Evan D'Ávila
É uma sensação de alívio poder sair do hospital depois de tanto tempo. É bom poder respirar o ar fresco e não sentir mais aquele cheiro de antisséptico. A cadeira de rodas está sendo empurrada por John e minha família vai um pouco a frente de nós no corredor do prédio em que meu pai alugou um apartamento para Helena, John e eu ficarmos. Ainda sou contra a ideia da minha irmã deixar sua vida de lado por mim, mas não pude falar mais nada depois que ela colocou isso em mente. Se há uma coisa que nunca acontece, é um D'Ávila voltar com sua palavra, somos fiéis ao que nos comprometemos a fazer.
Vejo meu pai parando em frente a última porta do corredor e tirar um molho de chaves do bolso. Com uma ele abre a porta do apartamento, nos dando sua ampla visão.
- Procuramos um lugar espaçoso, espero que goste. - Papai diz, assim que todos nós já estamos dentro do apartamento.
E realmente o lugar é bem amplo, tendo espaço tranquilamente para que eu possa me locomover com a cadeira de rodas.
- Está ótimo, papai. Nem precisava ser tão grande assim. - Falo e vejo papai revirar os olhos.
- Até parece! - Ele resmunga e segue em direção da cozinha com algumas sacolas de compras. Meus irmãos o seguem e ficamos apenas John, meu pai e eu na sala.
- Está confortável com isso? - Meu pai pergunta após um tempo, me olhando com atenção.
- Não, mas vou me acostumar. Onde é meu quarto? - Pergunto, mudando de assunto.
Sei que todos só querem meu bem estar, mas não gosto de me aprofundar no assunto que é minha vida agora. Não gosto de pensar nos obstáculos, nas coisas que preciso superar e nas dores que sinto desde que acordei... tanto física, quanto emocionalmente.
- Eu te levo até lá, já trouxemos suas coisas. - John diz com calma, entendendo que eu preciso fugir por um momento.
Deixo meu melhor amigo me guiar até meu quarto e entramos segundos depois na última porta do corredor. No total são quatro quartos e o meu é o último, graças aos céus. O cômodo também é amplo e limpo. Há apenas a cama de casal com as mesinhas de cabeceira ao lado, uma cômoda em um canto e uma poltrona de outro. Há mais duas portas, uma dando para o banheiro e a outra para um closet pequeno. Também há uma pequena sacada, o que me atraí bastante.
- Pode me deixar sozinho, John? - Peço com calma, ansiando um pouco de paz.
- Não faça nada estúpido... te amo. - Ele diz e deixa um beijo em minha bochecha antes de sair e fechar a porta atrás de mim.
Fico bons minutos parado no mesmo lugar, apenas olhando em um ponto fixo e tentando entender os milhões de pensamentos que rondam minha cabeça. É sempre uma luta quando estou acordado. Minha mente não para um só segundo e isso me esgota de uma forma inexplicável.
Solto um suspiro pesado e levo minhas mãos até as rodas da cadeira, me guiando até a porta de vidro que leva até a sacada do quarto, mas antes que eu possa abri-la, meus olhos se fixam no meu reflexo ali. Eu ainda não havia me visto por inteiro e essa visão me assusta muito, ainda mais pelo fato de eu estar em uma cadeira de rodas e com uma perna amputada. Estou mais magro que antes, graças aos dias em coma, minha pele está mais pálida devido aos dias sem sentir um raio de sol. E também há as cicatrizes em meu rosto, porque afinal de contas, eu tive meu maxilar destroçado. A barba está crescendo e consegue esconder um pouco, mas eu vejo e isso me dá uma certa agonia.
Fecho meus olhos e levo minhas mãos até meu rosto, sentindo novamente toda a insegurança de todos os dias desde que acordei. Eu não me sinto mais o mesmo Evan de antes e isso me causa medo. Isso me apavora! Eu me olho e não me reconheço, eu me olho e sinto raiva em muitos momentos. Também sinto arrependimento e culpa. E sempre me pergunto: por que comigo?
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Opostos | Livro 01 - Série Amores Indomáveis (Mpreg)
RomanceQuem já ouviu aquela velha frase que diz... "Os opostos se atraem"? Evan e Otávio são a maior prova desse fato, provando que quando se ama as divergências se tornam algo pequeno. Mas nem tudo se contenta apenas com amor, não é mesmo? E há momentos...