Catarina

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Carmen


- Por que Fubá não pode vir com a gente? - Rafael perguntou.

- Hijo mío, eu já disse uma centena de vezes que essa viagem não é apenas um passeio, tua mãe tem coisas para resolver no Rio Grande do Sul. - Disse me abaixando e ajeitando o seu casaco.

- Eu não gosto de usar tantas roupas. - Resmungou puxando a gola da camisa para baixo e eu o olhei repreendendo. - Mas ele é meu melhor amigo, Mamá!

- Mas é un perro, Rafael! - Disse o óbvio. - Un perro enorme!

- Um perro enorme... blá blá blá... - Sussurrou com a esperança de que eu não ouvisse.

- Rafael! - Disse alto fazendo as pessoas do convés me olharem. - Chega de malcriação! - Sussurrei ameaçadoramente para ele.

Ele bufou irritado e cruzou os braços.

-Pelo menos o Fubá não briga comigo. - Disse bravo.

- Não ouviu a tua mãe, Barãozinho? - Isabel apareceu atrás do menino fazendo-o pular de susto.

- Tu hijo não tem jeito, Baronesa! - Cruzei os braços brava.

Isabel olhou para nós dois de braços cruzados e riu balançando a cabeça.

-Chegaremos em breve. - Disse acariciando minha cintura levemente. - Já mandei arrumar as nossas malas, não aguento mais esse navio.

- Darei mais uma olhada antes de desembarcamos, sempre esquecemos alguma coisa. - Disse me dirigindo a cabine. - Rafael, venha. - Chamei carinhosamente.

- No quiero, mamá! - Resmungou.

- Venha, hijo, está muito frio aqui fora. - Pedi. - Y tu abuela precisa de ajuda para verificar se não esqueceram nada na cabine.

- Yo no quiero ayudar a mi abuelita, mamá. - Esfregou os olhinhos, estava cansado.

- Está bem. - Suspirei vencida. - Vem, meu amor. - Chamei-o e ele se arrastou até nós. - Acho que dá tempo de una soneca antes de chegarmos. - Beijei o topo de sua cabeça.

- É por isso que ele é manhoso, Carmen. - Isabel disse suspirando. - Tu não tens pulso firme com esse menino.

- Ele está com sono, mi amor. - Disse com pena.

- Bem, então nossa consciência estará limpíssima se Lucília esquecer o peão novo que demos à ele antes da viagem, não é? - Isabel disse risonha.

Estávamos no corredor que dava acesso às cabines, alugamos uma para nós duas e outra para ele e a avó, ficavam frente à frente.

O peão novo havia se tornado o brinquedo predileto de Rafael nos últimos dias, principalmente porque passávamos horas brincando com ele. Bem, Isabel passava horas na brincadeira, eu entrava apenas para divertir os dois com a minha falta de habilidade.

-Vovó Lucília! - Rafael gritou no meio do corredor e invadiu a cabine como se o sono tivesse se dissipado com a ideia aterrorizante de perder o brinquedo preferido.

- Usted é má, Isabel! - Disse rindo para ela. - Ele está com sono.

- Não sou má, meu amor. - Olhou para os lados e constatou que estávamos sozinhas no corredor. - Quero conversar um assunto sério com a mãe do rapazinho ali. - Me prensou na porta do quarto e a abriu, entramos aos beijos e ela fechou-a com o pé.

- Baronesa! - Desviei de seus beijos e olhei para a porta fechada. - Nuestro hijo pode entrar a qualquer momento.

- Ele está entretido com a avó, devem estar revirando a cabine atrás do peão. - Disse risonha.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora