Capítulo Dezenove

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O corpo cansado clamava por um descanso após o dia repleto de ensaios, e deitada na cama junto com Pietra, Ana saboreava um dos brigadeiros que haviam comprado.

— Hum... É muito bom, poderia comer todos os dias — exclamou colocando mais uma colherada generosa na boca.

— Nem fale, eu também... Com certeza!

Riram da afetação de ambas e ficaram em silêncio durante alguns minutos apenas degustando a sobremesa.

— Quer dizer que o Tiago está sempre por lá?

— Sim. Ele está ajudando José com o jardim então todos os dias pela manhã ele está lá. Mas hoje parece que foi o último dia.

— Interessante... — Pietra falou com um sorriso sarcástico fazendo Ana estreitar os olhos tentando entender as intenções da amiga.

— O jardim está ficando lindo. Quando fui lá pela primeira vez quase podia imaginar meu pai correndo entre as flores quando criança, mas José disse que o jardim só foi preparado depois que ele foi embora.

Deu de ombros tentando aparentar desinteresse.

— Você disse que tem uma tia?

— Tinha. Ela faleceu aos 16 anos. Talvez ela tenha sido o motivo do desentendimento dos dois.

Pietra permaneceu pensativa e em silêncio enquanto Ana pegava mais um pouco de brigadeiro sentindo o sabor do chocolate preencher sua boca.

— Isso é realmente muito bom.

Ambas riram novamente e Ana ajeitou-se na cama.

— Como foi passar a noite lá?

Pensou com cuidado antes de responder lembrando-se do pesadelo e do avô cantando para ela dormir.

— Melhor do que eu imaginei que seria...

Calou-se observando o teto do trailer com atenção sentindo os olhos da amiga queimar sobre ela.

— Eu tive um pesadelo de noite. O de sempre. Ele me acordou, conversamos um pouco e ele cantou pra que eu pudesse dormir de novo. Foi um sono tranquilo.

Pietra olhou para a amiga com atenção e num gesto afetado apertou seu braço com entusiasmo.

— Fico feliz que tenha sido uma boa experiência. Vai dormir lá novamente?

— Talvez...

— Você e sua indecisão. — Pietra sorriu para a amiga e continuou — Como pretende arrancar a verdade dele?

— Ele não parece querer esconder nada de mim, sou eu que me sinto confusa se ainda quero realmente saber...

— Como assim?

— Estou tentando me acostumar à idéia de ter uma família, alguém pra voltar. Não sei se vale a pena correr o risco de perder ele novamente.

— Faz sentido, mas você tem o direito de saber a verdade.

— Foi o que ele disse também. — Engoliu em seco lembrando da conversa que tivera com o avô.

— O que eu disse sobre seu pai vale para seu avô também, sem saber qual é a verdadeira história talvez nunca consiga conhecer ele de verdade.

Ana desviou o olhar para o violão esquecido no canto do trailer e deixou-se pensar sobre aquilo.

Tudo que ela queria saber era a verdade e talvez valesse a pena correr aquele risco.

— Isso não significa que o que aconteceu no passado precisa definir o presente de vocês. Só acho que você precisa saber o que realmente aconteceu com seu pai e por que você nunca teve uma família presente. Isso diz muito sobre quem você é hoje.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora