CAPÍTULO 1 - JAIME

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Sabe aquele momento em que você percebe que o tempo está indo rápido demais?

Olho para a cena à minha frente. Uma pirralha que até poucos dias estava atrás de mim. Era sempre: Tio Jaime, quero sorvete de chocolate! Tio Jaime, me leva à pracinha? Tio Jaime, vamos à praia?! Tio Jaiiiiime!".

Não foi ontem que ela fez isso?

Ao meu lado está Henrique, meu irmão. Compartilho do mesmo sentimento ao verificar a careta que ele está fazendo para a situação.

— Quando foi que ela cresceu? — indaga, fechando os olhos com força, não querendo mais ver.

— Eu ia te fazer a mesma pergunta. Essa menina tem idade para isso?

— Eu falei! — ele especula contrariado. — Eu falei para a Catarina, mas sabe como ela é, né? Disse que é melhor ficar sabendo do que não. Me convenceu que com 15 anos isso... isso — Ele aponta. — É permitido. Sei lá, viu! É aquela história, irmão, o que os olhos não veem o coração não sente. Acho que seria melhor se ela fizesse isso escondido.

Arquejo uma sobrancelha para o fato à frente.

— Ele está... — inclino um pouco a cabeça para o lado, acompanhando o beijo a nossa frente. — Ele está engolindo a Ana! — praguejo, meio revoltado.

Henrique volta a olhar e vira o rosto com pressa.

— Ah, cara, me segura senão vai dar ruim!

Ana nos vê. Ela coloca as mãos na cintura e o rapaz ajeita o boné para trás, espantado, recuando um passo. Filho da mãe!

— O que vocês estão fazendo aí? — Ana fala alto.

Parados, na varanda da casa, eu e meu irmão nos entreolhamos.

Pegos no flagra!

— Nada, minha filha — diz Henrique com um sorriso forçado nos lábios. — Eu e... — Ele faz um gesto para mim. — seu tio, estávamos vendo o tempo.

Concordo com ele e olhamos para o céu igual a dois idiotas.

— Hum-hum. Sei.

— Vai chover, hein. Cuidado — Henrique cruza os braços. — Não acha melhor entrar?

Ela olha o céu também.

— Está um sol de rachar a cuca, pai! — Ela cruza os braços e fica batendo com um pé no chão, ali no jardim. Consigo ver todos os trejeitos da sua mãe durante a ação de raiva.

As duas, Ana e sua mãe Catarina, chegaram em nossas vidas para mudar tudo. Aninha tinha apenas 7 anos.

Sorrio por dentro ao lembrar da forma como Henrique Soares se encantou pela atrevida jornalista que o fotografou peladão. Aliás, não só ele que se encantou, mas isso ficou no passado. E, enfim, meu irmão sossegou o facho ao descobrir o amor por Catarina. Se tornou mais responsável, adotou Ana no coração e de papel passado e teve os gêmeos: Lucas e Luan.

Vivemos em harmonia por todos esses sete anos na Espanha, enquanto Henrique era jogador do Barcelona. Porém, faz alguns meses que Henrique Soares se aposentou dos campos e voltamos ao Brasil, mas precisamente para o nosso estado natal, Rio de Janeiro.

Um sentimento estranho me atinge. Eu estou em um momento de transição. Confesso que está difícil me reencontrar depois de tantos anos dedicados à carreira do Soberano Henrique Soares.

Mesmo tendo aberto um outro negócio para agenciar carreiras, deixava o grosso com o meu sócio, Fabrício. O meu objetivo com a empresa era apenas para investir em algo do meu ramo, futebol. Eu agiria apenas para auxiliar Fabrício e nada mais. Afinal, bancar babá de famoso já tinha sido meu fardo por muitos anos.

AGORA OU NUNCA (Spin-off de Tudo ou nada)Onde histórias criam vida. Descubra agora