Ninguém irá descobrir

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O café onde estávamos se encontrava estranhamente silencioso para uma tarde de segunda. Após acordar decidimos comer fora, na verdade, Gulf optou por sair de casa. Diferente do dia em que ele me beijou, hoje seus olhares furtivos e falas monossilábicas deixavam claros que ele estava envergonhado. 

Não era a minha intenção ter levado as coisas desse modo quando decidi ir até seu apartamento. Eu queria vê-lo, estar perto dele. Declinar a oferta de Parm não foi nenhum sacrifício, ela não poderia me trazer as sensações que tenho quando estou com Gulf. Nada  substituiria isso. Mas quando ele abriu a porta e me deparei com os cabelos ouriçados e rosto amolgado do sono, não consegui pensar em mais nada que não fosse minhas mãos nele. 

Tentei me segurar, afinal, não tínhamos conversado propriamente após o beijo. Mas minha mente e meu corpo trabalhavam em conjunto, nenhum dos dois conseguiam tirar atenção de Gulf. Não posso ser hipócrita, o nosso beijo foi animador e eu tentei manter as lembranças afastadas durante essas duas semanas. Tudo foi por água abaixo quando estava diante dele, não era saudável ficar no mesmo espaço, minha cabeça estava nublada com tesão. Tentei me controlar o máximo que pude, suprimir aquela vontade de tomá-lo para mim. E quando ele chupou meu dedo tão fodidamente bem, seus lábios cheios prendendo meu dedo, sua língua o circulava e sugava incrivelmente forte, o contraste que era ter essa imagem e seus olhos me encarando serenos como se não estivesse fazendo nada demais. Eu já estava bem longe da sanidade. 

E agora, diante dele, o observando fazer pressão no canudo, sugando o líquido de seu milkshake, meus olhos vidrados em como ele parecia inocente, ao mesmo tempo em que minha mente borbulhava com a lembrança de seus gemidos, a forma como seu corpo procurava minhas mãos, como ele se deleitou com a minha boca no seu...

- Para com isso! - Murmura me encarando sério. 

- O que eu fiz? - Gulf suspira profundamente antes de deixar-se encostar em sua cadeira. Não me esforcei em ler suas ações. Ele me queria tanto quanto eu o queria. E a questão aqui não era essa. 

- Sobre ontem... - Sua pausa veio como uma distração, se ocupa em mexer o líquido em seu copo com o canudo. Quando levanta seus olhos de volta para mim pareciam decididos. - Vamos manter assim. 

- Assim como? - Me faço de desentendido, não conseguindo esconder o sorriso que se formava em meu rosto. Ele era tão fofo. Num dia não sente vergonha em me beijar, no entanto, no outro me olha com tanta vergonha que suas orelhas ficam vermelhas. 

- Você sabe. - Volta a murmurar. 

Não posso mentir que relutei a ele. Talvez eu estava tão centrado em não vê-lo de outra forma, que não notei o óbvio. Gulf era o tipo de pessoa que quanto mais você o conhece, mais fácil de se apaixonar. Eu deveria ter sido mais atento quando esse pensamento começou a se fortificar em mim. 

Mas agora que estávamos aqui, não tem como retornar. Eu quero Gulf. E o reconhecimento de estar fisicamente atraído, de modo tão intenso, algo que não acontece a anos, não tinha como eu deixar passar. 

- Você está envergonhado? - Sentia falta de provoca-lo, mas também precisava tirá-lo desse isolamento que ele mesmo punha ao seu redor. 

- Claro que não! Por que eu estaria envergonhado? - Como previsto, sua reação foi me atacar. Sorrio, me aproximando da mesa, depositando meus cotovelos por cima dela. 

- Não sei, talvez porque minha boca estava no seu pau essa madrugada. - Gulf arregala os olhos por uma pequena fração de segundos antes de soltar um suspiro, sua expressão mudando rapidamente para alguém que fingia estar despreocupado. Mas eu captei bem seu pânico. Nunca antes eu flertei com ele ou disse coisas baixas, essa é a nossa primeira vez, e eu estava gostando disso. 

- Você se acha, quem disse que foi isso tudo? - Seus olhos se mostravam desafiadores. Então era assim que ele fazia? Reprimo meu impulso de puxa-lo para um beijo.

- Ninguém antes reclamou de minha performance sexual. - Gulf gargalha, visivelmente mais relaxado que antes. 

- Performance sexual! Fala sério Mew. - Me deixo observa-lo, como suas bochechas aumentavam e se tornavam vermelhas pelo esforço. Assim que sua sua risada morre, Gulf me lança um ar curioso. Limpa sua garganta antes de falar. Já imaginava o que se passava com ele, mas era preciso dar seu tempo, dar espaço para que ele se sinta confortável em me dizer. - Eu nunca estive com nenhum homem antes, eu sei que para você não faz diferença, mas para mim faz. Você é o meu amigo e agora a gente... fez isso. Não quero que as coisas mudem entre nós. 

- O que você quer dizer? - Seus olhos me passavam o quanto ele sabia o que queria, entretanto, não falava. E eu não sei o motivo dele se refrear. - Eu não posso dizer que nada vai mudar G, afinal as mudanças são inevitáveis. Do que você tem medo? O que te incomoda? 

Gulf tamboriza seus dedos na mesa, mordiscando seu lábio inferior. Recuso qualquer pensamento pecaminoso. Não era a hora. 

- Eu tenho medo de estragar isso com você. - A sensação de algo fresco se espalhando por todo meu peito me deixou ansioso, mas não me atenho a isso. A coisa sobre Gulf, desde os primeiros dias de nossa amizade, era que ele sempre foi um menino suave. Apesar de por certas vezes, sua postura ser completamente brusca, ele me permitia ver esse lado mais sensível, que eu não tenho certeza se ele compartilha com outros. E eu apreciava isso, mas o olhando agora, talvez haja nele mais sentimentos do que me permita ver. 

- Não me arrependo, nem um pouco. - Afirmo o que vem solidificando em meu peito, e para deixa-lo ciente. Seu sorriso tímido me dobra e eu realmente queria beija-lo. 

- Nem eu. - Sua resposta teve resposta direta do meu corpo. Eu o queria novamente. Mas eu precisava ir devagar com ele. 

Faz tempo que sentimentos reais e atração sexual são misturados na minha vida,  geralmente, eu mantinha relações mais distantes daqueles com quem transava. Com Parm era fácil,  nós dois estávamos na mesma página, eu não precisava me importar com ela e vice versa, nos acertávamos apenas na cama. Agora, com Gulf, eu não podia agir assim. Ele não era um jogo, um flerte qualquer que eu não veria depois. 

Ele era a porra do garoto com quem eu firmei uma amizade. Quem eu gostava de estar perto, de proteger. Ele era o meu porto seguro. Ultrapassar a linha foi um erro, mas eu não posso refazer nossas ações. E não posso tratá-lo como faço com os meus amantes. Acima de tudo, eu com toda certeza não acho que estou pronto para encarar algo sério. Mas meu coração estava preso a ele, por esse motivo evitaria ao máximo não magoa-lo. Não queria ser egoísta e dizer que não poderia ajeitar essa situação de outra forma, porque sim, era possível. Mas parte de mim já havia se satisfeito ao gosto dele, como parar agora? 

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