𝙲𝙰𝙿 𝟷𝟿

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Tenho quase certeza absoluta de que Dante tinha a intenção de incluir os casamentos no inferno e acabou se esquecendo disso.

Estava sentada sozinha no canto do grande salão de baile de Long Oak enquanto as pessoas se misturavam e dançavam à minha volta. O lugar foi decorado todo em prata e branco. Balões, faixas, flores, o que você pensar. A enorme quantidade de flores me lembrou do funeral de Lori; as faixas, a gravata de seda de Noah. Ele disse que o mundo inteiro era um gatilho para ele quando se tratava do vício. Agora eu entendia exatamente o que ele quis dizer.

Minha heroína tinha 1,86m de altura e era tão lindo como o pecado. Tinha me deixado mais chapada do que nunca, espalhou-se pelas minhas veias.

Então, de forma não tão surpreendente, ele tinha realmente me jogado à sarjeta.

Podia se dizer que estava rolando esse lance de autocomiseração comigo ao invés do despertar da garota festeira.

Tomei outro gole de limonada com meu canudinho brilhante de casamento.

Ah, os momentos divertidos. As pessoas de coração partido realmente só precisavam ser deixadas em paz, porra.

Nós não somos companhia adequada para ninguém.

Luzes minúsculas de LED e velas compunham a iluminação e, no palco, a banda cantava clássicos do rock e canções pop de amor. Eu peguei emprestado um vestido meio fora de moda de uma velha amiga (na altura do joelho, de cetim cinza prateado e renda muito bonita, se não fosse um pouco apertado na altura do peito).

Brandon tinha se aproximado de mim uma vez e eu mostrei meus dentes a ele. Não, eu realmente mostrei. Foi muito engraçado como ele fugiu rápido. Ele não tentou mais falar comigo.

Aparentemente, eu tinha dificuldade em perdoar as pessoas que fizeram merda para mim.

Agora já estava perto da meia-noite e a festa finalmente estava mostrando sinais de encerramento.

Alyce e Brandon dançavam uma música lenta no meio da pista, trocando olhares amorosos. Apesar de seu início duvidoso, acho que eles realmente tinham uma chance de fazer tudo isso dar certo. Mamãe e papai dançavam ao lado deles, cedendo a um beijo ocasional. Todos pareciam estar se divertindo muito.

A lambada do Tio Bob passou por mim e ergui os dois polegares, dizendo que estava legal.

– Está ótimo. Vai, Tio Bob – disse, sem um único toque de sarcasmo, porque sou incrível assim.

Tirei um pouco os óculos, esfregando a ponte do meu nariz. A dor de cabeça estava se formando por detrás dos meus olhos havia horas, graças ao penteado sofisticado muito complicado pelo qual eu tinha optado. Era lindo, mas esticado pra caramba. Eu não queria nem pensar em quanto tempo ia levar para tirar todos os grampos.

Não notei o cara de terno preto a princípio. Estava bastante ocupada sentindo pena de mim mesma. Ele era apenas uma sombra se movendo entre as imagens borradas dos casais na pista de dança. Porém, quando uma confusão eclodiu pelo microfone, ele teve toda a minha atenção.

– Para trás, porra – disse uma voz rouca pelos alto-falantes.

Era estranhamente familiar.

Suspiros foram ouvidos. Então, vozes abafadas discutindo ao fundo, quase inaudíveis.

– Sim, eu entendo que é um casamento – ele disse, de forma agradável e clara. – Eu tenho a música perfeita para o feliz casal.

– Não. Não pode ser. – Endireitei-me na cadeira, chegando para a frente, apertando os olhos, tentando ver através de todas as velas e fitilhos de balão pendurados do teto. – Isso não é possível.

𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora