Capítulo Vinte e Dois

55 9 20
                                    

A porta da sala estava aberta quando Ana chegou. Entrou esperando ver o avô na sala mas o encontrou nos fundos cuidando do jardim.

Antes de anunciar sua presença parou por alguns minutos observando o senhor que com o andar vagaroso molhava as flores vez ou outra pegando sua tesoura de poda para lançar fora alguma folha que estava estragada ou velha.

Lembrando-se das palavras de Tiago ela caminhou até o avô e tocou o ombro dele suavemente quase com medo de assustá-lo outra vez.

José virou-se olhando para Ana com os olhos ansiosos que logo ganharam vida quando ela sorriu, tranquilizando-o.

Os olhares de ambos se encontraram e nada mais precisava ser dito porque as vezes os olhares se completam mesmo no silêncio.

— Você voltou... — A voz do avô saiu carregada de emoção, e Ana não resistiu à vontade que sentiu de abraça-lo.

— Eu precisava colocar minhas idéias no lugar. Conversar com o Tiago me ajudou muito nesse processo.

— Você encontrou ele na rua?

Ana mordeu os lábios nervosa e envergonhada pensando na condição que estava ao encontrar-se com o rapaz.

— Mais ou menos isso...

O avô semicerrou os olhos com desconfiança, e abriu a boca para falar algo mas fechou-a logo em seguida como se estivesse em dúvida se deveria dizer ou não.

Parecendo mudar de ideia, falou:

— Você pensou no que eu disse? Consegue me perdoar?

Ana suspirou pensativa ao entrar na área da casa e sentar-se em uma das cadeiras enquanto o avô organizava as ferramentas de trabalho para logo em seguida juntar-se a ela sentando na cadeira ao lado.

— Não é fácil, eu sempre penso que estou traindo meu pai ao fazer isso... — Olhou para o avô que a encarava com seriedade e sustentou aquele olhar querendo aproveitar o pouco de coragem que restava para colocar pra fora tudo que havia pensado no caminho de volta — Mas talvez o Tiago esteja mesmo certo e eu seja tão errada quanto todos vocês. E se for verdade, que direito eu tenho de negar perdão?

— Todos nós erramos, todos nós pecamos, minha filha. É o resultado da queda.

Ana encarou o avô, confusa, sem entender o que ele queria dizer.

Percebendo o olhar que recebia da jovem, ele continuou:

— Resumindo, quando foi criado o homem era perfeito e vivia no Jardim do Éden. Mas eles foram enganados pela serpente fazendo o pecado entrar no mundo. Desde então, todos nós estamos sujeitos a cometê-lo.

— Por que vocês sempre têm uma explicação da Bíblia para qualquer coisa?

O avô gargalhou sob o olhar atento de Ana que apenas franziu a testa sem entender qual o motivo da graça.

— Tenho uma explicação da Bíblia pra essa pergunta. Vai querer ouvir?

Ana balançou os ombros e ofereceu um meio sorriso de conformidade fazendo o avô sorrir novamente da expressão que ela fazia.

— Um apóstolo chamado Paulo escreveu que para ele, o viver era Cristo, e é assim que encaramos nossa vida. Tudo se resume a Deus e a nossa vida como cristão. Não dá pra desvincular. Até porque não encaramos a bíblia como um livro qualquer, mas como um manual de instruções. Ela tem resposta para tudo que acontece nas nossas vidas.

Um silêncio confortável caiu entre eles por alguns minutos e Ana encarou as flores no jardim que pareciam especialmente lindas naquele dia.

O avô levantou-se caminhando em direção à cozinha e pouco tempo depois voltou de lá com uma vasilha cheia de rosquinhas.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora