Nós apenas tentamos manter esses segredos em uma mentira

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- Duas colheres de manteiga Gulf, você quer nos matar ? - Reviro os olhos enquanto Mew apontava o que ele entendia como uma tentativa de homicídio. 

- Faz parte da receita Mew e além do mais, você nem sabe cozinhar, por que esta aqui enchendo o meu saco ? - Murmuro jogando mais uma colher de manteiga. 

- Eu não sabia cozinhar, agora eu sei. Estou no nível básico três. - Mesmo que eu não quisesse, não iria conseguir deixar de rir com sua resposta. Basicamente, rotulamos nossos avanços em qualquer atividade que não éramos bons como se fosse o passar de fases de jogos. 

Nosso almoço saiu tranquilo, eu não queimei nada, Mew não se cortou enquanto picava os legumes. Estávamos na bancada na cozinha do Mew, nos satisfazendo com meu preparo rápido. Podia sentir os olhos dele em mim, mas evito fielmente. Focando no meu prato apenas. 

- Quer jogar ? - Encaro os olhos grandes dele e aceno em confirmação. 

Hoje era domingo, de vez em quando Mew tirava o domingo para relaxar e hoje foi um deles. Na verdade, ele não havia me chamado para estar ali, eu meio que fui por vontade própria, e conhecendo Mew do jeito que ele é, nunca que iria me despachar, mesmo quando não convidado. 

Ele trajava seu short preto e uma blusa igualmente preta de manga. Preto e rosa eram suas cores preferidas. Seus cabelos estavam bagunçados, pela ação de passar a mão por eles incontáveis vezes durante as partidas. Ele estava perdendo levemente para mim, gostava de tirar vantagens quando ganhava. 

- Que tal mais três rodadas, se você ganhar, fico te devendo uma mas se eu ganhar, você me realiza um pedido que tal ? - O número de vezes em que já fizemos isso não esta registrado. 

- Ok, Gulf. - Sua resposta veio em um tom baixo e desanimado. Sorrio mais ainda, pronto para ganhar. 

Mew era talentoso em diversas áreas, jogos de mente, principalmente, ele calculava rápido demais. Mas, não era tão ágil em campo. Ele até podia ser bom diante de outros jogadores, mas ele ficava sempre um nível atrás de mim. 

Como o esperado eu ganhei. Me espreguiço, desenrolando os nós em meus ombros. 

- O que você quer ? - Mew apoiava sua cabeça no sofá, indignado como sempre quando perdia para mim. 

- Me deixa dormir aqui hoje ? - A face de Mew se direciona a mim, seu cenho franzido. Parecia que eu acabara de dizer um absurdo. - O que ? 

- Por que quer dormir aqui ? - Não era isso que eu esperava como resposta. Mas levanto meus ombros, tentando minimizar o que seja que se passava na cabeça dele. - Esta tudo bem ? 

Sua voz desceu, do mesmo jeito que ele fazia quando estava preocupado. Reviro meus olhos com seu tamanho drama. 

- Nada Mew. Eu só queria passar mais tempo com você. - Digo enquanto reiniciava o jogo, escolhendo um personagem diferente. Conseguia ver através da minha visão periférica que ele ainda me olhava. 

- Você foi expulso de casa ? O que você fez de verdade ? Não minta para mim, não quero parar na cadeia por sua causa! - Era sempre preciso o modo como Mew conseguia retirar qualquer suspeita de sentimentalismo dos diálogos. 

- Não é para tanto. Eu sou um bom menino. - Digo o encarando. Sua resposta demora a ser replicada, mas seus olhos estavam atentos em mim. Um sorrisinho se forma na lateral direita de seus lábios. 

- Você é um bom garoto. - E ele faz o movimento que eu ao mesmo tempo que apreciava, odiava. Pôs sua mãos em minha cabeça e bagunçou meu cabelo. Mas só consegui sorrir para ele, que me lança um sorriso aberto, mostrando os dentes fofos. Ele tinha esse poder de me fazer sentir mais novo, mais indefeso. Sendo que, mesmo eu sendo mais novo que ele, de forma alguma eu  precisava de alguém para me ajudar. No entanto, lá estava eu, como um cachorrinho feliz por receber um carinho de seu dono. 

A noite veio rápido, Mew preparou seu lanche da noite, que era horrivelmente saudável. Acompanhei por costume. 

Ele me conta como estava indo certas transições, e a efetivação de dois novos designers. Sua animação me distraiu do gosto péssimo que era a aveia que comia. Mew realmente prezava seu trabalho e ele tinha uma ótima dicção, sabia perfeitamente se fazer entender. Sempre achei que um dos motivos de seu sucesso, era o modo como ele conseguia se comunicar. Era tremendo sua habilidade linguística. 

- Tem cobertores no armário, se precisar de mais. - Estávamos na porta do quarto de hospedes, que ficava num corredor adjacente ao dele. Mew segurava a maçaneta, se apoiando contra a porta, enquanto eu me mantinha a seu lado, próximo do batente. - O que foi ? Não vai entrar? 

Me viro para ele, estávamos alguns poucos e ridículos centímetros distantes um do outro. Se eu desse um passo, nossos corpos já estariam colados. Mew suspira audivelmente e solta a maçaneta, se apoiando completamente no batente. 

- Você esta estranho sabia ? Mais que o normal na verdade. Teve alguma presságio ? - Pelo o que poderia ser a vigésima quarta vez no dia, reviro os meus olhos. 

- Não. E mesmo se eu tivesse, não te contaria porque você não iria acreditar. - Murmuro emburrado. 

- Fatos. - Um sorriso aleatório surge em seu rosto. Ele soltava uns risos curtos de vez em nunca para mim. E eu nunca sabia se ele estava rindo para mim ou de mim. 

Observo quando sua mão vem de alçada em minha direção, tocando minha orelha esquerda, acariciando toda sua extensão. Nossos olhos ligados um no outro. 

- Quer dormir comigo ? - Ele pergunta e mais uma vez, o famoso risinho. 

Aceno. Pois não pensei em nenhuma palavra que servisse de sinônimo para a ação. 

- Eu não tenho gato, mas você serve como um as vezes. - Já estávamos no quarto dele, Mew retirava o lençol para podermos nos deitar por baixo. - Tão manhoso. 

- Eu não sou manhoso. - Digo me deitando na cama confortável. 

- Com toda certeza você é. - Ele volta a dizer, desligando a luz e logo se deitando a meu lado. 

Podia sentir o calor de sua proximidade. Não era a primeira vez que dormíamos juntos. E em todas elas Mew me atraia em sua direção. Em um movimento natural, mais inconsciente que consciente, me aprumo a seu lado. Mew me rodeia com seus braços. Sinto cada levantar de seu peito conforme respirava, assim como o ar que batia em frente a meu rosto. 

- Gulf ? - Mew acaricia seu nariz contra o meu. O que me fez soltar um som que o fez rir. - Ta vendo, um gatinho. 

- Cala a boca Mew, vai dormir. - Murmuro. Sendo rodeado das sensações reconfortantes que era estar assim com ele. 

- Se você estiver com algum problema, me conte ok ? Mesmo que eu não possa te ajudar diretamente, podemos arrumar um jeito. - Abro meus olhos por alguns segundos, não enxergando nada, minha visão captada pelo breu. 

- Não se preocupe. - Volta a fechar meus olhos e ponho minha mão contra o peito de Mew, sentindo seus batimentos. Me mantenho quieto, Mew não conseguia dormir se eu me movesse demais. - Boa noite.



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