Capítulo Dezessete

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Otávio Miller

Perco um pouco da noção do tempo enquanto estou com Evan, mas acordo quando ouço o barulho de alguém entrando no quarto. Desvio meus olhos do rosto machucado de Evan e me foco na pessoa que entrou, vendo meu padrinho Castiel. Há uma expressão abatida em seu rosto, olheiras escuras abaixo dos olhos e o sorriso não existe mais em seus lábios.

- Eu já estou saindo. - Aviso, e me afasto da cama de Evan. 

- Não, tudo bem... Pode ficar um pouco mais. - Ele responde e se aproxima mais, tendo seus olhos no filho. - Acha que ele vai ficar bem?

Sua pergunta me pega de surpresa. Mesmo sendo médico e já tendo visto casos até piores, eu não sei opinar nesse momento. Meu lado profissional fica totalmente esquecido quando se trata do homem que eu amo.

- Eu não sei, padrinho, mas espero que sim. Evan é forte, e ele está vivo. - Respondo com cautela.

- Ele é mesmo, mas não sei como vai reagir quando... - Ele começa a dizer, mas para e desvia os olhos para a perna amputada do filho.

Vejo as lágrimas descerem por seu rosto e meu peito se aperta em tristeza. Eu imagino a dor que meu padrinho está sentindo no momento, vendo o filho dessa forma. E eu sei que essa situação é horrível, mas eu só consigo me apegar ao fato de que Evan ainda está vivo, e somente isso que importa para mim.

Eu não sei qual será a reação dele ao se ver praticamente sem uma das pernas, mas eu imagino que não vá ser a melhor. Só que nós vamos estar aqui para ele... Eu vou estar aqui para ele. E por mais que seja difícil aceitar e se adaptar, ele vai conseguir. Evan é duro na queda, como ele sempre disse ser.

- Ele está vivo, isso que importa. Eu sei que é difícil, mas não acabou. Evan ainda tem muito pela frente e vai se adaptar. Sei que às vezes vocês não compreendem meu jeito de falar, mas é isso... Ele está vivo e apenas é o que importa para mim. Meu pai passou anos da vida dele fechado dentro de uma casa, achando ser um monstro por causa de algumas cicatrizes. Quando, na verdade, monstros eram as pessoas que fizeram aquilo com ele. Meu tio Apolo passou mais de um ano em coma, perdeu parte da vida e todos os movimentos das pernas, mas consegui se levantar... os dois conseguiram. O senhor vê? O importante é ainda estar vivo, as outras coisas podemos superar. - Falo e sinto meus olhos arderem com a vontade de chorar que me toma.

- Eu sei que não sou a melhor pessoa para falar de superação, mas no meu caso, a minha filha morreu. O senhor não sabe o que é carregar uma vida por oito meses, sentir mexer, ouvir o coraçãozinho, fazer planos e então, de repente, essa vida não existe mais. Eu ainda vivo o luto e acho que vou viver para sempre, mas eu estou tentando. Só que a Luz morreu, o Evan não. Pra nossa filha tudo se perdeu, mas para ele não.

Quando termino de falar, meu rosto já está molhado pelas lágrimas que descem sem controle. E por mais que eu tente, a dor ainda é a mesma e me sufoca.

Eu estou tentando superar esse trauma na minha vida, estou mesmo, mas ainda é difícil. Quando você chega ao fundo do poço, é extremamente difícil sair de lá.

Me assusto um pouco quando sinto braços ao meu redor, mas retribuo o abraço que meu padrinho me dá e choro em seu ombro.

- Eu quero ajudar ele, quero mesmo. Amo Evan, mesmo depois de tudo. - Sussurro em meio ao choro e sinto o abraço se tornar mais forte.

- Eu sei, querido. Sempre soube que se amavam, mesmo depois de todas as mágoas e anos separados. - Castiel diz ao se afastar e leva suas mãos até meu rosto, limpando minhas lágrimas. - E você está certo, o que importa é ele estar vivo. Eu não suportaria perder meu filho e dou graças a Deus por ele ainda estar aqui, mesmo que em uma situação ainda delicada.

Opostos | Livro 01 - Série Amores Indomáveis (Mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora