Capítulo Dezoito

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Otávio Miller

Aperto minhas mãos uma na outra, tentando cessar a tremedeira nelas, mas não parece funcionar. Eu sinto que posso vomitar a qualquer momento, mas tento ser forte e respiro fundo. A porta do quarto de Evan está a minha frente, mas não me movo. Já faz meia hora desde que cheguei ao hospital, mas ainda não tive coragem de entrar. Tenho medo de ele piorar por minha causa. Não sei onde meu padrinho estava com a cabeça quando me pediu para vir, e eu não sei o que eu estava pensando também. Evan deve estar me odiando no momento. Deve estar odiando todo mundo, na verdade.

- Otávio? - Ouço a voz conhecida e solto um suspiro, me virando.

Encontro César a poucos centímetros de mim e ele me olha com curiosidade, já que não é meu plantão e estou de folga.

- Oi, doutor Sales! - Respondo, educado.

- Aconteceu algo? Seu amigo acordou? - Ele pergunta e quase reviro meus olhos. César é invasivo demais para o meu gosto.

Sim, ele sabe de Evan, mas somente como um amigo muito próximo. Não achei necessário contar minha história a ele, assim como não acho necessário agora.

- Sim, estou indo ver ele agora, na verdade. - Falo, abrindo um sorriso sem graça.

- Oh, sim! Espero que ele esteja melhor. Nos vemos amanhã. - Ele diz e eu assinto, vendo-o se afastar.

Respiro fundo e tomando coragem, quebro a distância entre mim e a porta. Giro a maçaneta, abrindo a porta devagar e me encolho um pouco, sentindo frio ao entrar no quarto.

Meus olhos vão imediatamente até Evan, deitado na cama, ainda dormindo sob o efeito de sedativo. Ele não respira mais com a ajuda dos aparelhos. Os hematomas estão sumindo e quase não dá para se perceber muita coisa. As únicas coisas marcantes são os pontos ainda em seu maxilar, onde sei que sua boca também permanece amarrada por fios metálicos, o curativo ainda marcando a amputação e seus braços amarrados junto a cama.

Ver ele dessa forma me causa um aperto muito grande no peito, então me aproximo da cama e aperto o botão para chamar algum enfermeiro. Mas enquanto nenhum chega, eu começo a desfazer os nós que prendem Evan, mesmo sabendo que posso tomar alguma espécie de punição com isso. Mas não posso vê-lo assim, como se fosse uma besta.

- Ei, o que você está fazendo? Não pode encostar em um paciente? - Ouço uma voz grave atrás de mim e reviro meus olhos, me virando em seguida para a pessoa.

- Doutor Otávio Miller, não vou deixar ele dessa forma. Evan não é um animal para estar amarrado, então me ajude a solta-lo. Depois eu me entendo com o médico responsável. - Falo ao enfermeiro, não me importando com mais nada.

A contragosto, após ver minha identificação, ele me ajuda a desamarrar Evan e deixa o quarto.

Eu me sento na beirada da cama hospitalar e observo Evan em silêncio, esperando que ele acorde. E isso não demora muito a acontecer.

Vejo seus olhos se abrindo aos poucos e ele pisca algumas vezes, se acostumando com a claridade do quarto. Evan me nota segundos depois e vejo sua expressão se tornar mais dura. Seus olhos se desviam de mim e vejo ele mirar sua perna amputada.

Sou rápido em segura-lo, quando percebo ele prestes a se debater. Sei que a vontade dele é gritar, mas não pode, já que não consegue abrir a boca no momento. O abraço com força, sentindo seu corpo rígido junto ao meu. Ele ainda reluta, tenta me empurrar, mas uso toda a minha força para resistir e ser o apoio que ele precisa nesse momento.

Aos poucos ele se rende e para totalmente de se mexer. Sinto ele encostar a testa em meu ombro e suas lágrimas molham minha camiseta. A minha vontade é chorar junto, mas eu contenho minhas lágrimas e engulo o nó em minha garganta.

Opostos | Livro 01 - Série Amores Indomáveis (Mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora