Perdão

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 Isabel

- Carmen... - Era a primeira vez que via seu corpo nu em meses. Minha mulher não me deixava vê-la sem roupa de maneira nenhuma. Quando fazíamos amor, sempre se cobria por inteira e pedia para apagar as velas. Tentei de todas as maneiras fazê-la enxergar que aquilo era bobagem. Claro que eu sentia que tinha mudado, ela estava mais magra, podia não ver seu corpo, mas sentia através dos meus toques. Estava ciente das mudanças. Mas não foi isso que me fez arregalar os olhos surpresa naquele momento e sim o sangue escorrendo por suas coxas e as várias cicatrizes espalhadas naquela região.

Carmen me olhou assustada e tentou se cobrir o mais rápido possível. Era tarde. Aquela cena me golpeou direto no estômago.

- Saia daqui, Isabel! - Ela disse nervosa e se escondendo atrás do biombo, mas fui atrás dela.

- Esses cortes... Há quanto tempo faz isso? - Disse preocupada e tentei me aproximar.

- Isabel... Sé que la habitación es tuya, pero déjame en paz ahora. - Se encolheu enrolada na toalha, tentando inutilmente tapar as coxas.

Sai de trás do biombo e escutei seu suspiro. Podia ver sua sombra e quando jogou a toalha no chão. Relutei um pouco para sair do quarto, mas por fim decidi atender seu pedido.

Me retirei do cômodo, mas não me afastei. Fiquei andando pelo corredor e aguardando o momento para outra tentativa, por sorte não demorou, minutos depois a porta se abriu. Entrei e a vi fumando na janela de costas para a porta.

- Tu estás bem? - Falei receosa.

- Sí... - Carmen disse sem me encarar enquanto fumava.

Me aproximei e toquei em sua cintura.

- Esses cortes... - Ela bufou irritada. - Desde quando se machuca dessa maneira?

Por longos minutos minha única resposta foi silêncio.

- Eu sinto muito que as coisas estejam difíceis, mas não faça isso contigo, meu amor. - Ela riu baixo, ainda não me encarava.

- É mais difícil do que usted supõe... - Suspirou triste. - Acha que gosto de fazer isso?! - Ela se virou e me encarou com os olhos inchados e vermelhos. - Infelizmente isso é a única coisa que me faz sentir viva ultimamente, que me afasta desse vazio... - Saiu da janela e se afastou indo até a cama, se apoiou no dossel e chorou.

- Amor, estou aqui para te ajudar. Sabe que não precisa fugir e nem me esconder nada. - Deixei um beijo delicado em sua nuca. - Só não faça mais isso... - Ela se remexeu inquieta.

- No puedo prometerte eso, Isabel. - Limpou as lágrimas e de novo atravessou o quarto até a cômoda.

Eu estava desesperada e com medo, um medo terrível. Todas aquelas marcas na sua perna, só me lembravam as grandes cicatrizes em seus pulsos e meu peito apertava só de pensar na possibilidade de Carmen tentar, de novo, tirar sua vida. Ela estava de costas, mas vi quando encheu uma taça de vinho.

- Na próxima semana vamos à capital procurar outro médico. - Me olhou irritada.

- ¡No necesito que alguien más me llame loca! Además, es capaz de querer internarnos a los dos solo porque nos amamos.

- Pare de dizer que está louca! - Disse me aproximando.

Ela bufou irritada. Tirei a taça de sua mão e segurei em sua cintura.

- Me deixe ver esses cortes... - Subi um pouco seu vestido e imediatamente ela me afastou com um leve empurrão.

- ¡Déjame en paz! - Virou o rosto e se afastou para o outro lado do quarto.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora