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O parque estava bastante movimentado hoje.

Haviam algumas barraquinhas de fast food espalhadas por todo o local. Passei por um cara que vendia algodão doce enquanto várias crianças o seguia e ele apenas ria e ficava pedindo pra elas não correrem senão iriam se machucar.

Também havia uma lanchonete do outro lado da rua, e uma fonte de água no meio do parque. Alguns casais e familiares espalhados por aí. Parecia até comercial de gente rica, onde todo mundo é tão feliz, sabe?

Eu tinha isso. Sim...eu tinha.

Vinha bastante aqui com os meus pais, eu adorava correr pela grama, jogava moedas na fonte e toda vez fazia um pedido diferente. Soltava pipa com o meu pai e comia algodão-doce adoidado.

Era bom...era muito bom.

Mas então minha mãe resolveu ir embora sem nem mesmo se despedir de mim e aí tudo desmoronou, como um castelo de cartas, foi tudo ao chão.

Eu não sei dizer o motivo dela ter feito isso, porque foram vários fatores que a levou a desistir da nossa família e ir embora. Nos meus dez anos, ela descobriu que seu pai estava com uma doença hereditária rara, chamada Fibrose Cística. Quando ela descobriu sobre isso, desabou completamente. Eu conseguia ouvir mamãe chorar todas as noites no seu quarto, rezando sozinha por alguém, mas naquela época eu não entendia muita coisa e não sabia por quem ela rezava.

Hoje em dia eu sei. Ela rezava todas as noites por mim.

Ela temia que, como era uma doença hereditária, poderia ter passado pra mim e nem sabia. Ela mesma poderia ter, mas mamãe sempre escolheu rezar por mim, apenas a mim.

O vovô faleceu um ano depois da descoberta da doença. Então minha mãe se desligou completamente do mundo. Quase nunca conversava comigo e o pai na hora da janta, nunca mais beijou minha testa antes de eu ir pra escolinha, e ignorou o pai como se ele nunca tivesse existido. O casamento deles estava desmoronando aos poucos, assim como a nossa família.

Então veio toda a desgraça. Papai começou a beber, mamãe só se importava com o trabalho e pagar as contas da casa, e eu fiquei isolado, deixado de lado pelo os dois.

No meu aniversário de doze anos, nenhum dos dois se lembraram. Não compraram um bolo como faziam todos os anos, não me deram parabéns nem nada, como se eu não existisse mais.

E poucos meses depois, ela se foi. Assim, do nada. Foi de repente mesmo. Acordou num dia qualquer, fez nosso café da manhã, disse que estava indo trabalhar e nunca mais voltou.

Eu lembro bem desse dia, lembro que não consegui dormir, chorei a noite inteira no meu quarto. Faltei as aulas da escola por quase um mês inteiro. Papai não trabalhava, era ela quem nos sustentava porque ele havia sido demitido e não conseguiu nenhum outro emprego na vida. Então ficamos falindo aos poucos.

Eu tive que começar a trabalhar desde cedo para me sustentar. Nos meus quinze anos eu já fazia bicos pela as ruas, aceitava de tudo, para sempre ter uma refeição em casa no final da noite. Fui faxineiro, atendente e até lavador de carros.

Hoje em dia, trabalho meio período como garçom num restaurante que fica há uma hora de casa. Esse é o que está durando mais, já estou nele uns bons cinco meses. O salário não é perfeito, mas dá pra pagar as contas e comprar os alimentos de casa. As vezes eu imploro até pra fazer hora extra quando preciso pagar as contas atrasadas que se acumulam por conta das bebidas que o meu pai compra pra ele no lugar de pagá-las.

Minha vida não é fácil, eu sei. Mas é a vida que eu tenho, e eu pretendo sobreviver até o fim.

ㅡ Ei.

Pisco devagar e me viro, encontrando ele parado com as mãos em frente ao corpo e o olhar sereno na minha direção, com a feição séria e fechada.

Sorrio fraco e me recomponho, jogando meus pensamentos para longe.

ㅡ Oi leãozinho.

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oieee

postei cedo porque hoje a tarde pretendo postar mais um cap :))

chegamos a 1K de leituras, obgg ♡

𝐓𝐡𝐞 𝐛𝐨𝐲 𝐨𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐛𝐫𝐢𝐝𝐠𝐞 ⁿᵒˢʰ [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora