- Pega! - Uma colher de sobremesa foi jogada em meu colo.
- Que tal parar de jogar as coisas em mim? Já é ruim o bastante que você precise começar o dia assim.
O dia de Ação de Graças propriamente dito tinha sido mais calmo, e ficamos só nós dois em casa. Liguei para meus pais pela manhã e conversamos por um bom tempo. Acompanhei Noah ao encontro do Alcoólicos Anônimos. Ele entrou e o esperei do lado de fora, sentada no corredor, bebericando um copo de café bem quente. Ele saiu calmo e de bom humor, o que é sempre um bom sinal.
- Você tem um sono muito pesado. Preciso te acordar de um jeito ou de outro. Falando nisso, você já correu um pouco melhor hoje de manhã.
- Obrigada - resmunguei. Aquilo me acalmou um pouco. Noah não era muito de elogios, se bem que no outro dia ele disse que eu era bonita, então talvez estivesse aprendendo alguns.
- Sim, você só hiperventilou duas vezes. É um avanço. Ou não.
- Grata pelo retorno.
- Agora dá um espaço, você está ocupando todo o sofá. - Com isso, ele se jogou no sofá por cima de mim, trazendo um pote de sorvete e outra colher nas mãos.
- O que estamos fazendo?
- Pense nisso como uma terapia de aversão. Toma. - Ele me entregou o pote. Era sorvete de baunilha francês com cookies de chocolate. Aí, sim. Já tinha até começado a salivar.
- Bom, mas eu não me vejo detestando você se continuar me dando sorvete.
Ele ligou a televisão. Na tela, havia pássaros voando sobre a água, raios de sol ao longe e um grande rio caudaloso. Era tão familiar quanto inesperado.
- Diário de uma paixão? - Perguntei, entre uma colherada e outra. - Sério?
- Falar dos meus defeitos no outro dia não funcionou muito bem. Achei legal tentar outra vez. - Ele se ajeitou no lugar. - Aquele artigo dizia que você precisa passar um tempo com suas amigas, ver uns filmes melosos, comer um bocado de sorvete, falar mal de mim e tal. Só que eu conheço os meus defeitos melhor que qualquer outra pessoa, então, lá vamos nós. - Ele pausou. - Ou você prefere que eu chame as garotas pra ficar com você?
- Não, tá bom assim. - Devorei um pouco mais daquela maravilha de lactose e massa de biscoito. Era verdade, eu já tinha passado noites demais assistindo à televisão com ele.
Era confortável. Além de que pareceria idiota e patético se eu aceitasse subitamente os insistentes convites da Sabina para sair à noite, depois que o Noah expôs a minha falta de vida social.
- Você disse que não tocava nenhum instrumento, mas tenho certeza de que ouvi uma guitarra hoje.
- Eu disse que não toco tão bem quanto os outros, não que não toco.
- Você compõe? - perguntei.
- Para a banda? Não. A Joalin faz todas as letras.
- E pra você?
- Sim, Shivani. - Noah riu asperamente, bateu na minha colher e pegou mais sorvete. - Eu escrevo canções românticas sobre o quanto eu sou gostoso. Sou narcisista a esse ponto.
Ergui a cabeça, observando-o de cima a baixo.
- Isso te incomoda. Que eu fale disso.
- Não dou a mínima - tossiu ele.
Por um longo momento, ele encarou a televisão enquanto eu o observava. Algumas coisas obviamente o afetavam, mas eu não imaginava que a minha opinião fosse uma delas. Levei um tempo para digerir a informação de que ele se importava de verdade com algo dito por mim.
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𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)
Fanfic"A questão é: você nunca vai ter uma vida me seguindo por aí. Você está melhor sem mim, eu sei disso e não me importo. Esse, Shivani, sou eu."