Capítulo Quinze

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Sentada no banco da praça, Ana balançava os pés furiosamente tentando afastar o nervosismo que sentia. Tiago estava dez minutos atrasado e ela esforçou-se para tirar da cabeça a idéia de voltar para o circo e fingir que aquele encontro nunca havia sido marcado.

— Mil perdões pelo atraso...

A voz dele soou atrás de si e ela virou-se para encará-lo.

— Você é sempre assim tão formal?

Observou Tiago sorrir da sua pergunta e notou as ruguinhas que se formavam ao redor dos seus olhos.

— Acho que sim, não sou a melhor pessoa para te responder isso...

Ana sorriu com cautela e limpou as mãos suadas na calça rasgada que vestia.

— Pronta?

— Não sou a melhor pessoa para te responder isso... — brincou ao devolver sua resposta numa tentativa de disfarçar o nervosismo.

Mais cedo naquele dia quando Tiago havia passado no circo dizendo que se quisesse iria com ela visitar o avô, Ana achou que estava tomando a decisão certa mas naquele momento tudo que queria era uma desculpa para poder voltar atrás.

Decidiu mudar o foco da conversa do encontro difícil que teria.

— Eu sei que concordamos que isso não é da minha conta, mas quantos anos sua filha tem?

— Eu nunca disse isso, não seria tão rude...

Ana sorriu de forma sarcástica.

— Mas se esquivou de me dar detalhes, pra mim, é quase isso... — sorriu com ironia e continuou: — Ela parece ter uns cinco anos.

— Acertou em cheio.

— Quando te vi a primeira vez nunca imaginaria que já era pai — olhou para a mão esquerda dele ao continuar —, você é novo, não usa aliança de casamento e não parece o tipo de cara que seria pai solteiro.

Observou os ombros dele retesarem e percebeu que estava tocando novamente em um ponto delicado.

— Que tipo de cara eu pareço ser?

Analisou-o por uns minutos observando como ele havia se esquivado da pergunta que ela deixara implícita.

— O cara certinho, daqueles poucos que ainda existem. Eu diria que mora com os pais, tem uma namorada dos tempos do colégio e planejam o casamento para quando os dois terminarem a faculdade. E não poderia faltar uma casa quase pronta para mudarem assim que o casamento sair já que quem casa quer casa...

Um silêncio carregado de muitas perguntas não feitas caiu entre eles, e Ana viu-se obrigada a falar novamente:

— Mas levando em conta que tem uma criança e nenhuma aliança na jogada, acho que errei em uma boa parte das minhas suposições.

Ele riu de forma melancólica e Ana esperou que falasse alguma coisa.

— Bom, não moro com meus pais, não tenho uma namorada ou esposa do tempo do colégio e muito menos uma casa no meu nome — suspirou com pesar ajeitando a mão no bolso da calça antes de continuar —, mas já tive quase tudo isso...

Ana continuou em silêncio absorvendo a informação.

— Agora é com você decidir se eu passei ou não nesse teste.

— As informações ainda são imprecisas.

Ele deu de ombro com um meio sorriso e continuou:

— Na verdade não acho que eu esteja em algum dos extremos — olhou para Ana para conferir se ela estava entendendo —, não sou esse cara perfeito que você imaginou, mas também não estou do outro lado da escala de caráter. Só tento viver cada dia aceitando as consequências dos meus atos e fazendo o melhor que posso para não errar outra vez.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora