Capítulo Vinte e Quatro

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Deitada na cama observando o escuro do quarto, Ana tentava em vão decidir o que faria dali alguns dias quando o circo partisse.

Já havia repassado diversos cenários por sua cabeça mas ainda não conseguira chegar à uma decisão correta.

Ela queria ficar ali, mas será que era a decisão certa?

Sentindo que uma coisa levava à outra, mais uma vez veio a sua cabeça o convite que Tiago havia feito a ela e o avô.

Mesmo contra sua vontade, desde a última conversa que tiveram ela não conseguia parar de pensar em tudo que ele havia dito, e várias vezes se pegou questionando se aquilo era verdade.

Existia alguém que poderia tirar aquele peso dos seus ombros?

Repassou em sua cabeça tudo que havia vivido até então e lembrando-se das palavras do rapaz tentou imaginar como seria sua vida se ela e as pessoas ao seu redor tivessem simplesmente feito as escolhas certas.

Será que esse Deus teria ajudado em alguma coisa?

— Pietra, tá acordada? — Questionou, esperando ouvir a voz da amiga, mas obteve apenas o silêncio como resposta.

Faltava um dia para o tal retiro e ela havia convidado Pietra para dormir com ela na casa do avô.

Era interessante notar seus dois mundos se encontrarem.

Revirou-se na cama à procura de uma posição confortável e sem conseguir encontrar, bateu os pés com violência sentindo-os afundarem no colchão macio.

Desistindo de tentar dormir naquela hora, levantou-se da cama tomando o máximo de cuidado para não acordar a amiga e saiu do quarto deparando-se com o silêncio que envolvia a noite.

Caminhou no escuro, devagar e atenta a qualquer obstáculo que poderia estar no caminho, abriu a porta da cozinha e saiu para fora inalando o cheiro das flores que era espalhado pelo vento.

Aproveitando a noite clara iluminada pela lua cheia, deitou-se na grama verde usando as mãos como travesseiro.

Observando as estrelas brilhantes, quase como hábito, ia começar seu monólogo com o "pai" quando um outro pensamento lhe ocorreu.

Se ela falasse com aquele Deus assim como já tinha visto Tiago falar outras vezes, será que ele a ouviria?

Será que valia a pena tentar e acreditar que ele existia?

Decidindo que não tinha nada a perder, deixou que algumas palavras saíssem da sua boca, mesmo sem nem saber por onde deveria começar.

— Deus? Não sei como tenho que falar com você. Quer dizer, não sei nem se você existe mesmo. Talvez seja só uma invenção de pessoas que precisam se apegar à alguma coisa para conseguir viver. Mas se você existe, alguma vez já se preocupou comigo?

A voz embargou impedindo-a de continuar a falar e ela sentiu um nó na garganta que parecia crescer a cada segundo.

Que peso era aquele que ela sentia sobre ela?

— Será que alguma vez se preocupou com a gente, com minha família? Será que já viu tudo que eu passei sem ter ninguém para me ajudar? Se você existe mesmo, onde você estava?

Calou-se esperando ouvir alguma coisa, mas foi envolvida novamente pelo silêncio que era quebrado apenas pela sua respiração acelerada e o barulho do vento forte.

Retirou uma das mãos de debaixo da sua cabeça e segurou um punhado de grama arrancando-o da terra, e em seguida, jogou o punhado fora, com violência. Sentou-se no chão segurando as pernas de encontro ao peito e recomeçou a falar.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora