𝙲𝙰𝙿 𝟷𝟶 𝙿𝚊𝚛𝚝 𝟸

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- Diga uma palavra que seja sobre a minha roupa e eu chuto você - ameacei o homem sentado ao pé da escada, e cada palavra era verdade.

- Eu não ousaria. Que horas ele chega? - Noah olhou para cima, inspecionando meu jeans e o suéter preto justinho.

Por Deus, eu era atraente e sabia como usar isso a meu favor. Apesar dos meus seios fartos, sua expressão vazia se manteve inalterada. Ele estava na academia, malhando desde que todos saíram, menos de uma hora antes. O suor umedecia o seu cabelo e as costas de sua camiseta cinza.

- Ele não vem aqui - respondi. - Vou me encontrar com ele na cidade.

- Você não confia que eu não vá dizer merda?

- Não, não confio.

- Posso te levar lá então?

- Já estabelecemos que não confio que você não vai falar merda. Além disso, eu posso dirigir sozinha. Nós, mulheres, somos livres nos dias de hoje.

- Certo. Não dá pra você ir com a porcaria do seu carro, ele está fora de uso há meses. Sou eu quem dirige sempre.

- A porcaria do meu carro vai dar conta. Obrigada.

Ele soltou um longo suspiro sofrido, como quem admite a derrota.

- Leve a Mercedes então. Pelo menos assim eu sei que você vai chegar bem lá.

- Você é um doce por se preocupar comigo.

Ele grunhiu.

- Posso levar o Cuda?

- Nem fodendo.

Eu sorri, maliciosa.

- Assim você fere a minha alma, Noah Urrea.

Ele apenas me observava, enquanto eu ajeitava o meu cabelo no espelho da entrada.

- Vai fazer o que hoje? - perguntei.
Noah flexionou os ombros e braços, esticando o algodão fino da sua camiseta.

- Não decidi ainda.

Ao perceber algo em sua voz, pausei.

Notei algo de solidão ou tristeza que não tinha ouvido antes. O homem parecia beirar o desânimo. Ele estar irritadiço e mal-humorado era coisa normal, já isso era diferente.

- Nenhum dos rapazes volta? - perguntei. - Não quis sair com eles?

- Eles trabalharam aqui o dia todo. Vamos estar juntos em turnê todos os dias. Não preciso começar agora.

Não gostei da resposta, mas fazia sentido.

- Não está passando nenhum jogo? Não vou estar por perto para me queixar da monotonia insuportável, pelo menos desta vez.

- Não estou com cabeça para assistir à TV.

- Vai fazer o quê, então?

Ele gemeu.

- Posso me entreter sozinho.

- Claro que pode. - Apanhei o casaco e a bolsa à minha frente. - Estou confiando em você para avisar se precisar de mim por perto esta noite.

- Não preciso de você por perto.

Hesitei ao ser fitada por seus olhos frios.

- As chaves estão no carro - ele disse.

A situação me deixou pensativa quanto ao que aconteceria com Noah se eu fosse embora. Não me importava quantas estacas de gelo ele lançasse com seu olhar, eu sabia que ele não estava congelado por dentro, só gostava de fingir. Eu tinha visto a sua dor e insegurança. Talvez o que Sabina disse mais cedo tivesse grudado na minha cabeça. Era preciso fazer concessões para mantê-lo na linha. Eu tinha que pensar adiante, fazer o que fosse melhor para ele.

𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora