Quilombo

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Isabel

Carmen desmaiou em meus braços, corri para dentro da casa com Sofia e Ana atrás de mim. Subimos as escadas e fui direto ao seu antigo quarto. Sofia abriu a porta e assim que entrei levei minha mulher até a cama. Seu vestido rasgado na frente deixava a mostra parte dos seus seios. Tirei meu paletó e a cobri. Me ajoelhei ao seu lado e beijei sua mão repetidas vezes. A culpa me consumia. Não era uma pessoa de chorar na frente das outras, mas não consegui segurar as lágrimas.

- Baronesa... - Ana colocou a mão no meu ombro me dando apoio. - A culpa não é da senhora, não se deixe consumir por esse sentimento. - A mulher falou como se lesse meus pensamentos.

Suspirei alto e enxuguei minhas lágrimas na manga da camisa.

- Obrigada, Ana... - Segurei em sua mão. - Mas não tem como não me sentir culpada. - Olhei para Carmen. - Não fui capaz de protegê-la, essa é a verdade.

Sofia se aproximou.

- Isabel, eu concordo com Ana, não pode se deixar abater assim... Carmen vai precisar muito da sua ajuda.

Ela olhou para minha mulher na cama e depois seu olhar se prendeu ao meu. Era visível o medo em seu olhar. Assim como Sofia, eu também estava aflita. Carmen viveu um período muito sombrio em sua vida e faz pouco tempo que saiu daquele estado. Nosso maior medo era uma recaída pior. Desviei o olhar e fechei as mãos com raiva. Aquela maldito homem me pagaria pelo que fez a minha mulher.

Deixei um beijo na testa de Carmen e acariciei seu rosto.

- Por favor, cuidem dela. - Tirei a arma do coldre e fui em direção a porta.

Sofia segurou em meu braço.

- O que fará? - Perguntou apreensiva.

- Cumprir a promessa que fiz a aquele desgraçado! - Me soltei de sua mão e desci as escadas correndo, Sofia veio atrás de mim e de novo me puxou.

- Isabel, não faça nenhuma besteira. - Pediu.

Respirei fundo.

- Me conte o que aconteceu naquele beco, tudo foi tão rápido que não tivemos tempo de conversar. - Devia uma explicação à ela. Contei tudo que aconteceu e a cada palavra ela cobria a boca aflita.

- Meu Deus, Isabel! Que horror... Aquele homem, capanga do Coronel, ele... - Ela fechou os olhos e suspirou antes de perguntar. - Abusou dela? - Falou chorosa.

- Felizmente não... Graças a Pedro ele não teve tempo de fazer tão mal à Carmen. - Abaixei a cabeça envergonhada. - Era meu dever protegê-la e falhei nisso, então agora vou até lá terminar com esse pesadelo.

Sofia tentou me segurar de novo, mas me soltei e sai sem olhar para trás. Quando já estava na rua vi Pedro e Lázaro parados ao lado do corpo de Antônio. O homem se remexia no chão cuspindo sangue e tentando engatinhar pelo beco. Pedro pisou em suas costas o fazendo parar.

- Deixe ele comigo! - Pedro se afastou e virei o infeliz para que me olhasse. - Eu disse que iria matá-lo! - Engatilhei a arma e apontei para o homem. Ele me olhou assustado e tentou novamente fugir se arrastando. Mirei e atirei. O barulho do tiro ecoou pelo beco e espantou alguns pássaros. Lázaro se aproximou do corpo do homem e em seguida me olhou confirmando que estava morto.

Olhei para Pedro e Lázaro.

- Tirem esses dois desgraçados daqui e joguem em qualquer vala da cidade. - Eu sabia que deveria dar explicações sobre a morte do Coronel Antônio à polícia. E faria isso assim que fossem me procurar. Os dois juntaram os corpos e jogaram em uma carroça parada na entrada da pequena rua. Respirei fundo e coloquei a arma de volta na cintura. Fiz o que devia fazer e não me arrependi de nada.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora