E se você me conhece como eu te conheço

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- Finalmente chegamos! Sério, essa viagem foi estressante. - Deveria saber que ela estava cansada, afinal, fez o favor de passar a viagem toda acurando cada detalhe para não deixar nada passar, além de resolver os pormenores de seu casamento.

- É segunda, vamos tirar esse dia para descansar, vá para casa e não pense na empresa até as nove de amanhã, na reunião com o seu ator preferido. - Lis me encara com escárnio, ela não gostava quando citava o homem que geralmente fazia alardes para ter alguns momentos com ela.

- Aquele embuste, sorte dele que é famoso. - Murmura, com um aceno adentra no uber que estávamos esperando.

Olho meu relógio, eram 14:57, me pergunto se Gulf estaria em casa. Pego meu celular e ligo para ele. Não demora muito para atender, sua voz soava leve mas um tanto alterada.

- Mew, oi. - O jeito que ele falava o meu nome me encantava, carregado de um tom doce.

- Oi G, eu queria saber se você está em casa? Mas eu acho que não, certo. - Ao fundo podia ouvir vozes femininas o chamando, assim como buzinas. - Você está ocupado, depois eu...

- Você chegou? -

- Sim. - Na verdade, eu deveria ir para casa, estava cansado, essas viagens por mais costumeiras que fossem, consumiam minha energia. E Gulf parecia estar com os amigos, o que era bom, e eu mesmo sempre o incentivei a sair mais e ser mais comunicativo.

- Pode ir lá para casa, eu vim ao mercado, comprar umas coisas. Você comeu alguma coisa? - A preocupação na sua voz acalentou-me, o sentimento de afago em meu peito.

- Não. Você vai cozinhar para mim? - Murmuro sob a certeza da resposta. - Devo chegar ai em meia hora, quarenta minutos.

- Ok. - Gulf desliga rapidamente.

Não vou mentir, não sei se serei uma boa companhia. Mas eu realmente queria vê-lo, entregar seu presente, nem que fosse por meia hora. A presença de Gulf em minha vida tornava tudo mais simples. Era reconfortante saber que ele estava lá, com um toque ou uma mensagem, poderia alcança-lo. Ter ele possivelmente foi uma de minhas grandes conquistas pessoais, sua amizade é meu guarda-chuva em dias de tempestade.

Levou menos tempo que o estipulado, chegando ao apartamento aperto sua campainha, um tanto quanto ansioso. De onde vinha isso? Era o Gulf, porque estava tenso? A porta abre após alguns minutos, o que me levou a questionar o porque dele demorar quase cinco minutos para abrir uma porta. Mas assim que sua presença é personificada a minha frente, esqueço completamente de meu questionamento anterior.

Seu sorriso me recebe carinhosamente, não resta muito a fazer, sorrio para ele, era natural.

- Entra. -

- Desculpa vir assim, mas eu, queria te ver. - Não o olho, apenas repouso minha mala ao lado da porta. 

- Tudo bem. Se você não viesse eu iria te perturbar de qualquer modo, sabemos que você adiantou o inevitável. - Reparo no garoto a minha frente, a cada viagem que fazia, alguma coisa nele mudava, ou podia ser eu, que notava em algo novo a cada vez. - Você quer tomar um banho? 

O encaro, queria dizer que apenas passei para ver ele e sanar essa necessidade. Mas apesar de formular a frase o que sai de minha boca é o oposto. 

- Por favor, eu acho eu estou cheirando a vomito de criança. - Explico o caso da menina que vomitou ao meu lado, empesteando aquele setor com o cheiro forte mesmo após terem limpado. Por sorte foi duas horas antes do pouso. 

Gulf se aproxima, seu nariz perto de minha blusa. Ele franze a testa. 

- O seu perfume caro realmente serve como repelente. - Murmura, acenando em descrença. 

Não era suposto eu ficar por muito tempo, mas aqui estava eu, de banho tomado, descansando o almoço que Gulf preparou para gente. Suas mãos acariciando os fios de meu cabelo num movimento suave, trazendo uma sensação de tranquilidade. Era absurdamente estranho o quão confortável eu me sentia a seu lado. Eu sabia que meu estressava muito rápido, porém, Gulf tinha o efeito reverso. Apenas uma conversa, um toque, sua risada e eu me distraio de seja qual for o problema. Eu era uma pessoa fácil com minhas amizades, mas o jeito que Gulf adentrou na minha vida e criou seu espaço, foi tudo muito rápido. 

- Você se divertiu? - Sua voz me puxa do mundo dos sonhos. Murmuro alguma coisa ininterpretável. - Lá é tão bonito quanto dizem?

Aceno. 

- A chuva de estrelas a noite é perfeito. Quando você tiver um tempo livre, vou te levar. Você vai gostar. 

 Não era usual eu ir em seu apartamento, geralmente era o movimento contraio. Seu apartamento era menor, mas ajustado. Ele não era uma pessoa que prezava pela ordem, então não me surpreendi ao ver os jogos espalhados na mesa de centro da sala, seus livros de estudos empilhados perto do sofá, as roupas que eram supostas estar no armário jogadas na cama. Gulf era realmente desorganizado. 

- Você não disse que foi no mercado? - Murmuro me recordando de horas atrás, quando fui olhar à geladeira a procura de água e a encontrei parcialmente vazia.

- Eu fui com uns amigos, a gente comprou algumas coisas, nunca disse que era para minha casa. - Espertinho, não? - Você parece realmente cansado, qual o seu uso sem bateria? Vai ficar deitado no meu colo a tarde toda? 

O risinho que solta comprova o quanto ele mesmo gosta de suas piadas sem graças. 

Me afogo na barriga aconchegante. Por mais em forma e com pouca massa muscular que Gulf fosse, ele ainda tinha uma pequena elevação de gordura em sua barriga, ficava evidente após comer algo. E talvez fosse fetiche meu gostar tanto de toca-la. Esfrego meu rosto em sua camisa, respirando o seu cheiro ameno. 

- Eu te comprei um presente! - Abro meus olhos rápido demais, encontrando os de Gulf. Ignoro sua surpresa e me levanto num acesso de energia surpreendente até mesmo para mim. Seu silencio me surpreende, geralmente ele me zoaria, mas agora seus olhos focavam atentos a pequena caixa de madeira que estava em minhas mão.  - Eu não sei ao certo sobre como você pode usar, acho que seria mais útil como chaveiro, apesar de que vi algumas pessoas usando como cordão. Enfim, você que sabe. 

O observo abrir a caixa e não interrompo seu processo de observação. 

- Obrigada. - Um sorriso tímido surge em seu rosto e meu coração se aqueceu na hora. Gulf poderia ser introvertido, mas poucas eram as coisas que o faziam tímido de fato. Ao levantar seus belos olhos para mim, completo minha súbita vontade de abraça-lo. O puxo contra meu peito, o apertando com força.  - Ai Mew. Sério, me solta! 

Ignoro seu pedido e suas seguidas reclamações. Faço o que ele menos suporta, bagunço seu cabelo antes de deixar um beijo em sua testa. Seguro seu rosto entre minhas mãos e sorrio ao ver as grandes bochechas estufadas. 

- Por que você faz isso? Eu sou um cara de 23 anos! - Sorrio conforme a sua fala saiu dentre seus lábios pressionados pelos meus dedos. 

- Você é um cara de 23 anos fofo. - Ele revira os olhos mas não faz nenhum esforço para sair de meu enlaço. 

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