Assim quê tia Lídia nos deixou no meu prédio, nos subimos em total silêncio, dava pra ver que ela estava tentando encontrar as palavras ou a coragem, por isso não a questionei.
Entramos e como fazíamos na casa dos meus pais, momento de meninas era o momento de comer besteiras, então fomos direto no armário da cozinha e pegamos bolachas recheadas, salgadinhos, refrigerantes, uma caixa de bom bom's, alguns pacotes de Fini e um pote de nutella e fomos pro meu quarto rindo juntas da nossa guludisse.- Bom agora que estamos abastecidas, vestidas confortavelmente e escutando uma boa música... Me conta, o que você quis dizer com 'não queria que ninguém o machucasse'? Quem machucaria o Lucas? E por quê?
Ela me encarou e colocou uma colher de nutella na boca, estávamos sentadas no tapete do meu quarto, de pijama fofinho, ouvindo músicas aleatórias na TV.
- Acho que pra você entender tudo, é mais fácil eu começar do início...
Tomando um pouco de Coca ela respirou fundo e começou a falar.
- Você sabe que conheci o Lucas em uma festa, aquela da Brenda Luize que seu pai não deixou você ir... Então, nos conhecemos e era tudo lindo e maravilhoso, como eu te contava, na maior parte do tempo. As vezes ele era muito grosso e controlador, mas na época eu pensei comigo, 'todos tem seus defeitos certo?!'... Mas ai eu apresentei vocês e você não foi com a cara dele e nem ele com a sua, mas eu já estava caidinha por ele e você é minha melhor amiga da vida, então eu fiz muito malabarismo pra poder manter as duas relações equilibradas. Eu sei que você sempre me apoiou em questão do meu relacionamento com ele, e sei que nunca brigaria comigo se não tivesse tempo pra você... Mas ele brigava. Sempre que falava que ia sair com você ou ficar na sua casa era uma briga, então parei de falar... E passei a sempre que podia, a dormir lá com ele, pra ele ver que queria mesmo que desse certo...
Ela abaixou o olhar e eu soube que agora que a história ia ficar difícil de escutar.
- ... Nos começamos a ficar muito íntimos e muito rápido, e as coisas foram piorando, mas eu não queria ver, eu não queria acreditar, então sempre que me perguntavam sobre nosso namoro, eu falava que estava tudo lindo e perfeito... Mas não era assim, brigavamos muito e vivíamos de aparência... Mas ele sabia bem como fazer as coisas, sempre me convencia que me amava ou que a culpa era minha ou as vezes que ele estava errado, mas eu que tinha provocado ele até o limite.
- Espera... Então você está me dizendo que você viveu quase dois anos de um relacionamento abusivo? E nunca me falou nada?
- Sim... E não só isso... Agressivo também... Por isso disse que não queria que ninguém o machucasse. Por que se eu te falasse que aquela vez que você presenciou ele me empurrando não foi a única, você com certeza não ficaria calada, e sucessivamente o Jeremy não ia aceitar e ia atrás dele. Eu sei que mesmo eu e seu irmão não sendo grandes amigos... Ele não ia deixar pra lá. Eu o conheço bem pra dizer com toda certeza que não ia.
- Não ele não ia... E nem deveria deixar pra lá... Jennifer ele te agrediu? Te machucou?
- Eu sei que agi feito uma idiota, hoje eu vejo isso... Mas ele era muito bom com as palavras e sempre me fazia perdoar ele... E sempre tomava o máximo de cuidado pra não me deixar marcas. Parecia as vezes que ele se transformava, mas mesmo transtornado ele sabia exatamente o que estava fazendo, por que ele nunca deixava provas. E quando deixava, o que era raro, me convencia de não mostrar pra ninguém e manter tampando... O que eu aceitava fazer, já que pra mim, aquilo era uma humilhação e eu que tinha provocado, então foi merecido o que me aconteceu... Lembra quando fui com uma blusa de gola rolê pra escola? E você ainda me perguntou se não estava com calor? Eu tava derretendo, mas meu pescoço estava machucado então aguentei o calor pra não dar explicações, porque não tinha uma boa explicação pra marca da mão dele, estar tão nítida no meu pescoço, mesmo se tentasse falar que exageramos no sexo selvagem, não ia colar, porque não ia conseguir mentir tão bem assim... Não para você.
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Militar Cilada
RandomSerá que duas pessoas que cresceram juntas, podem esquecer as circunstâncias, perdoar e se amar? E se suas famílias tivessem algo a ver com esse envolvimento? Será que algo forçado pode acabar bem? Mas e se no começo fosse verdadeiro? ...