Capítulo Oito

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Evan D'Ávila

Saio da casa dos meus tios com passos apressados. As lágrimas voltam a cair por meu rosto e há uma dor em meu peito que me faz querer gritar. E agora eu percebo que não estava preparado para saber a verdade, no fundo, eu achava que tudo não passava de paranoia minha, mas agora percebo que não foi. Eu realmente tive uma filha, eu sou pai, mas ela está morta.

Não faço ideia de para onde ir ou como seguir, e por um momento esqueço que John está me esperando no carro estacionado do outro lado da rua. Paro meus passos, assim que saio da propriedade da família Miller e apoio minhas mãos em meus joelhos, tentando respirar fundo, para me acalmar.

Dói tanto, que não consigo expressar o que eu sinto em palavras. É forte demais.

Sinto uma mão em meu ombro e ao levantar meu rosto, vejo John me olhando com preocupação, e não é preciso que eu diga nada para que ele entenda o que houve. Volto a minha postura e aceito sua mão, enquanto ele nos leva até o carro. Entro em silêncio no veículo e fecho meus olhos, querendo apenas que tudo suma.

John não diz nada enquanto seguimos até o hotel e agradeço por isso, pois não é minha vontade falar agora. Ainda estou tentando processar a notícia de que eu tenho uma filha, mas ela está morta. Estou tentando processar que a dor que estou sentindo hoje poderia ter sido sentida há anos atrás. Estou tentando processar que eu não tive a chance de participar de uma pequena parte da sua vida, mesmo que isso tenha sido antes de nascer.

Não faço ideia de quanto tempo levamos até chegar ao hotel e só me dou conta quando John abre a porta para mim e me puxa com ele. Tenho sorte dele ter uma boa memória para gravar rotas, pois eu não tinha a mínima condição de dirigir de volta para cá.

Entramos na suíte que reservamos alguns minutos depois e eu apenas me jogo na cama, querendo que o mundo desapareça e eu também. Sinto John mexendo em mim, tirando meus tênis, me deixando apenas de meias e segundos depois ele se deita ao meu lado, me puxando para um abraço. Me agarro a ele com força e choro em seu peito, querendo aliviar a dor que estou sentindo, mas sei que isso é praticamente impossível. Eu posso ter acabado de descobrir sobre Luz, mas já sei que essa dor não passará jamais.

- Eu sinto muito por ser verdade, meu amor, mas pense que agora você vai poder ter contato com seu filho, ou filha. - Ele diz, querendo me reconfortar, e eu solto uma risada amarga.

- Só se for em um cemitério. - Falo com amargura, me sentindo doente ao dizer essas palavras.

- O quê? Como assim, Evan? - John questiona sem entender e eu solto um suspiro.

Me afasto dele e me coloco deitado de costas na cama, olhando para o teto de gesso branco. Limpo minhas lágrimas e respiro fundo, querendo parar de chorar.

- Luz está morta, ela nasceu sem vida. - Respondo e fecho meus olhos ao tentar imaginar essa cena.

- Oh meu Deus! Evan, eu sinto muito! - Ele, mas eu nego com um aceno.

- Não, quem sente muito sou eu. Fui eu quem passou cinco anos da vida sorrindo, sem saber que a filha que um dia eu sonhei ter estava morta. Eu quem sinto muito por nunca nem ter sentido ela se mexer dentro da barriga do pai. Eu sinto muito por ser um bosta, vivendo feliz enquanto ela está morta. - Falo e aos poucos meu tom aumenta, devido a raiva que sinto crescer dentro de mim.

- Evan, pelo amor de Deus! Olha o que você está falando, está se ouvindo? Porra! Você não sabia de nada, como iria viver uma dor que não foi permitida a você? - John usa um tom sério e pega meu rosto em suas mãos, me fazendo olhá-lo. - Luz não culpa você por estar morta, ou por você ter vivido feliz. Na verdade, acho que é isso que ela quer, o pai dela feliz e não se culpando por algo que estava muito longe de seu alcance. Se você soubesse de algo, ok, eu seria o primeiro a te dar uns tapas, mas não... Você nunca soube até procurar por algo.

Opostos | Livro 01 - Série Amores Indomáveis (Mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora