Capítulo Trinta e Um

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Otávio Miller

O sorriso em meu rosto é enorme e não faço questão de esconder o quanto estou feliz em ver Evan solto em meio a nossa família. Eu realmente achei que seria um problema ele vir a festa de aniversário de Cecília, mas me enganei. Ele não só aceitou vir, como também em nenhum momento falou sobre receio em ser visto com uma prótese. E isso me deixa tão feliz, pois aos poucos ele está se aceitando e vivendo sem amarras.

- Quer dar uma volta? Ainda vão demorar a servir o jantar. - Falo para Evan, segurando sua mão com mais força.

Estamos sentados em um sofá mais afastado, os outros estão em grupos, conversando sobre assuntos aleatórios. Até John se enturmou com todos, o que me causou um pouco de ciúmes, ainda mais com sua aparente amizade com meu irmão, mas me segurei. Não é que não goste dele, acho que já passei dessa fase. Aceitei que John é uma boa pessoa, só ainda não me dei bem com ele totalmente.

- Na verdade, queria ver um lugar se você deixar. - Evan diz, um pouco hesitante, e eu entendo no mesmo momento.

Fico sem fala por um instante, mas concordo com um aceno e me levanto do sofá junto dele. Há alguns dias acabei comentando com Evan que ainda mantinha o quarto de Luz intacto e percebi sua curiosidade em vê-lo, mas não o convidei propriamente. Ainda é difícil para mim entrar naquele cômodo e não sentir meu coração virando pó. Mas Evan tem o direito de ver o lugarzinho que seria da nossa pequena, mesmo que ela nunca tenha usado nada de lá.

Nossas mãos permanecem entrelaçadas enquanto subimos as escadas e isso também é um apoio a Evan, que possui um pouco de dificuldade, por conta da prótese, mas conseguimos nosso objetivo. O quarto é ao lado do meu e sua porta ainda é diferente das outras, estando pintada de um amarelo claro. Automaticamente meu coração bate mais forte em meu peito e meu dedos apertam os de Evan.

- Se não se sentir confortável, tudo bem. - Ele diz com calma e meus olhos se encontram com os seus.

Solto um suspiro e balanço minha cabeça, abrindo um sorriso pequeno.

- Não tudo bem, eu preciso fazer uma coisa. - Falo e respiro fundo antes de guiar minha mão até à maçaneta da porta e a girar, abrindo.

O cheiro de produtos de bebê ainda é presente e é ele que nos recebe assim que pisamos no quarto. Acendo as luzes e tudo fica visível para nós. A decoração em tons pastéis, os inúmeros ursinhos de pelúcia em prateleiras, o berço no centro do quarto, a cadeira de amamentação ao lado, os armários ainda cheios de roupinhas. E o nome Luz escrito em vários lugares.

Não é preciso permissão para que às lágrimas preencham meus olhos e ao olhar para Evan, vejo a mesma emoção em seus olhos claros. Sua mão se solta da minha e o vejo dar passos vacilantes em direção ao berço vazio. E é tão doloroso saber que ela sequer chegou a entrar aqui. Eu não pude realizar nenhum dos meus desejos com minha filha, não tive uma única oportunidade.

É difícil pensar que nunca vi seus olhinhos se abrirem, nunca vi seu sorriso, nunca ouvi suas primeiras palavras, muito menos vi seus primeiros passos. Eu nunca vivi suas primeiras vezes e isso jamais vai acontecer, pois ela não está aqui. E dói, dói como se uma faca muito afiada fosse cravada em meu peito. E mesmo essa comparação ainda é pouca para descrever minha dor. Pois a dor física ainda, muitas vezes, tem solução. A dor na alma não. Essa corrói, destrói sem hesitação.

- Eu... meu Deus! - Evan até tenta, mas eu sei o quanto é difícil.

As lágrimas rolam por seu rosto e quando ele não suporta o peso, se senta na poltrona, deixando o choro sair livre. Em meu rosto, minhas próprias lágrimas descem também. Reviver a perda é difícil. O trauma não vai embora, é algo permanente.

Opostos | Livro 01 - Série Amores Indomáveis (Mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora