Mais um dia em Monte Carlo e Ana tentava afastar da cabeça a idéia de que logo iriam embora. No dia anterior havia voltado para o circo sem uma decisão concreta sobre o que fazer e se esforçou para que a noite de apresentação tirasse da sua cabeça as dúvidas que lhe perseguiam.
Naquele momento enquanto caminhava em direção à casa do avô para aproveitar o dia livre que tinha na semana, ela repassava as palavras que usaria ao contar-lhe a verdade.
Será que ele pediria para ela ficar?
Ao chegar em frente a casinha branca bateu palmas e esperou José aparecer liberando a entrada. Foi recebida com um abraço caloroso que ela ainda não estava tão acostumada a receber.
— Tá sentindo o cheirinho? Tem um bolo assando pra gente.
O avô falava com entusiasmo mas Ana só conseguia pensar no que Tiago e a Lulu haviam falado sobre os bolos do avô.
Engoliu em seco e deu um sorriso amarelo quando ele tirou o bolo do forno e caminharam em direção a área para sentarem na mesa.
— Vamos ver como ficou. — José falou com um sorriso no rosto que foi logo se apagando ao olhar para o bolo que parecia estar "solado" — Talvez não esteja tão ruim assim.
Enquanto falava ele cortava duas fatias generosas e colocava nos pratinhos que já estavam na mesa.
— Bem, vamos atacar.
Ana sorriu amarelo novamente enquanto comia um pedaço. Esforçou-se para não fazer careta quando o sabor nada agradável espalhou pela boca.
— Era uma receita da sua avó, mas o dela não ficava com esse gosto e aparência.
Os dois riram cúmplices enquanto Ana forçava-se a comer mais um pedaço para não magoar o avô.
— Já chega, não dá pra comer isso. — José exclamou levantando-se e pegando os pedaços para jogar no lixo.
Ana não ofereceu resistência.
— Não está tão ruim assim, podemos ir na padaria comprar alguma coisa.
— Desse jeito você fere o orgulho desse velho aqui, minha filha. — José falou semicerrando os olhos na direção de Ana, mas soltou uma gargalhada em seguida indo novamente em direção à cozinha — Eu imaginei que isso aconteceria, e por isso, temos salgados que estão deliciosos.
Voltou trazendo uma vasilha com alguns mini salgadinhos que pareciam apetitosos.
— Eu não levo jeito pra confeitaria, nem mesmo os cadernos da minha Eunice conseguem ajudar. Mas eu não desisto.
— Ela gostava de cozinhar?
— Amava. Tinha todas as receitas que fazia anotadas mesmo que já soubesse os ingredientes e passo a passo de cor. As comidas dela eram sem comparação, o Tiago pode confirmar isso.
Ana sorriu notando o brilho que aparecia nos olhos do avô sempre que falavam sobre ela.
Olhou para dentro da casa lembrando-se da parede cheia de retratos e se perguntou novamente o que havia acontecido com sua tia.
— Posso fazer uma pergunta? — Questionou de forma tensa e viu o sorriso morrer no rosto do avô que a encarou com seriedade.
— Claro minha filha, eu disse que contaria tudo.
Com medo das respostas que obteria Ana pegou um salgadinho e colocou na boca mastigando devagar para adiar a pergunta.
— Pode perguntar o que quiser, eu prometo que vou responder. — José envolveu a mão de Ana com a sua enquanto a olhando com carinho.
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Descanso em Seu Olhar
SpiritualAs cores sempre tiveram um fascínio sobre ela e o circo conseguia reunir todas elas em um espetáculo que lhe tirava o fôlego na infância, e lhe apresentava novas oportunidades na juventude. Ana sabia bem o que queria: estar o mais longe possível de...