CAPÍTULO 38 - JAIME

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Assim que entro no quarto já vejo o celular tocar.

Pego-o e aceito a ligação de vídeo.

Celina está com o rosto vermelho de tanto chorar.

— Não fique assim — digo.

— Eu perdi. Eu detesto perder, amor. Você não entende.

— Isso faz parte da sua profissão. Sei que é difícil, mas precisa ter calma. Não foi uma escolha sua e...

— Por que está tão arrumado? — Ela para de chorar na mesma hora.

Acho a sua pergunta bastante intrigante.

— Eu estava jantando. Te falei.

— Só com a Lolla?

— Sim, Celina. Ela é minha agenciada, esqueceu?

— Por que está me chamando de Celina? Você não me chama assim, Jaime.

— Porque... porque você está triste e... desculpe, eu não sei lidar bem com a morte.

— Nunca perdeu ninguém para falar isso!

— Como não? Eu perdi um irmão, uma mãe...

— Perdeu? Por que nunca me contou isso?

— Eu devo ter contado sim, Celi... amor. Você que não deve recordar.

— Vem pra casa, amorzinho, por favor. Eu preciso de você mais do que nunca.

Meu coração se aperta.

— Eu não posso, eu... comecei a viagem agora. Amanhã estaremos em Alagoas e...

Ela chora mais.

Queria dizer que quando eu voltasse recuperaria o tempo perdido, mas não estou mais certo disso.

— Estou me sentindo tão só.

— Não chore, por favor. Você não está só. Eu estou aqui, não estou? Por que não liga para os seus pais?

— Já falei que não nos damos bem, Jaime. Eles me querem me controlar o tempo inteiro!

— Eu sei, mas talvez, nesse momento, seja uma ótima oportunidade. Família é família, Lolla. Em todos os momentos.

— Do que me chamou?

Mil vezes MERDA!

— O quê?

— Você me chamou de Lolla. Não admito isso!

— Desculpe, nós estamos passando o tempo juntos com o trabalho e a cabeça está cheia e...

— Imperdoável, Jaime! — Celina fica brava.

— Sinto muito.

— Você disse que ficaria comigo e deixaria essa garota ir sozinha, mas resolveu de uma hora para outra e me deixou aqui. Estou chateada.

— Você entendeu. Conversamos sobre isso. Quando eu chegar, prometo conversar com você.

Eu não seria capaz de terminar um noivado por telefone. Não seria esse tipo de homem. Não depois do que fiz.

— Você me deixou! Isso sim. Me deixou por ela.

— Então posso dizer que você me deixou pelo seu trabalho também?

Ela abre a boca.

— Eu não te deixei, Celina. Eu tive que trabalhar.

Pelo menos, não ainda.

— Parece que você fez isso para me magoar, Jaime. Só porque o meu trabalho me consome.

— Não tem nada a ver com isso.

Por um momento eu sinto que sim, fiz com esse intuito. Mas não para magoá-la. Jamais seria. Eu ainda tenho um carinho enorme por Celina, só não é como o que comecei a sentir por Lolla. Por ela vai além do que já senti por qualquer pessoa.

— Não vamos brigar, amor, por favor — pede ela, chorando novamente.

— Não vamos. Vá para casa. Peça para sair mais cedo e vá descansar. Você precisa dormir um pouco.

— É, eu... eu vou fazer isso. Posso te ligar de novo quando eu chegar em casa?

Respiro fundo.

— Claro.

Ela sorri um pouco.

Meu coração se aperta.

— Como conseguiu o número da Lolla?

— Peguei no seu celular. Algum problema?

Fico pensativo.

— Jaime?

— Não, amor. Problema nenhum. Espero a sua ligação.

— Até mais. Te amo.

— Eu também.

Ela desliga.

Fico sentado ainda na cama, sem entender muito bem.

Desativo meu celular e ativo de novo. Ele é travado. Seu acesso é permitido apenas pela digital ou pela senha numérica. Que eu me lembre, não dei a minha senha para ela.

Logo vem Lolla na minha mente.

Deixo o celular ali mesmo e saio do quarto para o restaurante. Não sei quanto tempo demorei, mas certeza de que foi muito mais do que imaginava.

Entro no restaurante e não a vejo na mesa que estávamos.

Pergunto ao garçom que informa que ela havia saído há alguns minutos.

Corro para o seu quarto e bato várias vezes.

— Lolla... por favor, fala comigo...

Coloco a mão na maçaneta e vejo que a porta está aberta.

Entro no quarto devagar.

— Lolla?

Ela não está aqui.

Fecho os meus olhos com força.

Eu a perdi. De novo.

Volto para o meu quarto e pego o meu celular.

Ligo para o seu e ela não atende. Ligo mais três vezes e nada.

Eu sei que sou um babaca.

Porra, Lolla, me deixe explicar!

Abro o WhatsApp e mando mensagem para ela.

Espero nervoso, mas não recebo nenhuma resposta.


AGORA OU NUNCA (Spin-off de Tudo ou nada)Onde histórias criam vida. Descubra agora