Capítulo Treze

73 9 56
                                    

Não dava para saber exatamente quanto tempo eles estavam sentados nas cadeiras desconfortáveis da recepção do hospital. As lágrimas haviam secado há uns bons minutos, mas os pensamentos continuavam correndo freneticamente dando-a uma sensação de cansaço mental que talvez nunca antes tivesse experimentado.

Ao seu lado Tiago permanecia quieto, com os olhos fechados. Vez ou outra havia tentado puxar assunto, mas não obtendo respostas pareceu entender que tudo que ela precisava era de espaço para respirar com facilidade.

Tinha sido ele quem preenchera as papeladas necessárias para o atendimento de José enquanto ela apenas continuou lá sentada tentando assimilar tudo que estava acontecendo.

— Vocês são os familiares do senhor José? — A médica que o havia atendido chegou à recepção naquele momento olhando para os dois com suavidade, e Ana não soube muito bem o que responder.

— Ele não tem familiares por perto, mas é amigo íntimo da minha família.

O olhar analítico da médica se estreitou em reconhecimento, e ela abriu um sorriso mínimo ao responder.

— Não deveria passar informações a não ser para familiares... — Foi interrompida pela voz esbaforida de Ana.

— Eu sou neta dele. Por favor, me diz o que está acontecendo.

O olhar de Tiago corria dela para a médica com curiosidade, e a sobrancelha levemente arqueada transmitia a pergunta que ele vinha tentando fazer desde que sem querer ela havia soltado essa mesma verdade.

— Certo. O José é um paciente hipertenso e diabético, e isso em si já é um fator de risco para qualquer miocardiopatia. No momento descartamos o infarto devido ao resultado de alguns exames, e também pelo fato dos sintomas terem sido mais leves. O que eu preciso saber agora é se ele passou por alguma forte emoção...

Tiago olhou para Ana com um questionamento, e como ela não respondeu coisa alguma, ele surgiu em seu socorro:

— Não estava com ele no momento, cheguei a tempo apenas de trazê-lo para o hospital. Mas acho que tem essa possibilidade.

A médica olhou para Ana e continuou:

— O que estamos considerando agora seria uma cardiomiopatia de Takotsubo, que é mais conhecida como síndrome do coração partido. Geralmente nesses casos, quando exposto a um evento de forte emoção, o coração reage com sintomas parecidos a de um ataque cardíaco. Mas a recuperação, felizmente, é mais rápida.

Os dois respiraram um pouco aliviados, e Ana sentiu algumas lágrimas de alegria descerem pelo seu rosto.

Tomando novamente o controle da situação, Tiago voltou-se para a médica:

— E quando poderemos levá-lo para casa? Ele ficará com alguma sequela?

— Ele precisa de alguns dias de repouso, e também precisamos observar se haverá alguma evolução no caso, para algo mais grave. O que vocês precisam saber é que agora ele está estável, e quando sair do hospital precisará de todo cuidado que vocês puderem oferecer. Quanto a sequelas, acredito que não fique com nenhuma, mas precisamos esperar para ter certeza — fez uma pausa olhando para os dois com seriedade e continuou —, se quiserem vê-lo agora posso abrir uma exceção.

Ana ficou paralisada por alguns minutos sem saber se seguia em direção ao quarto ou se passava pela porta da saída fingindo que nada daquilo havia acontecido.

— Você vai entrar? — Tiago olhava para ela com cuidado.

— Não sei se devo... — Os olhos aturdidos dirigiam-se para todos os cantos da sala onde estavam, evitando ao máximo olhá-lo.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora