As cortinas se mexiam na janela da frente. Alguém nos espionava, e, para um homem de inteligência razoável, Noah Urrea não estava sendo muito racional ultimamente e a parte da minha vida que ele insistia em observar não era exatamente algo do que se gabar.
Marcus esperou até que eu abrisse a porta da frente para ir embora, e eu assisti ainda do lado de fora à sua partida, até que as luzes de seu carro estivessem fora da minha vista.
Final do segundo encontro.
Vamos, Shivani. Tivemos uma noite até que legal, mas não vamos sair outra vez. Ironicamente, trocar histórias de amor não correspondido e corações despedaçados não nos animou. Talvez, se eu tivesse decidido beber, a noite teria sido melhor, mas acabei me mantendo sóbria. Não sei direito, mas me sentia como se estivesse nessa jornada com Noah, e nenhum dos dois podia se dar ao luxo de fracassar.
Parecia bobo, mas era verdade. O alcoolismo não era o meu fardo e nem simbolicamente eu conseguiria aliviar o dele. Eu não podia fazer nada.
– Já pode sair. – Fechei a porta e apoiei o casaco e a bolsa na mesinha lateral. – Sei que você está aí… espionando.
– A casa é minha e eu espiono onde eu quiser. – Ele surgiu da escuridão em que a sala se encontrava, camuflado nas sombras com sua roupa preta. – E não deixa as suas coisas largadas aqui, não, leva pro seu quarto.
– Sim, senhor.
– Como foi a noite?
Até tentei disfarçar o bocejo.
– Ok. E a sua?
Noah deu de ombros, entediado.
– Assisti a um pouco de televisão
– Uhum. – Recolhi meus pertences.
Era ridículo que só ele tivesse mobília e não deixasse ninguém usar, como se manter a aparência perfeita fizesse mais sentido do que realmente utilizar algo para o que foi feito de fato. Esse homem era simplesmente ridículo.
– Vejo você pela manhã.
– Só isso?
Já pisando no primeiro degrau da escada, parei.
– Cheguei em casa inteira e cedo, logo, ele não é o maníaco do machado e você ainda não precisa procurar uma substituta. Precisa de mais alguma coisa?
– Você não se divertiu?
– O filme foi legal. Muitas explosões.
– Vocês se deram bem?
– Sim, ele é um cara legal, o único problema é que está apaixonado pela Diarra, então não é exatamente o meu tipo.
– Ah. – Contemplativo, ele veio para perto de mim, se apoiando no corrimão. Não havia se barbeado hoje, e a minha vontade de acariciar sua barba por fazer parecia irresistível. Apertei forte minha bolsa de couro, tentando manter o controle.
Tudo nele me chamava, o olhar cauteloso e curioso, seu obscuro lado gentil.
Talvez se a mãe dele não tivesse causado tantos danos em sua infância ele seria diferente, menos gasto e danificado pelo mundo, mais aberto.
Talvez, ainda, fosse um supermodelo, menos fofo e adorável. Me pergunto o que seria preciso, quantas mudanças seriam necessárias para que ele me visse de outra forma.
Ele estava a menos de dois passos de mim, mas também estava infinitamente distante.
Meu coração se partiu lentamente e senti cada pedacinho se estilhaçar e cair.
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𝐒𝐀𝐕𝐄 𝐌𝐄/𝐍𝐨𝐚𝐯𝐚𝐧𝐢 (concluída)
Fanfic"A questão é: você nunca vai ter uma vida me seguindo por aí. Você está melhor sem mim, eu sei disso e não me importo. Esse, Shivani, sou eu."