𝙲𝚊𝚙 𝟾

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– Você vai usar isso? – questionou Noah, reclinado no corrimão ao pé da escada, me assistindo descer. Ele trajava um terno preto com camisa branca, bem clássico e bem caro.

Aposto que custava mais do que eu ganhava em um mês. Ele era um grande exibido, e eu era hormonalmente suscetível a ele.

Culpa minha, por que não?

– Sim, vou usar isto mesmo – respondi. – Por quê?

– Por nada.

Assim que tivesse um tempo eu ia escrever pro Papai Noel pedindo de Natal a habilidade de ler pensamentos. Ou pelo menos os pensamentos de Noah. Se bem que eu acho que não ia gostar do que ia encontrar lá.

– O que tem de errado?

Ele observou minha blusa azul-marinho e branca de poá, legging preta e botas.

– Nada. Só achei… uma escolha interessante.

– Eu gosto.

– Sim, é bem legal. Só achei que você podia se arrumar mais.

– A gente só vai jantar no centro. Era pra ser descontraído. – Eu havia me maquiado e alisado o cabelo longo, era meu único orgulho e alegria, mas Noah não parecia se impressionar com isso. Não é de se estranhar que eu tivesse dificuldade em acreditar em seus elogios quando ele me olhava com desdém no dia seguinte.

– Você parece bem. – Ele balançou as chaves do carro em seus dedos.

– Fica quieto. Quais os planos? – perguntei. – Achei que você fosse ficar em casa hoje.

– Vou levar você. Já avisei o Josh que vamos encontrá-lo no restaurante.

– Quê? Por quê?

– Ele não precisa vir te buscar, se eu já vou para aqueles lados mesmo.

Ele apanhou meu casaco vermelho e me ajudou a vesti-lo. A típica dicotomia do seu comportamento.

Vem, bagunça a minha cabeça, me insulta e no momento seguinte é um perfeito cavalheiro.

– Obrigada. Você vai à casa da Joalin?

– Uhum.

– Pelo menos você não fica sozinho.

Ele concordou e se dirigiu à garagem.

O novo estúdio, quase terminado, ficava na frente, e o restante do espaço estava atulhado com equipamentos de musculação e instrumentos musicais. Nos fundos ficava a garagem propriamente dita para os dois carros de Noah. O Plymouth Barracuda preto e cromado de 1971 brilhava à meia-luz. Sempre quis roubar as chaves e sair para dar uma volta nele, mas, como sempre, ele pegou a Mercedes nova. Tão sensível.

Dirigimos em silêncio o caminho inteiro sob uma leve chuva. Em vez de parar na frente do restaurante, ele deu a volta no quarteirão e estacionou na primeira vaga que viu.

– Você não ia só me trazer? – perguntei, pegando meu guarda-chuva.

– Só vou te levar lá dentro, dar um oi pro Josh.

– Tudo bem.

Saímos do carro juntos e Noah passou o braço pelas minhas costas, me ajudando a segurar o guarda-chuva sob as fortes rajadas de vento. O restaurante especializado em fusão de culinária francesa e asiática era bem elegante. Cadeiras e mesas de madeira entalhada, detalhes em seda vermelha nas paredes. Avistei meu reflexo em um espelho antigo, que mostrava meu cabelo úmido e frisado com perfeição.

𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora