Mas um mês se passou e ainda não sei quem é essa tal de Ingrid, meu casamento entrou em uma rotina cômoda para ambos, nem eu nem ele nos esforçamos para resolver o que claramente esta errado nessa relação, estamos claramente empurrando com a barriga problemas claros de comunicação, e cada dia mais tenho certeza que tem algo acontecendo que eu não sei, ligações misteriosas, saídas que ele nunca esta onde diz estar e o fato que ele sempre, sempre esta estressado, mas o sexo é sempre ótimo.
Minha teoria é que com toda essa tenção clara entre nos, estamos os dois usando o sexo pra literalmente 'extravasar e camuflar' o que realmente esta acontecendo, estamos em crise.
Minha faculdade esta ocupando todo o meu tempo e capacidade de resolver problemas, não estou com cabeça para entrar em um assunto que vai gerar uma briga e possivelmente, muita dor de cabeça para ambos. Fiquei fraca e submissa a situação, estou com medo da verdade, porque sei que assim que descobrir tudo vai mudar, e meu 'conto de fadas' fajuto vai acabar.
Por medo de perder ele e o meu casamento (o qual eu de início não queria, mas agora só consigo pensar em proteger), não contei a ninguém o que realmente esta ou acho que esta acontecendo, pra todos nossa vida é linda e perfeita, o casal do ano que superou um início traumático e inusitado, se apaixonaram e vivem 'felizes para um futuro sempre', mas no fundo eu sinto que tem um cronômetro em contagem regressiva para o fim e estamos nos segundos finais.
Mas tudo isso pode também só ser fruto de alguma paranóia minha e eu só esteja com medo de que seja tudo verdade o que estou vivendo, porque pra ser honesta, tudo é realmente lindo e perfeito como em um sonho ou filme de comedia romântica que sempre tem aquele final obvio e previsível, mas que todas nos, mulheres românticas e apaixonadas, sonhamos em viver. Mas preferiria continuar a viver em uma mentira, do que o que esta por vir.- Oi princesa, estudando?
- Oi... Mais o menos, estou terminando um trabalho. Sua cara esta seria, aconteceu alguma coisa?
- Preciso conversar uma coisa com você, mas primeiro quero que saiba que não tenho escolha, que se dependesse de mim eu não iria mas é algo acima de mim, tudo bem?
- O que esta acontecendo? Esta me assuntando assim... Já vi esse olhar antes, é o olhar de... Dever.
- Recebemos hoje uma missão. Vou ter que viajar para o Rio de Janeiro, vamos ter que subir um morro que esta em confronto contra a policia, vamos sair hoje de madrugada. Infelizmente não avisaram com antecedência pra podemos preparar as famílias, vai ter que ser assim no susto pra todos.
- Ai meu Deus... Mas ir assim as pressas? Por quê?
Sinto as lágrimas começarem a se formar, e automaticamente levo as mãos até a boca. Já estive nessa situação antes, lógico que na época eu era mais nova, mas sabia exatamente o que isso poderia significar, que ele pode não voltar.
- A situação lá esta complicada, precisamos intervir o mais rápido possível... Não me olha assim princesa, eu não posso simplesmente dizer não, bem que eu queria, sério queria mesmo poder, tem muita coisa aqui pra me preocupar, mas infelizmente... Não posso.
Ele se senta na nossa cama me puxando para seu peito, fazendo carinho no meu cabelo, pra me confortar pela noticia repentina, em menos de dez horas ele vai estar entrando em um avião em direção a um confronto que pode por a vida dele em risco e com certeza a do meu irmão também.
- E quando vocês voltam? Jeremy também vai?
- Sim, ele é meu braço direito no sub comando. Já em relação a volta, não sei dizer já que o que vamos encontrar é algo incerto ainda.
Meu chão se abre e estou prestes a desabar, meu marido e meu irmão vão subir um morro pra uma invasão, isso é muito perigoso até onde sei e ele esta com um ar de preocupado, mesmo ele não podendo fazer nada para não ir a essa missão, eu queria muito que ele desistisse e fugisse comigo daqui agora, mesmo com essa crise que talvez seja só paranóia da minha cabeça e eu esteja vendo problemas onde não tem, eu queria muita que ele ficasse e não se arriscasse por um pais que não paga o bastante pelo que eles fazem de verdade por ele, hoje somos bem de vida e temos uma estabilidade boa pela visão de empreendimento que nossos pais tiveram quando novos, não por eles terem quase se matado varias vezes em confrontos como o que ele vai enfrentar agora.
Passamos o máximo de tempo possível juntos depois que ele me deu a noticia da sua missão, posso dizer que nos despedimos muito bem, e varias vezes por sinal, me fazendo esquecer completamente de crises ilusórias da minha cabeça. Agora estou sentada na sala da casa dos meus pais onde não entrava a meses, enquanto fazemos uma despedida formal e coletiva deles, minutos antes deles irem para o batalhão se reunir com os demais para pegar o avião militar.
Meu pai esta todo orgulhoso do filho e talvez até do genro, minha mãe esta claramente preocupada, prevejo muitas noites sem dormir de preocupação para ela, até a Jenny esta aqui com sua mãe, elas se importam com o Jeremy como se fossem da família, fomos criados juntos como uma família mesmo não tendo laços de sangue, enquanto a Jenny esta sentada ao meu lado segurando silenciosamente minha mão tia Lídia esta conversando com o tio Richard, perguntando sobre o que eles podem encontrar ao chegar lá.
O clima esta pesado, como em um velório, pois todos aqui sabemos que na volta pode mesmo ter um, então cada um da sua própria forma tenta demostrar todo seu amor para os que estão partindo, assim como minha família se reuniu mesmo com as diferenças para nos despedirmos todos juntos, tenho certeza que todas as outras também estão fazendo o mesmo com os demais soldados dessa missão.
Como esposa tenho o privilegio de ir com ele até o hangar e esperar ao seu lado até o momento do avião decolar, chorando e sentindo meu coração ser tirado do peito enquanto olho para o céu e vejo o avião sumir.
"Uau... Que privilegio não?"
No caminho para o ponto de encontro, ficamos o máximo de tempo possível em contato físico, estamos ambos claramente tristes com a situação, sendo uma esposa e filha de militar eu deveria aceitar melhor esse tipo de situação, pois já vivemos muitos momentos como esse, com meu pai, irmão e até mesmo com o Brendon antes, mas é sempre um momento horrível de se viver.
Quando chegamos só as esposas dos oficiais de alta patente podem acompanhar seus maridos, as dos de mais tem que se despedir antes deles se apresentarem no quartel. Me impressiono com a quantidade de soldados que estão indo, deve realmente estar feia a situação do lugar onde eles estão indo, e isso só me faz sentir mais pânico.
Mas me seguro o máximo que consigo pra não agarrar a mão do Brendon e arrastar ele dali para longe desse dever de proteger essas pessoas que não o valorizam, muitas lágrimas banham o chão daquele hangar, de esposas apreensivas com a partida de seus amados, antes da decolagem todas nos fazemos uma oração silenciosa pedindo proteção a eles, e minutos depois estou sozinha.
Sozinha em um apartamento enorme, com meu sogro orgulhoso do filho que foi cumprir seu dever, sozinha em uma cama grande de mais só pra mim, em um quarto onde tudo me lembra ele e me faz desejar com todas as minhas forças que ele volte inteiro para mim.
Os dias passaram a se arrastar, as noticias sobre a tomada do morro é manchete em todos os jornais, os confrontos não cessam e só estão cada vez mais violentos, sempre que vejo as noticias meu estômago se embrulha e meu coração se aperta mais. As poucas noticias que podemos ter deles, são razoavelmente animadoras, mas nada com clareza de que tudo logo vai se acalmar.
Duas semanas depois que os soldados partiram, minha vida entrou numa rotina maçante de acordar ir pra faculdade, voltar e não conseguir comer, ir a academia voltar só conseguir fazer um lanche leve, tentar sem sucesso estudar mais um pouco, chorar no banho com as novas noticias da TV e apagar na cama as oito da noite e só acordar no dia seguinte como se não tivesse dormido nada.- Minha querida você tem que comer algo mais sustentável que biscoito de polvilho e vitamina de manga.
- Eu sei Lúcia, mas simplesmente não desce... Meu estômago esta estranho ultimamente, deve ser a ansiedade de não saber se ele ou meu irmão estão machucados de forma grave.
- Sei... Mas você tem que se esforçar, quando o senhor Brendon voltar, ele não vai gostar de saber que a senhora não se cuidou bem. Você pode ficar doente se continuar assim... Você não come e só dorme, isso não é saudável. Já percebeu que esta até começando a emagrecer?
- Não me importo... Eu simplesmente não consigo... Só consigo pensar que ele ou meu irmão podem estar jogados no chão frio com uma bala de fuzil no peito.
- Se isso acontecer saberemos logo, fica calma ele esta bem... Mas você tem que ficar bem também pra quando ele voltar pra casa.
- Eu sei que você tem razão, mas querer comer e conseguir são duas coisas diferentes...
Abaixo o olhar para o delicioso prato de lasanha de berinjela em minha frente, Lúcia fez especialmente pra mim, pois comentei com ela que gostava, mas assim que dei a primeira garfada, foi como se meu estômago falasse 'hum lasanha de berinjela, não obrigada'. Tio Richard assumiu os afazeres do Brendon na empresa e esta sempre fora até mais tarde, então tento jantar sozinha toda noite agora, estou mais sozinha que nunca agora.
Depois de me deitar as sete e ainda acordar atrasada e morrendo de sono, corro pra faculdade e tento prestar atenção nas aulas, mas sem muito sucesso, me sento embaixo de uma arvore no intervalo pra tentar entender os argumentos do texto para um trabalho da faculdade mas me sinto estranha, como se fosse vomitar, tento me levantar pra ir ao banheiro mas tudo gira e eu apago. Escuto uma voz me chamando, alguém esta me levantando do chão mas não consigo tomar consciência de quem seja, sinto o calor de um corpo me envolvendo e tenho certeza que alguém esta me carregando nos braços, mas logo minha consciência se esvair de novo.- Mas como assim desmaiou? Ela apagou do nada?
"Com certeza essa é a voz da minha mãe, com quem ela esta falando? Onde eu estou?"
- Desculpa dona Elena, mas não sei te dizer o que aconteceu, eu a vi desmaiar então corri pra ajudar mas ela não acordou, então a trouxe a enfermaria. Não estava do lado dela, não sei por que passou mal.
"Espera conheço essa voz... É o Júlio, ele é da minha turma de literatura francesa... Eu desmaiei? Meu Deus que vergonha, apaguei no meio de todo mundo..."
- A filha... Você acordou, finalmente. Você comeu hoje? Vamos no medico agora mesmo, você não pode continuar assim, sem comer só dormindo, tem algo errado e precisamos descobrir o que...
- Eu estou bem mãe... Minha pressão caiu foi só isso, nada de mais tá legal?! Eu só preciso comer alguma coisa só isso...
- Não Trix, chega de desculpas, não é a primeira vez que você passa mal assim, quase desmaiou lá em casa semana passada, ai hoje você desmaia aqui na faculdade e se você estivesse em uma escada? Poderia ter caído feio e se machucado filha. Vamos no medico e isso não é uma discussão.
Depois disso ela fez a Lúcia começar a me vigiar de perto e todo dia ela ia ou almoçar ou jantar comigo, sem me dar ao menos uma opção de escolha. Agora uma semana depois do ocorrido me encontro sentada ao seu lado na sala do Dr. Flavio, enquanto ele olha os milhares de exames que minha mãe exigiu na tela do seu computador. Mas minha cabeça esta a quilômetros de distancia dessa sala, pois agora mesmo vários militares estão sitiado no alto do morro sem comunicação ou reforços e ninguém informa quem são eles se estão feridos ou seguros, só dizem que estão planejando subir para resgatar todos, mas sem previsões de quando eles vão fazer isso.
- Bom vamos ver aqui... Seus exames estão em ordem...
- Então ela não tem nada doutor? Mas ela desmaiou... E a dois dias a peguei vomitando. Isso não é normal Dr. Flavio...
- O que ela tem não é grave senhora Elena... Mas ela esta grávida...
Como se tivesse levado um soco na cara eu volto a realidade ao ouvi isso... E a realidade é assustadora.
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Militar Cilada
RandomSerá que duas pessoas que cresceram juntas, podem esquecer as circunstâncias, perdoar e se amar? E se suas famílias tivessem algo a ver com esse envolvimento? Será que algo forçado pode acabar bem? Mas e se no começo fosse verdadeiro? ...