Militar Cilada

Capítulo 9

   Depois do almoço com os tios da minha mãe, que são bem mais discretos e interessantes que os da parte do meu pai, já que trataram com total naturalidade e indiferença o meu noivado repentino, eu passei os dias seguintes presa em meu quarto, o que não foi nenhuma novidade dadas as circunstâncias, passei quase que o tempo todo dormindo, a porta do meu quarto sempre trancada, parece que o amor todo que meu pai sempre disse que sentia por mim, que todo aquele cuidado e carinho com a menininha dele, acabou, e isso me doía mais que eu gostasse de admitir.

   Não via ninguém além da minha mãe que sempre me fazia companhia ou me trazia algo pra comer, parecia que meu pai e até meu irmão estavam evitando ao máximo me ver, depois que o Jeremy não impediu meu pai de me machucar naquela noite, não me surpreenderia se ele estivesse nutrindo o mesmo sentimento que meu pai, nojo de mim, o que seria bem irônico da parte dele, já que ele só se envolve com garotas 'rodadas'. Meu pai sentir ódio ou nojo de mim é até meio compreensível, seu projeto de vida falhou miseravelmente, ele não conseguiu entregar um 'produto' intacto ao 'consumidor', mas para ser sincera, queria que a raiva dele fosse por um motivo menos cômico, como querer controlar meu corpo, já que ele é Meu! O fato dele querer ter controlado minha vida toda deis que nasci, até mesmo com quem me relacionaria, a ideia em si já é bem obvia que iria dar errado.

   A cerimonia do casamento estava a todo vapor, minha mãe realmente estava empenhada em fazer tudo lindo, ela me disse que queria que o dia fosse de certa forma especial pra mim, independente de ser algo que não foi minha escolha, que eu poderia olhar como uma oportunidade de ser feliz com uma cara legal, que eu realmente gosto, fiquei com pena de contar á ela que meu plano é sumir daqui depois de um ano de cativeiro não desejado, ela realmente torce para dar certo, acho que pelo fato dela ser minha mãe e desejar que eu fique bem.

   Fazia dias que não tinha nem ideia sobre o que se passava com meu irmão, quando ele entrou no meu quarto na véspera de ano novo, um pouco antes da festa da empresa, que meu pai da todo ano para seus funcionários, e que meu pai permitiu que eu participasse por milagre, eu até estranhei. Era uma tradição do meu pai, todo ano convidar os seus gerentes, acionistas e sócios para um banquete de réveillon em nossa casa, regado a muito champanhe e brilho, tinha até um espetáculo de queima de fogos na virada, mas realmente imaginei que seria privada dessa festa em particular, já que não tinha nenhuma pessoa da família presente e ele poderia dizer pra todos que eu estava em outro lugar.

   - Trix... Olha, sei que sumi e permiti nosso pai te bater, mas o que você disse aquela noite... Sempre te vi como minha irmãzinha, doce e inocente, quando papai me disse dos planos da família, não quis aceitar... Mas quando ele me disse que se o casamento não acontecesse nos entraríamos em falência, eu entendi. É a sobrevivência da família que esta em suas mãos. Agi como um idiota esses dias e peço perdão a você... Você sabe que te amo não sabe?

   - Claro que sei... Esta tudo bem, sempre soube que você era mais parecido com nosso pai na mente do que na aparência...

   - Ai! Essa foi merecida... Olha, o Brendon é meu amigo, é como um irmão pra mim, foi o que me fez aceitar melhor essa ideia toda, saber que era ele que casaria com você. Ele mesmo contra as recomendações de todo mundo incluindo as minhas, se aproximou de você. Ele me contou, depois que tudo, que só aceitou tudo isso, porque viu que você conseguiria gostar dele pelo que ele é, e não pelo acordo... É real Trix, todo o sentimento entre vocês, é real.

   - Por que esta me contando isso?

   - Porque achei que merecia saber, vocês podem sim ser felizes... As coisas podem sim terem sido feitas de uma forma completamente arcaica, mas pode dar certo. Se você aceitar tentar, porque ele quer tentar.