Mamá

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Carmen

Acordei naquela manhã com o sol nascendo, Isabel dormia serena e esparramada, como fazia toda a noite, mas definitivamente a cama do quarto de hóspedes era bem menor.

Sentei na cama e admirei cada detalhe daquela mulher como fiz na última noite em que passamos juntas antes de nos separarmos. Ela continuava a mesma menina linda que entrou pela porta da casa de Madame Margot e me chamou a atenção de imediato. Sorri e acariciei aqueles longos cabelos castanhos.

- Pare... - Pediu sonolenta e se remexendo irritada. Sorri mais largo, Isabel era manhosa.

Deixei um beijo delicado em seu rosto e levantei enrolada no lençol da cama. Pensar na noite de ontem ainda me deixava inquieta. Tudo que eu menos queria no mundo, era que Isabel me visse daquela maneira. Nua, frágil e, como se somente isso já não fosse o suficiente, bêbada.

Não quis pensar sobre isso, pelo menos não naquele momento. Isabel ainda dormia, mas, mesmo assim, me escondi atrás do biombo e só saí dali vestida. O sol aparecia devagar e manhoso, fazia um friozinho gostoso e me cobri com um xale.

Encontrei Marta assim que saí do quarto e ela me olhou com um sorriso travesso, provavelmente viu Isabel vindo dormir aqui.

- Acordou cedo, Madame. Bom dia! - Sorri para ela.

- Bom dia, Marta! - Inalei aquele cheiro delicioso de café de olhos fechados. - Acho que Ana ocupou o seu lugar. O café dela é o mais cheiroso daqui de Vassouras até Londres.

Ela riu sem jeito e eu a abracei forte. Era a primeira vez que fazia isso em muito tempo e ela sorriu surpresa, mas logo retribuiu daquele seu jeito doce.

- Vai ficar tudo bem, Carmen. - Disse no meu ouvido e senti um arrepio bom.

Me encolhi mais em seu abraço e senti vontade de chorar. Odiava esse efeito que suas palavras tranquilas tinham sobre qualquer pessoa que falasse com ela. Marta era a pessoa mais divina que já conheci. Nenhum padre ou freira se comparava à sua doçura.

- Eu estava indo buscar o Barãozinho, Madame. - Me afastou e enxugou minhas lágrimas. Sorri triste e ela retribuiu. - Ele costuma acordar a essa hora...

- Acorda com os galos, como a mãe. - Ela concordou com a cabeça. - Deixe-o comigo, Marta.

- Não precisa, Madame. - Disse aflita, mas eu a tranquilizei com um sorriso, segurei suas mãos firmes e suspirei pesado, eu não podia negar que esse vazio me incomodava profundamente.

- Obrigada, Querida. Por tudo que tem feito por ele e por me tranquilizar, acho que... por cuidar de mim também. - Fechei os olhos quando uma lágrima chata caiu. - As vezes yo... eu não sei quanto tiempo consigo aguentar sem enlouquecer de una vez. Pero, contigo aqui, sei que Isabel e Rafael estão e sempre estarão bien.

- A senhora não vai enlouquecer. - Acariciou minhas mãos e me olhou firme. - Sua melhora aparece a cada dia, Madame. Sei que é difícil para a senhora perceber, mas todos nessa casa veem isso. Só precisa confiar.

- Confiar em quê? - Perguntei chorando.

- Na senhora... E em quem trouxe Rafael a este mundo. - Me olhou confidente e imediatamente entendi sobre o que ela estava falando.

- Como... do que está falando, Marta? - Perguntei, mas eu sabia que era daquela mulher que vi em meu sonho no dia que ele nasceu.

- Ela está sempre com a senhora, Madame. - Sorri agradecida e, outra vez, enxugou uma lágrima teimosa que rolava em minha bochecha. - E com o Barãozinho também.

Carmen y Isabel - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora