Nós poderíamos ser qualquer coisa

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A face de Lis estava pálida. Enquanto o desfile acontecia, as câmeras clicando desesperadamente, cada equipe fazendo sua parte por detrás do palco. O camarim num eterno looping desorganizado, mas que fazia parte do show. Tudo estava saindo de acordo com o planejado, menos o mal estar de Lis. Apesar dela dizer que estava bem e se manter ereta sentada ao meu lado enquanto observamos meses de trabalho sendo finalmente exposto, podia observá-la apertar a pequena bolsa que carregava consigo. 

As ultimas semanas foram corridas e eu mal tive tempo para comer. Lis em algum momento começou a não se sentir bem, mas como ela disse ter sido falta de alimentação, não me preocupei tanto. Isso acontecia. No entanto, dias após a estreia, sua face começou a parentar um mal estar permanente, nem mesmo as bases de sua maquilagem conseguiam esconder. E eu estava preocupado. 

A ornamentação do desfile estava linda. Tudo aparentava incrível. Eu geralmente não reparo nos rostos ao meu redor, a reação do público que aqui estavam eram puramente profissional. Certamente, não descarto as opiniões dos críticos, eles me fazem render na mídia, no entanto, era a recepção popular que fazia de minha marca algo válido. 

E eu estava feliz com o resultado. 

A peça completamente fora de ordem foi reutilizada e os modelos estavam fazendo seu trabalho. Eu gostava dessa sensação prismática. De um único e singelo sentimento, se espelhando em diversos outros complementares e dissociáveis. Eu fiz minha marca com Lis, acima do que ela imagina ganhar com o dinheiro, porque eu sinto prazer em  produzir. Esse era meu dom. E eu estou sendo capaz de utiliza-lo para  algo além de mim mesmo, mobilizo pessoas para tal ação. E toda vez que temos a oportunidade de expor nossas peças, esse sentimento voltava. 

- Você vai ao médico após o desfile. Eu lido com as entrevistas. Não quero me meter na sua vida, mas você sabe perfeitamente que não vai aguentar passar por essa noite. Chame seu noivo. - Sussurro contra o ouvido de Lis, essa que não se volta para me olhar, mas suas mãos espremem a bolsa em seu colo intensamente. 

Ela odiava ser mandada. Porém, eu não tinha escolhas. E ela mesma não gostaria de ser o centro das atenções por ter desmaiado no meio de seu desfile. 

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- Primeiramente eu gostaria de agradecer à todos pela sua presença. Na verdade, confesso que ocorreu um leve problema. A nossa peça central não saiu conforme o planejado e, até agora, não tínhamos enfrentado tal situação, foi um pouco difícil. E essa situação nos forçou a pensar fora da caixa. Vocês sempre nos colocaram como uma marca que tenta se "inadequar" ao adequado. Acho interessante tal afirmação, mas não é bem o que tentamos fazer aqui. A criação da M&L é sobre vontades. Eu quis desenhar e eu fiz, minha parceira de negócios, co-fundadora, Lis Thilmes, quis que meu trabalho se tornasse algo rentável para nós dois e aqui estamos. -

Eu estava acostumado a ser aquele a discursar, achava extremamente divertido. Sim, eu era consciente de meu charme e era no palco que eu decidia usa-lo. Lis me contava que se eu ativasse meu modo sedutor, a gente não precisaria ter um bom desempenho. Os rostos me encaravam de volta, grandes nomes da indústria da moda e produtores de diferentes áreas, nunca foram intimidadores, mas sim desafiadores. Você nunca vai agrada-los por completo e esse nunca será o meu objetivo. 

- Desafios é o que define nossa marca. Nós nos desafiamos em meio a indústria. Não estamos fazendo nada novo, mas estamos construindo algo subjetivo. E como esse é o nosso segundo projeto de grande escala, estou muito feliz pelo resultado. Como sempre gosto de lembrar, minhas peças não são sobre gêneros. São sobre pessoas que se sentem confortáveis em usa-los. Obrigada à todos, tenham uma boa noite. 

- Foi lindo chefe! - Agradeço a assistente encarregada de se manter ao meu lado hoje, pergunto sobre Lis e ela confirma que já deixou o prédio com o noivo, internamente relaxo, sabendo que Lis estava com alguém para vigia-la. Me concentro para enfrentar a pior parte para mim, a que vinha a seguir, socialização. 

Não que eu desgostasse, mas eram muitos sorrisos, falas prontas, flertes desnecessários. Demandavam tanto de minha energia. As entrevistas variavam em níveis grotescos de interesse, depois de responder as mesmas perguntas sob diferentes vocabulários, me despeço dos jornalistas pronto para a segunda rodada de socialização. Minha assistente me rodeia, direcionando a cada passo e com quem deveríamos conversar. Não podia reclamar, minha equipe era excessivamente eficiente. 

- Você parece cansado. - Me surpreendo ao ver Parm. Ela trajava um lindo vestido preto da altura de seus joelhos, saltos altos nada singelos, mas que a ajudavam estar mais perto de minha altura. Seus cabelos presos em um coque deixava pouco espaço para imaginação, revelando seu belo pescoço. 

- Pensei que estava em Londres. - Me sirvo de mais um drink. A festa pós evento era necessária, tinha de presentear meus funcionários e alguns nomes que a mídia se importava. Não contava com a presença de Parm. 

- Eu tive que voltar para alguns afazeres e pensei, porque não ir prestigiar Mew Suppasit em sua nova coleção? Parabéns! Eu adorei. - 

- Obrigada. Eu lembro que você ainda usa o moletom da coleção passada. - Parm solta um riso e acena. Era interessante que fossemos próximos o suficiente para eu saber que ela só agia mais abertamente assim com pessoas que ela confiava em certo nível. 

- Eu amo aquele moletom. A calça de veludo é meu mundo. - Não consigo guardar meu sorriso quando ela falava assim, de um jeito tão mais moleca. Entretanto, seus olhos mudam intencionalmente. - Quando eu gosto, eu cuido. E tenho um apreço em sempre estar utilizando. 

- É o certo quando estamos falando de roupas, não é ? - O flerte com Parm era automático, mas eu não estava sentindo vontade. 

- Claro. - Ela lambe seus lábios suavemente antes de olhar para os lados distraidamente. - Você não quer sair ? Dar uma volta? - Meus olhos se mantem firmes na mulher a minha frente. Nossa como ela sabia seduzir. Ela não precisava de muito, um sorriso leve e um par de olhos que te deixassem saber muito bem o que ela queria eram o suficientes. Se aproximando, sinto sua mão tocar meu braço, um toque suave, quase respeitoso, se eu não conhecesse seu jogo. 

Seu rosto se aproxima do meu, roçando levemente sua boca ao meu ouvido, sussurra. - Eu quero que você me foda. 

Não posso mentir e dizer que não senti nada. Meu pau se animou por alguns segundos. Quando ela se afasta carregava um sorriso alegre, contrariando a voz sexy anterior em meu ouvido. 

Mas a questão era que minha resposta natural a alguém que eu sinto atração não interferia no que eu realmente queria. Eu sentia falta de uma pessoa, que com toda certeza, não era tão feminina e pequena como Parm. E por Deus, se manteve na minha mente durante duas semanas mesmo com o tanto de coisa que me estava a par. Meu corpo buscava algo e eu não iria encontrar aqui. 




NotaS:

Vocês tem opinião sobre a Parm? 
Ou ela nem fede nem cheira? 




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