Você deveria me amar, você deveria saber

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- Nossa como eu senti falta disso. - Olivia devorava o pão de queijo e pimenta, ignorando qualquer etiqueta possível. - Sério, eu sou muito patriota. Odiava cada segundo do intercambio. 

Sorrio para minha prima, fisicamente ela havia mudado bastante. Os cabelos que antes eram grande e totalmente pretos, hoje estão curtos, pouco abaixo da orelha e com algumas mexas azuis. Crescemos juntos em meio a tanta competição que me dava dor de cabeça apenas por lembrar. Kio e Olivia eram os meus piores pesadelos na infância, foram com eles que ganhei meu espírito de jogador. Ela tinha a idade de Kio, meses mais nova. Perder era inadmissível convivendo com dois adolescentes maníacos. Apesar de serem extremamente nocivos em competições, Olivia e eu éramos muito próximos. Ter ela de volta no mesmo espaço me fazia feliz. 

- Então você esta oficialmente de volta? - Ela levanta seus ombros e se recosta na cadeira. 

- Não sei, será que Mew me aceita de volta na empresa? Eu meio que estou oficialmente desempregada. - Dessa vez, eu que levanto meus ombros. Olivia trabalhou por dois anos com Mew antes de iniciar seu intercambio. Na época, ela disse que era uma oportunidade, já que havia ganho uma bolsa 100% grátis e não era como se meu tio não fosse rico, ela tinha total condição de fazer o que quiser. Mas ela gostava de fazer as coisas por si mesma, sem ter de esperar pelo aval de seu pai. - Em falar em Mew, ele esta mesmo namorando a Parm? 

Meu humor tenciona tão rápido quanto a fala de Olivia assenta em minha mente. 

- Não que eu saiba. - Mew era assunto nos trends junto a sua parceira de negócios, ou isso era o que ele diz. Fotos foram vazadas dos dois em um restaurante pub, pareciam realmente estar no meio de algo. Os ângulos eram ridículos, estava óbvio que foram tiradas com o propósito de passar uma imagem de que os dois estavam de fato tendo um momento intimo. Mas isso não exclui o fato de que eles tinham intimidade. As mãos de Parm na cintura de Mew, algumas ele segurava o pulso dela, seus rostos próximos. Me aquietei pois, ele me contaria se tivesse alguém sério, disso eu tinha certeza. Mesmo assim um gosto amargo cobria meus sentidos toda vez ao lembrava daquelas fotos. 

- Incrível, sempre achei que eles iriam namorar em algum momento. Parm da em cima dele desde sempre. - Olho para Olivia que sugava despreocupadamente o resto de suco do grande copo em sua mão. 

- Parece que ele não corresponde... - Sua risada sarcástica me atina a repara-la. - O que foi isso? 

Olivia franze a testa e me encara como se eu fosse o homem mais estúpido da terra. 

- Você sabe que eles fodem a beça, né? - Ignoro o desconforto que surgiu em meio a meu peito. Desvio dos olhos de Olivia e foco no líquido escuro de meu copo. - Quer dizer, ele é um gato! E ele beija muito bem. 

- Como você sabe? - Agora era o meu tom carregado de ironia, Olivia sorri, mostrando os dentes bem alinhados. 

- Por que eu vi Gulfinho! Ele e o ex dele se pegando no escritório, foi o melhor dia naquela empresa. O jeito que ele pegava o Nick... Não é de se admirar que a Parm queira pular nele toda vez que o vê. - Ela estava sorrindo de suas lembranças, mas meu sorriso morreu no início de sua segunda sentença. Eu ouvi certo? 

- Você disse ex do Mew? Nick é o homem? - Olivia me olha desentendida. - Mew é bi? 

- Você não sabia? - Seus olhos arregalam exponencialmente pela surpresa do meu desconhecimento. Nego com um acento relutante. Ele nunca me contou sobre isso. Mew nem ao menos me disse que era bi!  - Foi anos atrás, Nick era um americano que estava passando um tempo aqui, mas ele era designer e acabou por trabalhar por meio período na M&L. Vocês estavam se conhecendo nessa época, se não me engano. O Nick era tão gato, e nesse dia eu só fui levar um relatório para Mew assinar, mas já era final de expediente. Foi tão lindo, eu fiquei presa nos dois se pegando até perceber que eu estava invadindo a privacidade. Juro, se o Mew não fosse tão chato como chefe e se ele me quisesse, eu super faria um trisal com eles. Sonhos não realizáveis. 

