Alucinação

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Londres, agosto de 1871.

Carmen

- Entregue! – Otávio largou minha última mala no andar de cima, no cômodo que escolhi para ser meu quarto.

- Gracias, Querido. – Sorri fraco para ele e suspirei.

- Gostou da casa? Eu achei linda e combina contigo, Madame. – Brincou.

- Sí, tudo aqui é de muito bom gosto. – Acariciei a cômoda em frente a cama. – É muito bonito...

Sentei na cama e senti que choraria. Toquei o camafeu procurando o colo de Margot. Como eu sentia falta dela.

- Não fique assim. – Otávio se abaixou em minha frente e segurou minhas mãos.

- Está tudo bem. – Menti. – Só me recordé de minha mamá. Ela adoraria este lugar... Tudo aqui é elegante como ela era.

- E como tu és! – Sorri largo, era um menino ainda. – Venha! Vamos ver o resto dos cômodos.

- Después, agora preciso de um tempo sozinha. – Sorri triste e ele foi compreensivo. Prontamente concordou.

- Se precisares de mim, estarei lá embaixo. – Deixou um beijo em minha testa e caminhou até a porta. – Temos que trocar esses curativos, quero ver como os machucados estão antes de partir.

- Gracias, Niño. – Sorri fraco e ele finalmente me deixou só.

Assim que Otávio saiu eu suspirei e me permiti desabar. Fechei os olhos e chorei em silêncio. Fui até a mala menor e tirei a manta de Rafael, a mancha de sangue ainda estava lá e me odiei por isso. Abracei-a com força. Me doía pensar que nunca mais o veria, mas a minha vida era essa agora. Triste, vazia e tão sem cor quanto o clima londrino.

Depois de longos minutos chorando eu fui até a janela. Acendi um cigarro e sentei encolhida na grande poltrona que ficava ali. Era confortável e gostei de olhar para a rua, ver as pessoas caminhando de um lado para o outro me trazia conforto, me fazia imaginar o que se passava em suas vidas e acho que deixei de pensar um pouco na minha própria.

Otávio bateu na porta do quarto e deixei que entrasse.

- Charlotte, a empregada, chegou. – Concordei sem tirar os olhos da janela. – E ela fala espanhol. Disse que trabalhou na casa de um casal da Espanha.

- ¡Qué bueno! – Respondi com um pequeno sorriso, eu ainda não dominava o inglês.

Ele continuou me encarando e o olhei confusa.

- Não vai dar um olá para a senhora? – Revirei os olhos.

- Faça isso por mim.

- Eu não sou dono da casa, Carmen. – Cruzou os braços e eu me limitei a suspirar, ele sabia ser um menino irritante quando queria. – Precisa dizer para ela quando vir e o que fazer e...

- Está bem! Agora pare de falar! – Ele revirou os olhos e eu saí do quarto de mal humor.

Charlotte me esperava na cozinha, era uma senhora de aproximadamente cinquenta anos e seu sorriso simpático me confortou.

- ¡Buenas tardes, Señora! – Cumprimentou.

- ¡Buenas tardes! ¡Gracias a Dios que hablas español! – Ela sorriu tímida e lhe estendi a mão. - Soy Carmen, es un placer conocerte.

- ¡El placer es mío, señora! – Charlotte apertou minha mão sem graça e sorriu. – Soy Charlotte.

- ¿A qué días sueles venir, Charlotte?

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora