A noite que caía lentamente envolvendo a cidade em seus braços negros, parecia calma o bastante para Ana conseguir aquietar o coração. A conversa entre Tiago e Pietra fluía com uma naturalidade que ela não conseguia acompanhar, e vez ou outra eles faziam-lhe uma pergunta tentando incluí-la na história.
Com uma olhada de canto de olho observou a roupa que ele usava em busca de alguma pista sobre a pessoa que ele era, mas não encontrou nada de muito importância — a não ser que o jeans escuro, e a camiseta de gola polo estivessem dizendo algo que ela não era capaz de entender.
— Você tinha que ver ela enfrentando o brutamontes que chamamos de patrão, parecia a mulher maravilha... — soou a voz de Pietra em um gracejo.
— Aposto que quase perdi meu emprego por ter discutido com o Mustafá na frente de todo mundo. — Suspirou resignada entrando na conversa e lembrando-se da briga no dia da queda. As palavras que ele havia dito ainda lhe causavam arrepios.
— Então temos uma heroína entre nós?
Os olhos de Tiago brilhavam divertidos, e passou pela cabeça de Ana tantas outras coisas sobre ela que ele não sabia — e que muito provavelmente nunca seria próximo o bastante para poder descobrir.
— É só mais um dos meus charmes. — Devolveu o sorriso com uma piscadela sentindo-se um tanto quanto corajosa.
Tiago, olhou-a um pouco surpreso e desconcertado, e desviou o olhar para a rua em que estavam andando.
Observando o caminho que já era conhecido para ela percebeu que a praça que ele estava falando provavelmente era a mesma onde esteve com Rick as duas vezes em que se encontraram. Sorriu discretamente tentando adivinhar como o garotinho estaria uma hora dessas.
Será que ele teve tempo de encontrar a tal Lulu novamente?
— Estamos indo numa praça que tem um parquinho?
— Sim, na verdade é a única praça que temos por aqui.
— Parece que você está mais por dentro dos "pontos turísticos" da cidade do que eu poderia imaginar... — Pietra sorriu brincalhona.
— Encontrei o Rick lá duas vezes. E ele me faliu com sorvetes.
— Se esse Rick for o mesmo que eu estou pensando, você não sabe o que te espera.
Ana olhou para ele e soltou uma gargalhada pensando que já tinha uma ótima ideia do que a esperava desde o primeiro encontro com o garoto.
— Te garanto que eu sei. Ele é tão teimoso quanto a Pietra, e te juro que até esses dias eu jurava que isso era impossível. Mas em defesa dele, é só usar sorvete como moeda de troca, que ele logo amolece.
Recebeu um tapa no braço, dado pela amiga e desviou-se de um segundo soco que ela tentou desferir.
— Eu sempre sou a culpada de tudo, vai vendo... — Pietra, limitou-se a dizer.
Ana observou o rapaz ao seu lado que parecia divertir-se com a brincadeira entre as duas amigas e notou o espaço que ele deixava entre eles; talvez ele ainda tivesse medo que ela lhe atacasse dado ao primeiro encontro que tiveram.
Sentiu as bochechas coradas e lamentou-se mais uma vez por não ter controle sobre suas atitudes quando ficava bêbada.
Mas afinal, não era justamente isso que buscava quando bebia?
Chegaram à tal praça e Ana observou com mais atenção, vendo que havia muito mais ali que o parquinho no qual ela tinha se concentrado. Já de noite viu as luzes que estavam espalhadas pela praça dando uma iluminação especial aos bancos que ladeavam o espaço embaixo das frondosas árvores.
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Descanso em Seu Olhar
SpiritualAs cores sempre tiveram um fascínio sobre ela e o circo conseguia reunir todas elas em um espetáculo que lhe tirava o fôlego na infância, e lhe apresentava novas oportunidades na juventude. Ana sabia bem o que queria: estar o mais longe possível de...