Deixo a notícia assentar. O incomodo continuava ali. Nós conversávamos sobre tudo, eu contava a ele tudo. Saber que ele era bi e que já teve um namorado, aquilo estava fervendo em meio a meu peito. Não era suposto amigos dividir suas experiências? Amigos de três anos não deveria saber desse tipo de informação? 

- Pela sua cara, isso significa que você e Mew ainda não estão juntos? Não rolou nada? - As vezes eu me perguntava se a mãe de Olivia teria realmente pulado a cerca. A garota era tão atípica de nossa família, seus olhos verdes era a primeira prova dentro da coletânea de olhos escuros de nossa parte e da parcela da mãe dela. Além de seus traços em nada lembrarem seus pais. Minha mãe fielmente falava disso desde que me entendo por gente. Mas minha mãe também não gostava da mãe de Oli.

- Do que você esta falando! Somos amigos. - Murmuro emburrado. Não me importava se transparecia chateado, porque eu não queria pensar no motivo e não conseguia impedir de me sentir de tal modo. 

- Ouch, você ainda é caidinho pelo Mew! Que fofo. - Talvez meu rosto aparentava chocado ou inconformado, mas Olivia abre um sorriso aterrorizador. - É um segredo? Por que se for você esconde muito mal. E nem passou pela minha cabeça que você estava tentando esconder. Eu literalmente fiquei quase um ano fora e você tá na mesma? Decepcionada amor. 

- Eu não.. eu não sei do que você esta falando. - Bebo o suco devido a repentina secura em minha garganta. 

- Você está vermelho. - Toco meu pescoço e orelha, sabendo que aquelas partes me denunciavam rápido demais. - Eu nunca disse nada porque achei que você estava tentando lidar com sua bissexualidade e meio que você namorava na época. Mas eu te conheço Gulf, eu fui a primeira pessoa que você contou sobre como perdeu a virgindade, se lembra? 

Desisto de lutar comigo mesmo. Minha mente processava as falas de Olivia ao mesmo tempo que tentava organizar meus sentimentos. 

- Você está confuso? - Não respondo, não sabia o que dizer. - Tudo bem se não quiser assumir ou falar disso, ok? Cada um tem seu tempo, eu só não sabia que você não sabia que gostava do Mew. Mas eu posso estar errada, não é? Nem tudo parece o que é. 

Apesar de sua voz estar calma e confiante, eu não acho que ela acreditava no que estava me dizendo. 

- Eu não sabia. Isso é recente, esses sentimentos. Eu não sabia que estava sendo óbvio. - Olivia passa os dedos finos em seu coro cabeludo, misturando os fios azuis aos pretos. 

- E você não vai contar a ele? - A resignação estampada em minha face. 

- Ele é meu amigo, ele não me vê assim Oli. - Ela apoia seu queixo na mão e os olhos claros focam seriamente em mim. 

- Se meus amigos me tratassem do modo que Mew te trata, eu deveria me preocupar. - Murmura.

Dispenso o pensamento dela. Sim, Mew era uma pessoa afetiva. Ele gostava de tocar, esse era seu modus operandi. Ainda mais com seus amigos próximos, não era algo exclusivo meu. E talvez fosse aí que eu entrei nessa confusão. Não eram claros meus sentimentos e ainda não são. Eu me sinto desnorteado diante deles, então prefiro os guardar, assim mantenho intacto o que eu tenho com Mew. 

Mas eu não conseguia ignorar a cólera que me subia ao lembra dele com Parm e agora, de saber que ele sente atração por homens, sua omissão acerca de sua sexualidade e o possível escanteio que poderia receber dele se me confessasse. Como eu poderia assumir algo que nem eu mesmo entendia? 

Eu sei que ele me ama e preza por mim. Porém, era mais provável ele me ver como um adolescente indefeso que ele precisa ajudar. Mew era um cuidador nato, faz parte de sua essência se preocupar e ser prestativo. Entendi nesses anos com ele que se eu precisasse de qualquer coisa, ele não mediria esforços para agradar quem ama. Seja quem for. Ganhar esse espaço no coração do Mew já era uma grande coisa, porque eu deveria arriscar por uns certos envolvimentos internos que possam evaporar com o tempo ? 

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