— Você sabe que só estou indo por sua causa — Ana falou enquanto calçava um tênis preta e levantou os olhos mirando-se no espelho.
— Que nada, você vai porque prometeu ao Tiago, e também tem seu avô, você combinou que iria até a casa dele depois, não foi?
Ana resmungou alguma coisa enquanto amarrava uma camisa jeans na cintura e ajeitava seu vestido.
— Aí está o problema, não deveria ter prometido nada, a nenhum deles.
— Você disse que não queria perder a oportunidade com seu avô e não sei como você faria isso se trancando no trailer.
Sabendo que a amiga estava certa, Ana apenas suspirou alto e fechou as mãos com força numa tentativa de livrar-se das emoções que bagunçavam sua cabeça.
Estava vivendo constantemente em uma confusão de sentimentos. Embora quisesse mais do que tudo viver em família com o avô, ainda se sentia traída e volta e meia queria dar vazão à sua mágoa e fingir que nada daquilo importava pra ela.
Mas o fato é que importava — muito —, e por isso havia decidido aproveitar a oportunidade que tinha pois não queria sentir de novo o terror que havia sentido quando o avô desmaiou bem na sua frente e ela não pôde fazer nada.
— Você tem razão — olhou para a amiga antes de continuar —, só que as vezes é mais fácil apenas fugir. Me sinto tentada a fazer isso.
— Mas não vai, eu sei que não vai. Eu vi a forma que você olha para seu avô, eu sei que você não teria coragem de simplesmente sair de perto dele.
Ana arqueou a sobrancelha numa expressão de desafio que apenas fez Pietra sorrir enquanto terminava de se arrumar.
— Eu te conheço amiga, não adianta negar. Você chegou até aqui então eu sei que agora vai até o fim.
Terminaram de se arrumar e saíram em direção a praça para encontrar Tiago e sua “trupe”. A noite estava linda e a cidade parcialmente vazia. Ana já havia notado que as noites de meio de semana eram quase sempre solitárias naquela cidade, e enquanto observava o caminho que seguiam ela pensou novamente em como seria morar ali.
Chegando perto da praça ouviram o barulho característico de jovens reunidos e ao ver Tiago conversando com uma moça, passou a observá-lo. A camiseta polo de sempre havia sido substituída por uma camisa de manga curta azul claro, e mesmo sem vê-lo de perto ela podia jurar que isso havia acentuado ainda mais a cor dos olhos dele.— Quem é aquela menininha fofa?
— Se eu te falar que é filha do Tiago você acreditaria?
— Jamais — Pietra riu da amiga mas fez uma expressão surpresa ao perceber que não era uma brincadeira — Sério? Nunca imaginaria.
— Bom, parece que ele também tem uns esqueletos no armário...
Deu de ombros enquanto chegavam na roda no centro da praça, e Ana tentou evitar que os olhares sobre ela a deixassem tão desconfortável.
— Olha, a moça que voa papai. — Ana Luísa falou apontando para Ana deixando-a mais envergonhada, e Tiago voltou-se para elas abrindo um sorriso.— Estava esperando vocês, achei que não viriam…
— Pois estamos aqui. Eu também cumpro minhas promessas.
Tiago sorriu ainda mais entendendo a referência e colocando a filha sentada no banco abriu espaço para que Ana e Pietra também se sentassem.
— Quero sentar do lado dela, papai. Deixa?
Tiago olhou para Ana parecendo envergonhado mas ela acenou afirmativamente dando um sorriso gentil para a menina que sentou-se ao seu lado olhando-a com um sorriso de orelha a orelha.
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Descanso em Seu Olhar
SpiritualAs cores sempre tiveram um fascínio sobre ela e o circo conseguia reunir todas elas em um espetáculo que lhe tirava o fôlego na infância, e lhe apresentava novas oportunidades na juventude. Ana sabia bem o que queria: estar o mais longe possível de...