Capítulo Dez

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Dois dias haviam se passado em uma realidade monótona sem nenhuma novidade. Ana mantinha na cabeça o encontro com o avô e tentava decifrar qual deveria ser seu próximo passo, sem êxito. Pietra, sempre fazia questão de deixar sua opinião totalmente clara sobre o assunto, ao mesmo tempo que tentava dar espaço para que ela tomasse suas próprias decisões; era um equilíbrio que Ana questionava como a amiga conseguia manter, sentindo que ela mesma estava na berlinda entre esconder-se completamente ou ir como uma louca ao encontro de José contar toda a verdade.

Enquanto caminhava ao lado da amiga pela cidade à procura de uma loja de doces, ela observava os lugares por onde passavam, imaginando que talvez gostaria de morar ali. Era uma cidade pequena, calma, que dava-lhe a sensação de estar totalmente isolada do mundo, ao mesmo tempo que tinha nela tudo que era necessário para a sociedade, mostrando que apesar de pequena era muito bem organizada.

Aparentemente era horário de saída das escolas, pois na rua onde passavam, viam-se vários adolescentes de uniforme e mochila nas costas, fazendo a algazarra típica dessa idade. Ela sorriu com tristeza lembrando dos seus anos do ensino médio.

— Finalmente encontramos — Exclamou Pietra ao chegaram à uma pequena loja de artigos para festas, e continuou, de forma afetada. — Doces, aí vou eu...

Rindo da amiga que como sempre, agia de forma exagerada, deixou-se ser puxada para dentro do pequeno ambiente e respirou fundo o cheiro característico que lembrava-lhe uma só coisa: açúcar.

Podia não ser saudável, mas para as duas, nada substituia o sagrado brigadeiro; e o estoque que elas sempre mantinham no trailer de Ana, já havia acabado, o que significava que era hora de repor.

— Brigadeiro e beijinho? — Pietra questionou ao chegarem a pequena prateleira repleta de potes de doces.

— Sim, dá última vez não compramos beijinho e fiquei morrendo de vontade de comer.

Enquanto colocavam alguns potes na cesta de compras, Ana observou o lugar e a forma que tudo era organizado — ou melhor, desorganizado. E quando dirigiram-se até o caixa para pagar suas compras, viu do outro lado da loja uma cabeleira meio branca que reconheceu ser do seu avô.

Contrariando sua vontade, sentiu-se paralisada quando ele voltou a atenção para ela e deu-lhe um sorriso. Sua cabeça em polvorosa dizia que o melhor era sair dali correndo para evitar qualquer contato enquanto ainda não sabia o que devia fazer; mas seu corpo parecia não querer sair dali de nenhuma forma e viu-se retribuindo um sorriso nervoso.

Pietra que havia terminado de pagar pelas compras, cutucou a amiga que estava em êxtase tentando fazê-la voltar a realidade.

— Vamos amiga, já paguei e quero logo abrir um pote desses...

Parecendo finalmente notar a apreensão da amiga, voltou sua atenção até o senhor que então estava na frente das duas, percebendo o que estava acontecendo.

— Ôh ôh, e lá vamos nós...

Ana deu-lhe um cutucão numa tentativa de fazê-la ficar calada pois sabia muito bem que a amiga podia perder o freio da boca nas piores situações.

— Bom dia minha filha, que coincidência maravilhosa. — José parecia realmente feliz por encontrá-la novamente, e abriu um sorriso ainda maior ao notar Pietra ao lado dela. — E você deve ser a Pietra...

As duas arregalaram os olhos em surpresa o que fez com que ele risse da expressão delas.

— Não sabia que eu era tão conhecida assim... — Pietra disse com um sorriso, cumprimentando José com educação, ao ver que a amiga não parecia capaz naquele momento, de formular qualquer palavra.

Descanso em Seu OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora