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Quando acordei na sexta-feira não senti a mínima vontade de levantar da cama.

Permaneci aqui, enrolado nas cobertas ㅡporque em algum momento da madrugada fez um frio do caramba e o gênio aqui prefere dormir só de cuecaㅡ e olhando para o teto de cor sem graça, completamente absorto do mundo a minha volta.

Fitei a janela aberta, depois desviei o olhar para o meu guarda-roupa fechado, em seguida encarei a porta trancada, e por fim, voltei a olhar o teto.

Estava entediado.

E ainda era sete horas da manhã.

Ouvi passos pelo corredor do lado de fora do quarto, e segundos depois batidas foram ouvidas na minha porta.

Espera, batidas?

Franzi o cenho e me forçei a levantar a cabeça minimamente, fitando aquela porta com a maior confusão no rosto. Ele nunca bate. Nunca.

ㅡ Josh?

Franzi mais ainda o cenho. Ele também nunca me chama pelo nome, é sempre “moleque”.

O que está acontecendo hoje?

ㅡ Está acordado?

Eu travei, literalmente. Não é todo dia que isso me acontece. A última vez que ele me chamou pelo nome foi quando queria...ah.

É claro.

Suspirei cansado e me levantei da cama, me arrastando até a porta. Nem pus roupa alguma, acordei muito indisposto hoje. Toquei na maçaneta e a girei, dando de cara com ele parado a minha frente, todo arrumadinho e um sorrisão no rosto, este que morreu assim que me analisou da cabeça aos pés.

ㅡ Não sabe usar roupas, Josh?ㅡ seu tom de voz foi calmo, mas senti uma pontada de repreensão.

Quando ouvi um pigarro foi que percebi que havia uma terceira pessoa presente. Virei meu rosto e encarei com desânimo a mulher em pé, quase agarrada a ele. A analisei cuidadosamente, vestia uma saia colada nas pernas e uma blusa de botões branca. Um colar bem bonito e brilhante adornava o seu pescoço, assim como jóias nos seus dedos e pulsos. Um batom extravagante nos lábios e saltos bem grandes nos pés.

Aposto que é podre de rica.

Soltei um riso descrente. Como meu pai é sem vergonha.

ㅡ Emma, esse é Josh, meu filho. ㅡele nos apresentou, sorrindo para a mulher. Vi claramente ela me olhar da cabeça aos pés bem devagar, se demorando mais nas minhas pernas e tronco, então sorriu abertamente, com todos os dentes mesmo. Me esticou a mão e me lançou um olhar sugestivo.

Credo, parece até que vai pular em cima de mim e me devorar.

Fiz uma careta mas logo aceitei seu cumprimento, forçando um sorriso simpático.

ㅡ Não vai pra aula, filho? Já são sete horas, vai se atrasar.

Filho.

Que piada.

Abaixei a cabeça e ri, quase gargalhei, tanto de nervoso como de descrença. Voltei a o encarar e suspirei.

ㅡ Eu não estou passando muito bem. Vou faltar hoje. ㅡo respondi. Vi ele se segurando para me dar um sermão mas por fim, ficou quieto.

E eu apenas sorri. Sorri muito.

ㅡ Tudo bem, fique em casa e melhore.ㅡ ele pousou a mão no meu ombro, afagando de um jeito estranho, e sorriu.ㅡ Eu vou sair com a Emma, vamos almoçar fora. Volto mais tarde.

Fiz minha maior cara de tanto faz e dei um último sorriso para a mulher que ficou me secando o tempo inteiro, ela acha mesmo que estava disfarçando ou estava realmente querendo deixar claro que me queria? Isso é absurdo demais, que nojo.

Fechei a porta logo em seguida e voltei a me jogar na cama.

Incrível como ele só me trata como um filho de verdade quando quer me apresentar uma mulher nova. Que desgraçado.

Me virei na cama, ficando deitado de lado e busquei pelo meu celular.

Haviam duas mensagens novas, de duas pessoas diferentes. Nossa, que estranho. Eu nunca recebo mensagens de ninguém, e receber logo duas de uma vez? Estou surpreso.

Número desconhecido:
ei, josh beauchamp?

Você:
quem quer saber?

Número desconhecido:
sou a sabina, da sua turma, eu sempre me sento na carteira ao lado da sua.

Você:
ah, a garota dos desenhos! pô, curto muito seus rabiscos, não querendo ser invasivo nem nada, mas as vezes eu fico bisbilhotando vc desenhar.

Número desconhecido:
ah, obrigada..? kk

Você:
mas e aí, o que vc quer?

Número desconhecido:
então, queria te perguntar se vc está afim de entrar no nosso grupo de estudos?

Você:
hãn

Número desconhecido:
ok, deixa eu explicar melhor. eu participo de um grupo de estudos com mais três pessoas, eles são meus amigos, gente boa prometo. nos encontramos três dias na semana depois da aula. e eu reparei que vc é um aluno bem estudioso e dedicado, tenho certeza que quer se formar com boas notas, e descobri que não é um babaca como os outros garotos da classe, então..? o que acha?

Você:
me chamou de estudioso então já sei que é doida. olha, não sei se vou querer participar disso aí, não sou muito de socializar, sabe? ter que conversar com gente que não conheço e tals, não é comigo

Número desconhecido:
mas os professores dão nota extra pra quem participa de um grupo de estudos

Você:
aí me interessou Sabina, conte-me mais

Número desconhecido:
se vc estiver precisando de boas notas em tal matéria, consegue fácil só entrando num grupo de estudos. só precisa participar, não é obrigado a virar amigo da gente..

Você:
hm, tá, ok

Número desconhecido:
vai entrar???

Você:
calma não me coloca pressão! vou pensar, ok?

Número desconhecido:
ta bom, me avisa quando se decidir

Meu Deus. Grupo de estudos? Eu, estudioso e dedicado? Caramba, eu to aqui faltando aula porque apenas estou indisposto e ela me diz isso?

Mas enfim, gostei da idéia de notas extras, talvez eu aceite, não sei.

Rolei a tela do celular e fui para a próxima mensagem. Era dele. Noah.

Leãozinho:
vou te pedir um favor

Você:
outro? sabe que já está me devendo um, não é?

Leãozinho:
que saco, deixa pra lá

Você:
agora já aceitei, e está me devendo dois. fala aí!

Leãozinho:
argh!!

Leãozinho:
preciso que me ajude a comprar uma coisa

Você:
uhum, o que é?

Leãozinho:
me encontra no parque daqui a meia hora, tchau!

Nossa, que grosso e mal educado, viu?

Nem me disse o que queria comprar. E como assim precisa de ajuda numa coisa dessas?

Nem perdi tempo, me levantei da cama e fui direto pro banheiro, já estava mesmo querendo vê-lo hoje.

Sorri meio bobo e fui para debaixo do chuveiro.

𝐓𝐡𝐞 𝐛𝐨𝐲 𝐨𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐛𝐫𝐢𝐝𝐠𝐞 ⁿᵒˢʰ [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora