Capítulo Dezessete

76 8 48
                                    

— Você sabe que só estou indo por sua causa — Ana falou enquanto calçava um tênis preta e levantou os olhos mirando-se no espelho.

— Que nada, você vai porque prometeu ao Tiago, e também tem seu avô, você combinou que iria até a casa dele depois, não foi?

Ana resmungou alguma coisa enquanto amarrava uma camisa jeans na cintura e ajeitava seu vestido.

— Aí está o problema, não deveria ter prometido nada, a nenhum deles.

— Você disse que não queria perder a oportunidade com seu avô e não sei como você faria isso se trancando no trailer.

Sabendo que a amiga estava certa, Ana apenas suspirou alto e fechou as mãos com força numa tentativa de livrar-se das emoções que bagunçavam sua cabeça.

Estava vivendo constantemente em uma confusão de sentimentos. Embora quisesse mais do que tudo viver em família com o avô, ainda se sentia traída e volta e meia queria dar vazão à sua mágoa e fingir que nada daquilo importava pra ela.

Mas o fato é que importava — muito —, e por isso havia decidido aproveitar a oportunidade que tinha pois não queria sentir de novo o terror que havia sentido quando o avô desmaiou bem na sua frente e ela não pôde fazer nada.

— Você tem razão — olhou para a amiga antes de continuar —, só que as vezes é mais fácil apenas fugir. Me sinto tentada a fazer isso.

— Mas não vai, eu sei que não vai. Eu vi a forma que você olha para seu avô, eu sei que você não teria coragem de simplesmente sair de perto dele.

Ana arqueou a sobrancelha numa expressão de desafio que apenas fez Pietra sorrir enquanto terminava de se arrumar.

— Eu te conheço amiga, não adianta negar. Você chegou até aqui então eu sei que agora vai até o fim.

Terminaram de se arrumar e saíram em direção a praça para encontrar Tiago e sua “trupe”. A noite estava linda e a cidade parcialmente vazia. Ana já havia notado que as noites de meio de semana eram quase sempre solitárias naquela cidade, e enquanto observava o caminho que seguiam ela pensou novamente em como seria morar ali.
Chegando perto da praça ouviram o barulho característico de jovens reunidos e ao ver Tiago conversando com uma moça, passou a observá-lo. A camiseta polo de sempre havia sido substituída por uma camisa de manga curta azul claro, e mesmo sem vê-lo de perto ela podia jurar que isso havia acentuado ainda mais a cor dos olhos dele.

— Quem é aquela menininha fofa?

— Se eu te falar que é filha do Tiago você acreditaria?

— Jamais — Pietra riu da amiga mas fez uma expressão surpresa ao perceber que não era uma brincadeira — Sério? Nunca imaginaria.

— Bom, parece que ele também tem uns esqueletos no armário...

Deu de ombros enquanto chegavam na roda no centro da praça, e Ana tentou evitar que os olhares sobre ela a deixassem tão desconfortável.
— Olha, a moça que voa papai. — Ana Luísa falou apontando para Ana deixando-a mais envergonhada, e Tiago voltou-se para elas abrindo um sorriso.

— Estava esperando vocês, achei que não viriam…

— Pois estamos aqui. Eu também cumpro minhas promessas.

Tiago sorriu ainda mais entendendo a referência e colocando a filha sentada no banco abriu espaço para que Ana e Pietra também se sentassem.

— Quero sentar do lado dela, papai. Deixa?

Tiago olhou para Ana parecendo envergonhado mas ela acenou afirmativamente dando um sorriso gentil para a menina que sentou-se ao seu lado olhando-a com um sorriso de orelha a orelha.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora