Espelhos d'água

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Isabel

- Então, o que achou? - Perguntei empolgada. Carmen estava ao meu lado, montada em seu cavalo. Ela olhava tudo com admiração e com brilho nos olhos, mas mesmo assim precisava ouvir as palavras de sua boca.

- Magnífico! - Me disse sorrindo.

Olhei para minha frente e aquela imensidão de vales ainda tirava meu fôlego. Estávamos há algumas horas cavalgando para conhecer a nova fazenda. Admirava a beleza daqueles campos pensando em como faria para dar conta de mais isso aqui. Já tinha algumas opções em mente, planos que teriam início assim que retornasse para Águas Claras.

Senti o peso do olhar de Carmen sobre mim.

- Eu sei o que esse olhar significa. - Disse sem encará-la.

- Baronesa... - Ela respirou fundo.

- Eu darei um jeito.... Prometo que não vou me afundar em mais trabalho. - Carmen tinha um visgo de preocupação em sua testa. Era compreensivo, eu já tinha tantos compromissos e responsabilidades, às vezes, mal parava em casa. As fábricas me tiravam da fazenda por longos dias e quando voltava, me dedicava totalmente à administração de Vassouras e Águas Claras. O tempo com a família ficava mais escasso e suas reclamações sobre minha ausência eram pertinentes. Eu sentia falta de Carmen e Rafael o tempo todo, mas aquele sacrifício também era por eles.

- Mal está dando conta dos negócios que tiene... A fazenda é hermosa, pero será mais una cosa que vai tirá-la de nós.

- Prometo que não deixarei isso acontecer. - Estendi minha mão e ela segurou apertando forte. - Já tenho planos para esse lugar... - Me olhou curiosa. - No momento certo saberá.

- Confio em ti, mi amor. - Se esticou para me dar um beijo.

- Agora vamos, estou faminta! - Disse fazendo Carmen rir alto.

Cavalgamos de volta a casa. Esse novo lugar era tão grande quanto Águas Claras, mas estava um pouco abandonado e tinha muito trabalho a ser feito.

Chegamos à porteira da fazenda, sua singela placa estava caindo.

- Fazenda Espelho D' Água... - Repeti em voz alta. - Sabe o por quê desse nome?

- No... - Falou me encarando enquanto eu abria a porteira.

- Te levei para conhecer as plantações e extensões de terra, mas o lugar mais bonito dessa fazenda é o grande rio que corta o lugar.

Ela me olhou empolgada.

- Quero conhecer, sabe como me gusta tomar banho de rio. - Seu olhar estava atrevido. Abaixei a cabeça rindo, sabia bem o que ela pretendia.

- Vamos antes de partir, prometo! - Entramos de mãos dadas e logo a frente a grande casa branca e azul surgia imponente.

Uma escada de pedra dava entrada à casa. Diferente de Águas Claras, essa só tinha uma pequena varanda na frente. Observamos tudo atentas, quando chegamos não tivemos tempo de fazer uma avaliação mais detalhada do lugar, logo puxei Carmen para conhecer a terra.

- É uma casa bonita. - Falou admirando a grande sala.

- Precisa de algumas reformas... - Falei tocando em alguns móveis quebrados.

Duas mulheres e um homem estavam parados em um canto da sala.

- Buenas tardes. - Minha mulher disse amável.

Os três se entreolharam e balançaram a cabeça. A propriedade foi vendida com todos seus pertences, assim como minha fazenda atual. Estava há alguns anos abandonada, já que o único herdeiro era um deputado e nunca se interessou pelos negócios do pai. O conheci em uma das minhas viagens para São Paulo e no meio da conversa externou que tinha uma fazenda no vale, mas como era um homem da cidade, nunca se interessou pela propriedade. Não foi difícil fazer o negócio e o preço que paguei também não foi nada exorbitante. Era notório que o lugar era um fardo para o deputado, que me agradeceu por livrá-lo de tal problema. Alguns escravos fugiram e outros foram vendidos ao longo do tempo, os poucos que sobraram ele mesmo alforriou. O homem me contou que os que trabalhavam na casa grande e pediram para ficar na fazenda, já que não tinham para onde ir e como eram pessoas que o viram nascer e crescer ficou sem coragem de mandá-los embora.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora