E amigos não deveriam me beijar como você faz

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Minha mãe nos olhava sem disfarce. Seus olhos percorriam a mim, depois a Mew, e então, tudo mais uma vez. Estávamos num desconfortável silencio. Ela abria as sacolas de comida, atenta a qualquer movimento nosso. Eu realmente não esperava a visita. Mew quase me fez desistir de atender a campainha, eu deveria ter cedido, pelo menos não estaríamos nessa situação. 

Conhecendo minha mãe, a qualquer momento ela iria começar a falar muita besteira. E eu não queria ouvir, principalmente porque minha mente ainda está matutando as questões sobre a aceitação social. Porém, era inevitável, eu não queria ser grosso com a minha mãe. E ela já sabe sobre Mew. Vi a forma infeliz que ela o olhou, e aquilo me incomodou bastante. Acho que ele percebeu também. Poucas vezes os dois se encontraram, e da última vez ela teve uma experiência um tanto que desencorajadora de nossa relação. Óbvio que não a atualizei sobre nós porque ela não quer saber. 

- Ainda bem que comprei o suficiente para três pessoas. Comam meninos. - Como uma ordem bem aceita, eu e Mew começamos a nos mover para pegar a comida disposta na bancada. Ou talvez estávamos desesperados para nos ocupar com alguma coisa. - Vocês estão juntos ?

Não sabia se era bem uma pergunta, porque soava mais como afirmação, mas decido responder. 

- Sim. Estamos. - Tento manter minha voz firme. 

- E você tem certeza disso ? - Os olhos que em muito lembravam os meus, me encaram. 

- Sim. - Minha mãe me da um sorriso, que parecia verdadeiro. E aquilo começou a me assustar. 

- Eu entendi Gulf que não importa o que eu diga, você e seu irmão fazem o que quer. Veja aonde isso nos levou, vou ter um neto. E nesse momento, estou almoçando com o namorado do meu filho. Dois homens. - Observo que Mew parecia incrivelmente tranquilo, ele comia como se não houvesse uma pessoa que visivelmente estava contra nossa relação. - Incrível como essa empresa M&L entrou na vida dos meus filhos...

Seu murmuro foi propositalmente bem entendível. Olho Mew, ele sorri para mim. Franzo minha testa completamente perdido em sua reação. 

- Gulf, isso quer dizer que eu não vou ter netos ? - Olho-a confuso. Esse monologo dela estava me deixando nervoso. - Gulf Kanawut, dois homens não podem procriar! Kio pelo menos arranjou uma mulher que possa ter filhos, e você vai me deixar sem nada! 

Me engasgo com  o pedaço de frango. Sinto as mãos de Mew acariciarem minhas costas. 

- Mãe eu não pretendo ter filhos agora! 

- E se essa relação durar o suficiente para quando chegar a hora, o que você vai fazer Gulf ? Me deixar sem netos! - O rumo daquilo parecia absurdo. 

- Senhora Kanawut, na verdade há outros meios. - Mew captura a atenção de minha mãe e a minha. Ele continua a falar de modo calmo e preciso, por pouco não o imagino em uma reunião. - Há os chamados barrigas de aluguel ou se preferir maternidade por substituição, são mulheres que aceitam engravidar com o objetivo de deixar a criança para outros pais criarem. Essa alternativa é muito requerida a pais homens que querem filhos de sua própria linhagem. 

Minha mente voou. Será que Mew já pensou sobre isso ? E se sim, não pode ter sido comigo já que mal tocamos no assunto família e muito menos depois que começamos a nos envolver intimamente. 

- Você está me dizendo, escolher uma mulher aleatória para gestar a vida de uma criança ? Sem conhecer a pessoa? - Minha mãe soava cética. 

- Sim. Mas pense comigo senhora Kanawut, mesmo que Gulf tenha uma mulher, ainda assim será uma escolha aleatória. A diferença seria que faríamos uma escolha conjunta, pensando em todos os pormenores de ter uma terceira pessoa envolvida para gestar. -  Me ocupo em beber água, minha mão olhava para Mew pensativa. Não fazia ideia do que se passava em sua mente, mas eu não estava com cabeça para lidar com isso. 

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