrou na sala com um olhar preocupado. Não era novidade nenhuma, já que ela não me deixava em paz desde que Carmen saiu dessa fazenda.

- Isabel, será que terei que implorar para que saia desse escritório e coma alguma coisa? – Me encarou irritada. – Mal tocou no café da manhã que trouxe. – Apontou para a bandeja em cima do sofá.

- Estou sem fome, Lucília. Pode levar a bandeja. – Voltei a escrever sem encará-la.

- Olhe para mim, Isabel! – Disse alto. – O que está acontecendo contigo? Desde que Carmen e Rafael foram para Espelhos D'água, vive enfiada nesse escritório, não dorme direito, não come, não fala com ninguém. Onde pretende chegar com isso?

Respirei fundo. Não queria perder a paciência com ela.

- Por favor, preciso me concentrar, pode se retirar? – Pedi sem encará-la.

Nem precisava olhar para Lucília para saber que a essa altura ela já estava chorando.

- Isabel... – Tentou argumentar, mas não deixei.

- Por favor, Lucília. – Disse mais firme.

A mulher demorou mais alguns segundos me encarando, podia sentir seu olhar em mim mas enfim, desistiu e saiu batendo a porta. Larguei a pena com raiva e chorei. A governanta me conhecia, ela sabia bem o que estava acontecendo, só queria ouvir da minha boca.

Eu sentia uma saudade imensa da minha mulher e do meu filho. Eu já tinha passado uma semana longe deles, mas dessa vez era diferente. Carmen não voltaria para casa depois da viagem, iria para Vassouras. Insistia em bobagens de que eu não a amava mais. Como se fosse possível deixar de amar aquela mulher. Eu faria qualquer coisa para que ela me perdoasse.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora