CarmenOlhei para a Madre, eu estava com uma aflição imensa dentro do meu ser. Eu não sabia explicar a razão para aquele sentimento tão grande e intenso por uma menina que eu nem sequer conhecia.
- Como eu disse, Carmen... - Me olhou cansada. - Tivemos muitas perdas durante este último mês.
Senti meu peito doer e levei a mão ao escapulário de Margot que descansava entre meus seios.
-Ela...? - Olhei-a questionando.
- Querida... - Isabel chegou perto de mim e segurou meu braço delicadamente.
- Não. - A Madre sorriu fraco. - É uma lutadora, aquele pequeno anjo. - Suspirou pesado. - Mas não sei quanto tempo ainda temos.
- Onde está mi bebé? - Perguntei não escondendo mais o que eu sentia por aquela criança.
- Na mesma ala em que eu estava. O problema não é a tuberculose, mas a ama de leite. - Baixou a cabeça nervosa. - Estamos com apenas duas e são mais de dez crianças sendo amamentadas. As outras morreram e não tivemos recursos para comprar escravas e seus filhos.
- Onde ela está? - Perguntei invadindo o prédio.
- Carmen, espera! - Isabel correu atrás de mim, enquanto eu andava rápido pelos corredores. - É perigoso, querida. Por favor, vamos sair daqui! - Pediu aflita.
- Não sem ella... - Olhei para a minha esposa chorando e abri um sorriso fraco. - Perdóname, Baronesa, mas a verdade é que aquela niña é minha. Sinto isso desde a primeira vez que a vi y no puedo dejarla aqui nem mais um segundo.
- Somente tua? - Perguntou me olhando carinhosamente.
- Nuestra. - Sorri para ela com todo o meu coração. - Entonces, me ajude a encontrar a niña que tanto me pediu.
Isabel correu até mim e me abraçou forte.
- Deus é soberanamente benevolente e justo. Ele não gosta de pecados mas ama os pecadores e, às vezes, ele age em quem mais julgamos. - A Madre nos alcançou e disse de um jeito doce. - Me perdoem por julgá-las tanto. - Pediu. - A criança está com a ama de leite e os outros bebês no final do corredor à direita. Ela está fraca e muito magra. Por favor, tirem-na daqui e cuidem dela.
- Vamos achar a nossa filha. - Isabel encostou sua testa na minha e eu concordei chorando.
Abri a porta do quarto com cautela, acho que meu coração estava com medo do que encontraria, mas ansiava por isso.
O pequeno cômodo estava cheio. Algumas crianças dormiam e outras brincavam no cantinho, a maioria não tinha mais de três anos. Haviam duas meninas amamentando um bebê em cada seio. O rosto abatido denunciava a exaustão. As outras freiras, haviam duas ali, também estavam tão cansadas quanto as amas e um silêncio mórbido preenchia o quarto. Apenas os pequenos anjinhos brincando no canto faziam barulhinhos.
Eu fiquei alguns segundos parada, olhando para cada criança ali e me dando conta de que eu já tinha passado por aquele momento de abandono. Eu queria poder tirar de todos eles a dor de ser só, infelizmente não podia. Não de todos, mas daquele bebê encolhidinho no canto do quarto pegando um pequeno raio de sol, sim.
Chorei com a mão na boca segurando uma emoção quando a vi. Ela brincava com as mãozinhas e olhava tudo atenta.
Caminhei lentamente até lá e me abaixei ao lado do moisés.
-Senhora... - Uma freira me olhou curiosa. - Está tudo bem?
- Sí... - Respondi emocionada.
- Não se preocupe, querida. - Isabel disse à ela e tocou meu ombro levemente. - Está tudo bem.
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Carmen y Isabel - Livro II
RomanceIsabel e Carmen jamais imaginariam que suas vidas mudariam completamente depois daquela noite em que o destino de ambas se cruzaram próximo ao bar, na Pensão de Luxo de Madame Margot. A Baronesa de Vassouras e Madame Carmen sem perceber, se viram pe...