CAPÍTULO 23 - LOLLA

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Não sei quanto tempo fico na água.

Mas é tempo suficiente para agradecer aos céus e a natureza todas as coisas boas que estavam acontecendo.

O sol está se ponto e a maré começa a ficar cheia. Pego a última onda e saio renovada.

Até que olho para frente e vejo Jaime, parado, me olhando.

Não entendo nada. Será alguma emergência?

Ajeito meu cabelo e vou até ele com a prancha ao lado do corpo.

Paro rente a ele que me olha calado.

Eu até riria da cena bizarra que é vê-lo de terno e gravata com sapatos fechados na areia, mas ele está sério.

— Jaime... o que aconteceu?

— Será que agora eu posso te levar para casa?

Franzo o cenho sem entender direito a necessidade daquilo.

— Claro. Claro que sim.

Vou até Helinho que está sentado no parapeito da praia. Devolvo sua prancha e recebo um beijo na bochecha prometendo voltar mais vezes. Pego a toalhinha de rosto que trago na bolsa e dou uma secada no cabelo e corpo antes de colocar a roupa.

Jaime já está na orla me esperando, observando tudo que eu faço.

Por um momento fico irritada. Será sempre assim?

Talvez ele queira falar algo sério sobre a minha carreira.

Eu lutei muito para ter ele, agora não iria contrariá-lo.

Eu o acompanho até o seu carro.

Ele me seguiu até aqui?

Ignoro essa possibilidade, mesmo tendo a convicção que ele só pode ter feito isso.

No carro, ao contrário do que pensei, ele fica quieto.

— No que está pensando? — enfim pergunta, depois de chegarmos na metade do caminho.

— Me seguiu?

Ele entorta a boca.

— Não e... sim.

Ainda estou sem entender.

— Por quê? — Agora eu preciso de uma resposta.

— Tive uma ideia. — Ele parece pensar direito no que vai falar. Parece receoso.

— E qual é?

— Você surfa?

Faço que sim.

— Desde que me conheço como gente — falo, não entendendo onde ele quer chegar.

— Prometi a Ana que ensinaria ela a surfar.

Arquejo minha sobrancelha.

— E você surfa também?

Ele me olha como se fosse óbvio.

— Está brincando?

Sua fisionomia muda e ele parece mais calmo.

Sua alteração de humor é algo que me deixa meio perdida. Sinto que piso em ovos o tempo inteiro.

— Você disse que prometeu que iria ensiná-la, então.

— Esse é o problema. Adoro praia, mas não sou muito bom em... em nadar.

Solto uma risadinha.

— Eu posso ensiná-la sem problema nenhum. Trabalhei algum tempo com isso. O professor ali... aliás, Ana vai ali também.

— O namoradinho dela é aluno — afirma com desdém.

— Ah, sim, Marquinhos.

— Conhece ele? Sabe se ele é um garoto confiável?

Acho engraçado o jeito como ele fala.

— Não o conheço direito. Ela me falou sobre ele e... você deve conhecer sua sobrinha. Acha que ela namoraria um otário? O pouco que eu conheço já percebi que não.

Vejo que ele parece ter dificuldades de engolir.

— Tive uma ideia — diz.

— Estou esperando você me contar.

— Amanhã... você fará alguma coisa? — pergunta meio baixinho.

— É o dia de folga conforme a planilha.

— Sim. E por isso estou te perguntando.

— Não tenho nada planejado. Pensei em aceitar o dia de shopping com a Ana e a Catarina — falo. Até tinha pensando em dar uma geral na casa para a mudança.

— Aceita viajar comigo amanhã? — Sua pergunta é feita sem que me olhe. Ele encara o trânsito com atenção. Pelo que reparo, segura o volante com certa força.

Viro um pouco o meu corpo para o seu lado.

— Comigo e com a Ana para a minha casa em Angra dos Reis — explica ele, antes que eu questione algo. — Daria aula para ela? Só se você quiser e... a casa é bacana. Seria legal um dia de descanso e...

Percebo que ele está nervoso.

Amanhã é sábado. Será que a sua noiva iria junto?

— Por mim tudo bem — digo, feliz com o convite. Eu adoro a Ana e ter essa aproximação com ele só iria nos ajudar. Ele confiaria mais em mim e talvez parasse de ficar tão sério.

Ele parece voltar a respirar.

— Ótimo. E obrigado.

— Vai ser legal.

— Ana vai ficar feliz.

— Todos iremos.


AGORA OU NUNCA (Spin-off de Tudo ou nada)Onde histórias criam vida. Descubra agora