𝙲𝙰𝙿 𝟷𝟸

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A maçaneta da porta do meu quarto começou a chacoalhar pouco depois das cinco, me acordando da soneca vespertina.

Estive escondida no meu quarto por três horas.

Um mortal inferior poderia ter chorado até dormir, mas eu tirei um cochilo com uma pequena porção de drama do canal lacrimal.

Tanto faz.

Eu estava deixando Noah Urrea me virar do avesso. Era hora de começar a agir como uma mulher adulta e acabar com esse absurdo.

- Shivani - ouvi me chamar, seguido de mais batidas.

Levantei minha cabeça cansada do travesseiro, esfregando os olhos doloridos.

Algumas batidas.

- Abra a porta.

- Você veio para se desculpar? - perguntei.

- Por que diabos eu tenho que me desculpar?

Lentamente me sentei.

- Ah, eu não sei. Digamos que por ser um hipócrita que grita comigo e me envergonha na frente de outras pessoas, para começar.

Um momento de silêncio.

- Não seja ridícula, abra a porta.

- Não.

- Abre. A. Porta.

- Podemos discutir isso amanhã, Noah. Boa noite. - Estava disposta a ir para cama sem jantar. Pela primeira vez, a minha barriga não importava e meu coração estava muito dilacerado para se importar.

Nesse momento, Noah explodiu.

- É a porra da minha casa e você trabalha pra mim. Não é legal você o carregar por aí durante o horário comercial. Onde diabos está o respeito? Você está no meu horário, e sabe muito bem disso. É uma absoluta bobagem. Vocês dois saíram totalmente da linha. Eu te pago, você é a minha assistente, e ele tem a porra da ousadia de tentar algo com você pelas minhas costas, na minha casa. Eu não quero ver essa merda acontecer novamente. O filho da puta nem sequer te defendeu, Shivani. Você notou isso? Eu não sei como diabos você está pensando em ter qualquer coisa com aquele merdinha.

Fiquei boquiaberta encarando a porta. Claramente, o homem tinha perdido sua preciosa cabeça. Ele não dizia coisa com coisa, mas continuou. Aparentemente, o fato de que ele arranjou o meu encontro com Dean tinha sido completamente esquecido.

Incrível. Eu precisava desligar, para o bem da minha sanidade. Cruzei as pernas e encostei na cabeceira da cama, esperando que ele fosse embora.

Eventualmente, o silêncio tornou-se ensurdecedor em ambos os lados da porta. Esforcei-me para ouvir alguma coisa, qualquer coisa.

Então, a batida forte começou.

Boom!

O primeiro barulho de osso rangendo fez meu corpo inteiro saltar. Da segunda vez não foi muito melhor. A porta do quarto quebrou e Noah se encaminhou para dentro, parecendo duas vezes mais alto que o normal, de forma que deixaria a maioria das montanhas com vergonha. A justa indignação ardia em seus olhos. Vermelho tingia sua pele. Talvez devesse ter ficado com medo, mas estava muito ocupada ficando puta.

- Você acabou de arrombar a minha porta? - gritei o óbvio. - Você enlouqueceu?

- A minha porta, sim. - Ele marchou em direção à cama, parecendo ter três metros de altura. Então, subitamente ele parou. - Você estava chorando?

- Não. Eu estou muito bem. Obrigada por perguntar. A minha porta, por outro lado, nem tanto! - Tenho certeza de que minha aparência, provavelmente de olhos vermelhos e pele manchada, contavam uma história diferente.

𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora