Espero a sua reação.
A mesma que tenho que assistir toda vez que sou obrigada a mostrar meu documento.
Tia Zuleica me contara o que aconteceu e me registrar, na época, foi algo que não conseguiu da forma que queria. Pobre, moradora da favela, diarista, não haveria ninguém para ajudá-la nessa questão.
Eu fiquei assim, sem sobrenome, com pai e mãe desconhecidos.
— Como isso é possível? — Agora o advogado de cabelos brancos, taciturno, vê o meu documento e fica abismado.
Eu sei que isso não acontece com frequência. Eu mesma nunca tinha visto um documento sem nenhuma filiação, mas é tão raro assim?
— Querida, você tem carteira de trabalho? De habilitação? Do SUS? — ele pergunta.
Faço que não.
— Nunca trabalhei de carteira assinada e ainda não pude tirar carteira. Primeiro por falta de grana para pagar a carta, segundo, a maior falta de grana para comprar qualquer carro. — Eu rio.
Um sorriso de nervoso.
— Lolla... isso é sério. Você não deveria ter um documento dessa forma — diz Jaime com cautela.
— Não sei quem meus pais foram e isso não é um problema, Jaime. O que isso interfere? — questiono já sentida.
— Você estudou, querida? — A pergunta do doutor me faz ficar com raiva.
— Tenho cara de analfabeta por acaso?
— Não! — Jaime intervém. — Ele não quis dizer isso. Disse porque deve ser difícil alguns tipos de registros.
— A irmã da tia Zuleica, mulher que me criou, era merendeira da escola na comunidade. Estudei lá minha vida inteira. Fiz até o ensino médio.
O advogado olha para Jaime.
— Não sei nem se esse documento tem jurisdição — informa ele. — Eu preciso analisar o caso antes de entregar o contrato finalizado.
— Faça o que for possível. Até encontrar uma solução mais definitiva. Dar um sobrenome para ela e...
Fico só ouvindo.
Esse era um fato que eu não gostava de remexer.
— Sua tia... Zuleica. — diz Jaime. — Será que ela te registraria legalmente?
— Sim.
— Isso é bom! — Ele fica feliz.
— Se ela não tivesse morrido há mais de dez anos.
Ele parece murchar.
— Não tem jeito para o meu caso. Não podemos deixar isso de lado? — peço novamente.
Jaime vem para perto de mim e se senta em uma cadeira do lado.
Pela primeira vez ele pega a minha mão.
— Isso é importante, Raíssa.
— Não me chama assim.
— Desculpe. Lolla. Você vai crescer. As pessoas vão querer te conhecer, saber da sua vida, como foi criada...
— Só falar que fui adotada.
— Mas você não foi.
Sinto um nó na garganta.
— Ok. — Meus olhos ardem. Evito ao máximo deixar minhas emoções escaparem ali. — Sei muito pouco sobre essa história. E isso não me incomoda. Sempre pensei que se não me quiseram, não tem porque eu querê-los também. Tia Zuleica apenas me informou que a mulher que me colocou no mundo era sua vizinha, mas assim que nasci ela sumiu, enfim. Não tenho muito para contar. A tia e o Minga cuidaram bem de mim. Pode fazer o que quiserem, eu aceito.
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AGORA OU NUNCA (Spin-off de Tudo ou nada)
Storie d'amoreApós cuidar com afinco da carreira de jogador de futebol do seu irmão Henrique Soares, JAIME queria apenas paz. Prestes a mudar depois de se conformar com a ideia de que seus planejamentos de vida foram por água abaixo, ele tem uma grata surpresa ao...