Capítulo Dois

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Otávio Miller

Minhas mãos trêmulas tocam na lápide feita de mármore branco e meus olhos se fixam no nome ali escrito... Luz, meu pequeno anjo. As lágrimas voltam a cair por meu rosto e respiro fundo, tentando me acalmar, mas é algo quase impossível. Sei que minha família está bem atrás de mim, também sentindo o dia de hoje, mas não como eu... Ninguém nunca vai sentir uma dor igual a minha.

Fecho meus olhos e posso me lembrar com exatidão daquele dia. 8 de setembro, um dia como qualquer outro, eu pensava pelo menos. Estava com oito meses completos e tudo ia bem na gestação, não tive complicação alguma, já que papai sempre foi muito rigoroso quanto a minha saúde e da neta, mas então tudo mudou. Eu estava sozinho em casa, havia acabado de chegar da faculdade, pois ainda estava estudando, foi quando eu senti uma dor muito forte e comecei a sangrar. O meu susto e desespero foi imediato, o que me fez ligar desesperado para meu pai. Ele me mandou socorro rapidamente e enquanto seguia para o hospital na ambulância, acabei perdendo a consciência. Fizeram uma cesariana de emergência, já que Luz estava sufocando, mas não conseguiram salvar minha filha. E assim que acordei, no dia seguinte, veio a notícia de que ela havia nascido morta, o cordão umbilical havia se amarrado ao pescoço dela.

Eu não lembro de um dia ter chorado tanto como naquele, era como se estivessem arrancando uma parte do meu corpo. Mas acho que o pior foi não poder nem vê-la, me deram apenas um pequeno caixão lacrado para o enterro, que foi realizado dois dias depois. E após isso foi como se eu não existisse, como se não houvesse mais vida em mim. Quando minha filha morreu, uma parte de mim foi junto e sei que jamais serei o mesmo novamente.

No dia do velório de Luz, eu até pensei em ligar para Evan e pedir seu apoio, mas como eu faria isso se a nem a família dele sabia que ele iria ser pai? Minha intenção era contar, assim que nossa filha nascesse, mas então tudo se perdeu e não fazia mais sentido. Eu consegui fazer um bom trabalho em esconder minha gravidez dos meus padrinhos e de Evan, mas não me orgulho disso. Hoje em dia eu sei que errei e fui imaturo em minha decisão, mas não é como se fosse dizer tudo a ele agora, quando o mesmo tem uma vida feliz sem essa sombra. Tudo pode continuar do mesmo modo, cada um vivendo com sua própria vida e suas escolhas.

Volto a abrir meus olhos ao sentir braços ao meu redor e me aconchego ao corpo do meu pai, o abraçando com força. Sei que minhas lágrimas molham sua camisa, mas ele pouca se importa e continua me protegendo em seus braços. E poder saber que tenho minha família junto comigo é a única coisa que me fortalece depois de tudo.

- Você é forte, Luz estará sempre com você, filho. - Pai Enzo diz e se afasta de mim em seguida, enxugando minhas lágrimas com suas mãos. - Sei que essa dor nunca vai passar, seu pai e eu a conhecemos muito bem, mas você não pode parar, Otávio. Sua filha te quer feliz e realizado, faça isso por ela. - Ele diz e isso me faz suspirar.

Meus pais contaram a mim e meus irmãos sobre o fato deles terem perdido o primeiro filho e eu jamais poderia imaginar algo do tipo. E confesso que foi bom poder conversar melhor sobre isso com papai, que sabe exatamente a dor que eu sinto. Não que meu pai Enzo também não sinta, mas só quem está gerando um filho sabe a dor que é perdê-lo.

- Eu vou tentar. - Falo de forma sincera, mesmo que eu saiba que não é tão fácil assim.

- Estamos com você, maninho. - Ouço Cecília dizer e ao me virar para o lado, encontro ela sorrindo para mim.

- Somos a metade um do outro, então você nem precisa pedir para que eu esteja ao seu lado. - Giovani diz e pela primeira vez eu consigo sorrir.

- Família é uma base e nós somos a sua. - Papai também se aproxima e então estamos todos reunidos em um abraço apertado, ao qual eu me sinto imensamente amado.

Opostos | Livro 01 - Série Amores Indomáveis (Mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora